Não é preciso quase nada para pôr Martin Short e Steve Martin, mas também Selena Gomez, a falar. Veja-se o caso de uma curta entrevista por videochamada ocorrida em Agosto, a propósito da estreia, esta terça-feira na Disney+, da quinta temporada de Homicídios ao Domicílio — esta série cómica de mistério que os três protagonizam como um grupo de vizinhos que se juntam para investigar, em formato de podcast, os assassinatos ocorridos no prédio onde vivem em Nova Iorque, estreia três episódios de seguida.

Mal dá tempo para fazer uma pergunta e Martin Short aponta para a câmara e diz “Bill Hader“, referindo uma semelhança entre o entrevistador e o actor cómico que criou Barry. “Alguma vez lhe disseram isso?”, continua. Steve Martin, dois lugares ao lado de Short, não vê parecenças. “Acho que são os olhos, quer dizer, toda a gente se parece com ela própria, mas as pessoas perguntam sempre ‘será que aquele é o Leonardo DiCaprio?’, e não, sou eu”, remata Martin Short.

É assim a dinâmica entre os dois Martins, o do nome próprio e o do apelido, desde que se juntaram para fazer Três Amigos, a comédia de John Landis de 1986. Gomez entra na equação só em 2021, mas está totalmente no comprimento de onda das duas lendas da comédia — é impossível resumir o impacto que Steve Martin teve nessa forma de arte em termos formais —, e a química entre os três é visível ao longo da videochamada.

Em 1994, Short protagonizou Clifford, uma comédia de culto realizada por Paul Flaherty em que o actor, aos 40, faz de criança irritante de dez anos, a azucrinar o juízo de Charles Grodin, no papel de tio. Na altura, foi um falhanço, mas tem vindo a ganhar maior apreciação em anos recentes. O que é que Martin e Gomez acham do filme, pergunta-se. A actriz e cantora nunca ouviu falar. Martin, que é “um grande fã” e aproveita para rememorar, com um olhar nostálgico, Grodin, um dos seus “actores favoritos”, com quem contracenou em Os Solitários, de Arthur Hiller, explica-lhe a premissa. Sem perder um segundo, ela riposta: “Esperem, qual é a parte em que ele está a representar?” O filme conquistou a atenção de famosos como Nicolas Cage e Elizabeth Taylor, e Short lança-se numa imitação de Taylor num almoço a que foi com Martin a casa dela em 1997.

Steve Martin co-criou, com John Hoffman, Homicídios ao Domicílio —​ está também em exibição, desde o início, no cabo, no Star Crime às sextas-feiras à noite. Nenhum dos actores escreve a série, mas a dinâmica que têm a falar é reflectida nas personagens em constante despique. E há sempre referências ao seu passado. Nesta temporada, o grupo encontra mais um homicídio no Arconia, o prédio em que as personagens vivem (é sempre mostrado no final da época anterior: neste caso é o porteiro), entre a velha e nova Nova Iorque, a máfia, multimilionários (“a nova máfia”, é dito) e dedos cortados.


Nesta época, Martin, que começou no mundo do entretenimento a fazer magia na Disneyland em adolescente, faz truques de magia com as mãos. “O Johnny Carson [apresentador do Tonight Show] uma vez disse-me ao ouvido: ‘Vais fazer tudo o que alguma vez conheceste.’ E tornou-se realidade, aqui estou eu, nesta idade [80 anos] a fazer a magia que fiz aos 15. Não é bem magia, é manipulação de cartas, é fácil de perder, tive de praticar um bocadinho para reavivar.” O colega intervém: “O Steve é um excelente mágico de cartas e está sempre a impressionar jantares com um truque novo”. “Impressionar ou aborrecer?”, pergunta o amigo. “Bem, é uma combinação. O truque em si é impressionante, a forma de o pôr em prática é um bocadinho aborrecida”, acaba Short.

Tal como em episódios anteriores, Portugal é mencionado como um país estranho e remoto sobre o qual ninguém sabe nada. É mais uma deixa para pingue-pongue entre Martin e Short. “Acho que talvez Portugal represente um local muito exótico para os americanos, também me questionei sobre isso”, conta o primeiro. Short adiciona: “Como sabe, muitos americanos estão a mudar-se para Portugal”. “Li sobre uma cidade inteira ocupada por americanos”, continua o amigo. “E percebem que aí são mais felizes do que alguma vez foram”, intercede o colega. “Sim, andam num pequeno caminho e vão a um pequeno restaurante para tomar o pequeno-almoço. Soa-me óptimo”, acaba Martin.