O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou esta terça-feira que o próximo primeiro-ministro de França será Sébastien Lecornu.
Lecornu, de 39 anos, liderou o Ministério da Defesa dos últimos cinco governos (desde 2022), incluindo o último, de François Bayrou. Antes disso ocupou os cargos de secretário de Estado da Ecologia, ministro das Autoridades Locais e ministro dos Territórios Ultramarinos — é, por isso, um nome leal ao Presidente, tendo feito parte de todos os governos de Emmanuel Macron desde que este foi eleito em 2017.
A informação foi confirmada em comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu.
???? Sébastien Lecornu, nouveau Premier ministre : le communiqué. pic.twitter.com/GckWwguhr5
— Léopold Audebert (@LeopoldAudebert) September 9, 2025
Macron assegura ter dado “instruções” a Lecornu para realizar consultas com “as forças políticas representadas no Parlamento”, a fim de conseguir um acordo nacional para que seja aprovado o próximo Orçamento do Estado. O objetivo para o Presidente é alcançar “estabilidade política e institucional”, pode ler-se no comunicado.
Críticas à esquerda e à direita à nomeação de Lecornu. Macronistas e centro-direita demonstram apoio
Não é certo como irão decorrer estas negociações numa Assembleia Nacional fragmentada. Ao escolher Lecornu, o Presidente optou por manter a linha centrista ao escolher um nome ligado ao macronismo — o que lhe pode valer a oposição da esquerda (socialistas, ecologistas, comunistas e insubmissos) e da direita (União Nacional).
Bayrou caiu, mas Macron já estuda sucessor. Novo primeiro-ministro será de esquerda ou centrista?
A primeira reação veio de Marine Le Pen, líder da União Nacional, declarando que este o Presidente está “a disparar o último tiro do macronismo” e que depois das próximas eleições legislativas o novo primeiro-ministro “irá chamar-se Jordan Bardella”, em referência ao atual presidente do partido e sucessor político de Le Pen.
Le Président tire la dernière cartouche du macronisme, bunkerisé avec son petit carré de fidèles. Après les inéluctables futures élections législatives, le Premier ministre s’appellera Jordan Bardella.
— Marine Le Pen (@MLP_officiel) September 9, 2025
À esquerda, as críticas também se fizeram ouvir. O líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, foi rápido a reagir à notícia. No X, decretou que só “a partida de Emmanuel Macron” pode “pôr um fim a esta triste comédia de desprezo pelo Parlamento”.
Réponse de Macron au renversement de Bayrou : dorénavant c’est absolument comme auparavant.
Seul le départ de Macron lui-même peut mettre un terme à cette triste comédie du mépris du Parlement, des électeurs et de la décence politique.
— Jean-Luc Mélenchon (@JLMelenchon) September 9, 2025
A líder dos ecologistas também criticou a nomeação, que classificou como uma “provocação”. “Isto é um desrespeito total pelo povo francês, que não é respeitado a nível social, ambiental e democrático pela terceira vez este ano”, declarou Marine Tondelier em entrevista à BFMTV. Tondelier referia-se às nomeações de Michel Barnier e François Bayrou como primeiros-ministros, nenhum deles vindos da área da esquerda, sendo que a Frente Popular de esquerda foi a vencedora das eleições legislativas de 2024.
Mas a reação mais relevante do campo da esquerda foi a de Oliver Faure, secretário-geral do Partido Socialista. Em comunicado, Faure declarou que Macron “arrisca a legítima cólera social e o bloqueio institucional no país” ao escolher Lecornu. O socialista deu a entender que o novo Governo não deverá contar com o apoio do seu partido: “Emmanuel Macron está, portanto, a insistir num caminho no qual nenhum socialista irá participar”, afirmou, acrescentando que “sem justiça social, fiscal e ecológica, sem medidas para o poder de compra, as mesmas causas irão provocar os mesmos efeitos”.
Por outro lado, a escolha de Lecornu foi elogiada por Gabriel Attal (líder do Renascença, partido de Emmanuel Macron), que sublinhou a necessidade de “as forças políticas se unirem para providenciarem um orçamento para a França, assegurarem a estabilidade ao longo dos próximos 18 meses e garantirem que a lei e a ordem são respeitadas”.
Tous mes vœux de succès à @SebLecornu dans ses nouvelles fonctions de Premier ministre.
Avec les @DeputesEnsemble et @Renaissance, nous chercherons toujours à aller dans le sens de l’intérêt général et le soutiendrons pour cela.
Dans cette période si critique pour le pays, il…
— Gabriel Attal (@GabrielAttal) September 9, 2025
Já o líder dos Republicanos — partido de centro-direita que apoiou os últimos dois governos — disse esperar que seja possível “encontrar entendimentos”. “Acredito que há a possibilidade de construir um projeto que satisfaça aquilo a que chamo de maioria nacional”, declarou Bruno Retailleau, que, para além de líder partidário, ocupava até agora o cargo de ministro da Administração Interna.
Já o antigo líder dos Republicanos que criou um grupo dissidente e apoiante da União Nacional, Éric Ciotti, criticou a decisão e pareceu apelar a uma nova idas às urnas. “Não se mexe em equipa perdedora. A verdadeira mudança ao serviço da recuperação só chegará quando voltarmos ao povo”, escreveu no X.