Acompanhe o nosso artigo em direto sobre o conflito israelo-palestiniano

Dois dos ativistas portugueses que integram a flotilha humanitária que segue viagem até à Faixa de Gaza descreveram ao Observador o momento em que o navio Família, a principal embarcação da flotilha, foi alvo de um ataque que provocou danos superficiais no navio, que tem bandeira portuguesa. Um deles, Miguel Duarte, que se encontrava na embarcação no momento do ataque, disse mesmo que viu o drone a poucos metros da sua cabeça — isto apesar de as autoridades tunisinas, que estão a investigar o incidente, terem vindo dizer que, de acordo com uma primeira inspeção, não havia indícios de qualquer drone envolvido no ataque.

“Ontem, perto da meia-noite, eu estava no convés de um dos navios que fazem parte da ‘Global Sumud Flotilla’ [GSF] para Gaza, quando ouvi o som de um drone que se aproximava da parte de trás do navio. Levantei-me, saí debaixo da cobertura onde me encontrava e vi um drone exatamente por cima da minha cabeça”, contou Miguel Duarte em declarações ao Observador. “Chamei um colega para vir ver também. Este drone ficou alguns segundos por cima das nossas cabeças, três ou quatro metros acima. Vimo-lo muito claramente.”

“Depois, o drone afastou-se em direção à parte da frente do navio, chegando exatamente acima do convés, da parte da frente. Largou uma bomba que aterrou em cima de uma pilha de coletes salva-vidas, houve uma explosão imediata, uma labareda muito grande. Naturalmente, começou um incêndio na parte da frente do navio. Com a ajuda de extintores, conseguimos felizmente apagar o fogo em alguns minutos. Com alguns danos superficiais ao navio, mas felizmente nenhuns ferimentos para a tripulação. Toda a gente está a salvo, felizmente”, descreveu ainda o ativista.

Também a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, outra das ativistas a bordo da flotilha, explicou ao Observador que o incidente ocorreu em Tunes, na Tunísia, onde a equipa se encontra para se juntar a um conjunto de delegações que vão integrar a flotilha, bem como para “fazer alguns reabastecimentos e pequenos arranjos técnicos nos navios”. Habitualmente, explicou Mortágua, ficam sempre “equipas de vigilância nos barcos, precisamente porque no passado houve casos e relatos de ataques de drones, sabotagem de embarcações, de tudo um pouco”.

“Ontem tínhamos feito um turno. Eu e a Sofia ficámos na embarcação juntamente com a tripulação. Ontem, fizemos uma rotação de turnos, com o Miguel e outras pessoas da delegação”, sublinhou. “Foi durante a madrugada que fomos informados deste ataque. Na prática, é um drone que se aproxima e que lança um dispositivo incendiário, que causa um incêndio no navio, que foi controlado. Poderia ter tido consequências mais graves.”

Mortágua destacou também que “o importante neste momento é deixar muito claro que neste navio se encontram apenas civis e ajuda humanitária, absolutamente mais nada, e que este navio tem bandeira portuguesa e tem um cidadão português a bordo”. A líder do Bloco de Esquerda assegurou igualmente que “a missão continuará como previsto, dependendo das condições meteorológicas e do reabastecimento”.

“Não cederemos a qualquer tentativa de intimidação, venha ela de onde vier. Torna-se cada vez mais importante, no entanto, que os governos europeus, que a Comissão Europeia, que o Governo português tome uma posição. Porque estamos a falar de uma missão humanitária, pacífica, não-violenta, com civis, que está protegida pelo direito internacional”, afirmou ainda. “É importante que esta missão possa ser respeitada e protegida nos seus propósitos.”

A GSF é a mais recente das flotilhas humanitárias a tentar chegar à Faixa de Gaza. Composta por um conjunto de largas dezenas de pequenas embarcações, a flotilha zarpou de Barcelona rumo à Faixa de Gaza com um carregamento de ajuda humanitária e com a missão de tentar, simbolicamente, quebrar o bloqueio israelita ao enclave palestiniano para tentar forçar a abertura de um corredor humanitário. No passado, iniciativas semelhantes sofreram ataques israelitas ainda em alto mar. Na última tentativa, os ativistas, incluindo a sueca Greta Thunberg (que volta a estar a bordo), foram detidos por Israel e repatriados.

O incidente ocorrido ao largo de Tunes encontra-se a ser investigado pelas autoridades da Tunísia, que, numa primeira fase, rejeitaram que tivesse havido ataque de drone contra o navio da flotilha humanitária. De acordo com a BBC, a guarda nacional tunisina revelou que não foi detetado qualquer drone e que os dados resultantes de uma primeira inspeção dão conta de que a explosão terá tido origem dentro da própria embarcação.

Flotilha ativista que se dirige para Gaza difunde vídeo com ataque de drone a um navio

Continua a decorrer uma investigação ao incidente. As declarações das autoridades tunisinas parecem contradizer não só os relatos dos ativistas, mas também alguns dos vídeos divulgados pelo grupo. Num desses vídeos é possível ver um projétil cair no navio e dar início ao incêndio.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, disse esta terça-feira estar a recolher mais informações sobre a situação do navio. Em declarações em Pequim, questionado por jornalistas portugueses, o primeiro-ministro disse: “As informações são muito limitadas, não poderei acrescentar nada mais que não o facto de ir recolher mais conteúdo informativo para poder depois emitir mais alguma informação”.

O Observador questionou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (que no passado já tinha dito que não tinha responsabilidade sobre a proteção da flotilha) sobre esta matéria, mas o gabinete de Paulo Rangel remeteu para as declarações de Montenegro e também para o Ministério da Agricultura e do Mar, que tutela as embarcações com bandeira portuguesa. O Observador questionou também este ministério, não tendo tido resposta até agora.