O acordo comercial alcançado entre a Comissão Europeia e a Administração Trump no domingo, que elevou as taxas aduaneiras das exportações da União Europeia (UE) para os Estados Unidos para 15%, foi recebido de forma diferente por vários protagonistas europeus.

Uns consideram-no um desfecho preferível à proposta inicial norte-americana de impor tarifas de 30% aos produtos europeus e de desatar uma guerra comercial entre os dois blocos, outros entendem que a Europa sai derrotada do processo.

Enquanto o chanceler alemão, Friedrich Merz, salientou que o acordo entre Bruxelas e Washington “evitou um conflito comercial, que teria afectado duramente a economia alemã, orientada para a exportação”, e que, tanto na Europa como nos Estados Unidos, consumidores e empresas beneficiam de “relações comerciais estáveis e previsíveis”, o primeiro-ministro francês, François Bayrou, afirmou que o acordo comercial marcou um “dia sombrio” para a Europa.

“É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar os seus valores comuns e defender os seus interesses comuns, se resigna à submissão”, escreveu Bayrou na rede social X.

Vários ministros franceses fizeram eco deste desagrado. O ministro do Comércio Laurent Saint Martin disse esperar que o sector de bebidas alcoólicas do país seja isento de um acordo comercial que representa, na prática, uma subida de mais de 900% face à taxa média de 1,47% que era aplicada à generalidade das exportações europeias para os Estados Unidos.

Saint Martin considerou o acordo “desequilibrado”, em linha com os comentários de outros governantes franceses citados pela Reuters. “O acordo comercial negociado pela Comissão Europeia com os Estados Unidos trará estabilidade temporária aos agentes económicos ameaçados pela escalada das tarifas americanas, mas é desequilibrado”, escreveu o ministro dos Assuntos Europeus francês, Benjamin Haddad, no X.

O ministro da Indústria Marc Ferracci esclareceu que serão necessárias mais negociações, de semanas ou meses, antes que o acordo possa ser formalmente concluído, e considerou que será necessário fazer mais para reequilibrar as relações comerciais da UE com os EUA. “Isto não é o fim da história”, afirmou.

Outra das vozes críticas foi a do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que considera que o entendimento europeu com Washington é pior do que aquele que foi fechado entre o Reino Unido e os Estados Unidos.

Num comentário citado pela Reuters, Orbán afirmou que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não foi uma adversária à altura de Donald Trump neste braço-de-ferro que se prolongou durante três meses.

“Isto não é um acordo… Donald Trump devorou Von der Leyen ao pequeno-almoço, foi isso que aconteceu e que suspeitávamos que iria acontecer, uma vez que o Presidente dos EUA é um peso-pesado quando se trata de negociações, enquanto a senhora presidente [da Comissão] é um peso-pluma”, afirmou o chefe do Governo húngaro.

Em sentido contrário, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, qualificou o acordo como “positivo” e disse que “uma guerra comercial [entre os dois blocos] teria efeitos devastadores”.

Citada pelo jornal La Repubblica, a governante descreveu os direitos aduaneiros de 15% como “sustentáveis”, mas frisou que “é preciso lutar pelas isenções” e que a “UE não deve perder mais tempo”.

O primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, destacou o facto de o acordo vir “encarecer e complicar o comércio com os Estados Unidos”, mas reconheceu que cria “uma nova era de estabilidade que, com sorte, contribuirá para uma relação crescente e mais profunda” entre os dois parceiros comerciais.

Tendo em conta que existia “um risco muito real de uma escalada e de imposição de taxas punitivas, esta notícia será bem recebida por muitos”, afirmou o governante irlandês, citado pela Europa Press.

“O melhor seria que não houvesse tarifas, mas o acordo traz mais clareza às empresas e maior estabilidade aos mercados”, concordou o primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof.

No jornal alemão Bild, o líder do grupo do Partido Popular Europeu (PPE) no Parlamento Europeu, Manfred Weber, afirmou que o “resultado é certamente melhor do que muitos temiam” e “dá segurança de planeamento à economia europeia”, evitando “graves prejuízos para os trabalhadores e as empresas”.

Contudo, Weber diz que o acordo serve “apenas de controlo de danos” e que o bloco europeu tem de “continuar a trabalhar em acordos comerciais com outras regiões do mundo” e consolidar definitivamente o mercado interno.