A Polónia acordou com vários drones a entrarem no seu território ao longo de várias horas — e o cenário pode não ser totalmente novo, mas a escalada é inédita. Que se saiba, e para já, os aparelhos — que a Polónia e NATO dizem serem russos — provocaram estragos no telhado de uma habitação no sudeste do país, não tendo causado vítimas, somente danos materiais.

A população foi avisada, via SMS, para não se aproximar dos destroços de drones abatidos caso os encontrassem e o Governo polaco decidiu ativar o Artigo 4.º da NATO, que prevê uma consulta entre países-membros, reconhecendo assim a forte ameaça que lhe foi dirigida provavelmente pela Rússia.

As autoridades europeias concordam com a gravidade da invasão aérea. A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, defendeu esta quarta-feira que a queda de drones na Polónia tem de motivar uma “resposta muito forte” por parte do bloco comunitário, considerando aquilo que aconteceu esta madrugada um game changer para a atuação futura da União Europeia.

A Rússia está a escalar deliberadamente. Temos de ser muito firmes”, apelou Kallas, em Estrasburgo, após o discurso de Ursula von der Leyen do Estado da União, no Parlamento Europeu. Confirmando, como já tinha sido avançado, que os drones que sobrevoaram o espaço aéreo polaco foram “abatidos”, a diplomata garantiu que a União Europeia “tem de fazer mais” para evitar situações como esta.

Antes já Ursula von der Leyen tinha considerado que o ataque na Polónia “foi sem precedentes”, demonstrando total solidariedade para com o país. Mas o que significa o acionamento deste artigo 4º do tratado da NATO? Que dúvidas restam da proveniência dos drones? E o que vão fazer a seguir os aliados? Respondemos a cinco questões.

Foi Donald Tusk, o primeiro-ministro polaco, quem afirmou que o Exército da Polónia registou 19 incursões de drones no espaço aéreo do país durante a noite de terça-feira e a madrugada desta quarta. São do tipo Shahed-136, de fabrico iraniano e amplamente utilizados pela Rússia contra a Ucrânia. Este tipo de drones já foi classificado por especialistas como “letais, baratos” e usados em larga escala nesta guerra: o Exército de Putin consegue lançar mais de 500 aparelhos contra a Ucrânia numa noite, disparando autênticos enxames deste tipo de dispositivos.

O seu custo de produção é relativamente baixo — cerca de 20 mil euros — tendo em conta que podem atingir alvos muito importantes e causar danos em larga escala em centrais elétricas, depósitos de combustível ou em empresas de tecnologia. Para serem abatidos pela Ucrânia através de um míssil de defesa anti-aérea, este último será necessariamente mais caro do que o drone, transformando estes Shahed-136, em grande número, em armas difíceis de gerir logisticamente.

Dos quase 20 drones a entrar indevidamente no espaço aéreo polaco, pelo menos três foram abatidos por aeronaves polacas e da NATO, que foram acionadas para lidar com a ameaça. Há relatos não oficiais que contabilizam um quarto drone que terá sido atingido às 6h45, hora local (5h45 em Lisboa).

Sobre a sua proveniência, nas primeiras horas da manhã, um diplomata russo, Andrei Ordash, citado pela RIA Novosti, garantia que os drones abatidos na Polónia vinham da Ucrânia, informação prontamente negada por Volodymyr Zelensky.

Depois disso, a Bielorrússia chegou-se à frente para garantir que pelo menos “alguns” dos vários drones que invadiram o espaço aéreo da Polónia teriam vindo do seu território. O ministro-adjunto da Defesa do país — que é aliado da Rússia —, Pavel Muravyeika, indicou que alguns dos drones bielorussos “perderam-se no seu caminho” e acabaram por entrar, acidentalmente, na Polónia.

Mais tarde, foi o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, a afirmar que eram russos os drones que violaram espaço aéreo da Polónia, garantindo que está em curso uma “investigação completa” que deverá revelar todas as circunstâncias do incidente e destacar a “operação muito bem sucedida, por parte da NATO, na defesa do espaço aéreo” dos seus Estados-membros.

A Rússia, para já, opta pela fórmula que lhe é familiar: nem confirma nem desmente. O Ministério da Defesa disse que “não havia planos para atingir quaisquer alvos no território da Polónia”, sem negar definitivamente que os seus drones tenham invadido o espaço aéreo polaco.

A verdade é que em pelo menos sete localidades da Polónia foram descobertos drones ou partes metálicas dos seus destroços, de acordo com a Associated Press que cita autoridades polacas para mencionar os locais já sinalizados: Czosnówka, Wyryki, Wohyn, Krzywowierzba-Kolonia, Cześnik, Myszków e Wielki Lan.