Com os olhos numa vitória nas eleições de 12 de Outubro, candidatos do PS vão assinar compromisso em como não farão acordos pós-eleitorais com o Chega e perderão a confiança do partido se desrespeitarem a ordem.
As eleições autárquicas são daqui a um mês. Ganhar o Porto ou Lisboa, ou manter Sintra, Amadora e Gaia são vitórias políticas fundamentais?
Concorremos às autárquicas para ganhar. Ganhar é termos mais votos, mais câmaras, mais assembleias, mais juntas de freguesia. Esse é o nosso objectivo político e eleitoral e está ao nosso alcance. Estamos a mudar de ciclo, há 50 autarcas do PS que concluem os 12 anos de mandato e é importante termos nas câmaras municipais perfis de liderança que ajudem a concretizar os objectivos de desenvolvimento do país.
Nessa mudança de ciclo o Chega que pode provocar danos…
O Chega tem fragilidades que se detectam a olho nu. É um partido que vai buscar 35 deputados que há três meses tomaram posse na Assembleia da República e agora são candidatos às câmaras municipais. De duas uma: ou estão a ofender a confiança que os cidadãos depositaram em si ou não acreditam na vitória nas autárquicas.
O PS também fez isso com as europeias e com as legislativas…
Não fez agora.
É um argumento frágil.
Não, é muito forte. Uma coisa é termos três ou quatro deputados que se candidatam a funções autárquicas quando até haja um percurso de relação com o território. Outra coisa é pegarmos em mais de metade dos deputados [do Chega] e candidatá-los às câmaras. Outra fragilidade é ter autênticos pára-quedistas que caem nos territórios.
Não está preocupado com os estragos que o Chega possa fazer ao PS?
A minha concentração fundamental é nas propostas e nos candidatos que apresentamos aos eleitores.
Mas proibiu acordos com o Chega.
A nossa posição é clara e ficará expressa no compromisso que será subscrito na convenção autárquica: candidatos nossos que estabeleçam acordos com eleitos do Chega perderão a confiança política do PS.
E se esse acordo for imprescindível para manter a governabilidade numa autarquia?
A câmara continuará a ser governada; não é governada é com autarcas que tenham a confiança do PS. Esses autarcas deixam de representar o PS, mas isso não obriga a que renunciem às funções.
Portanto, está disposto a perder lideranças autárquicas para manter esse compromisso?
É um princípio para salvaguardar e para ser assegurado enquanto eu tiver responsabilidades políticas no PS.
Se perder as autárquicas, fica um secretário-geral fragilizado.
Fragilizado como se estou convencido que o PS vai ganhar as eleições?
Na noite eleitoral saberemos qual é a estratégia do PS para as presidenciais?
Na noite das eleições, não. Saberão depois com a convocatória da Comissão Nacional que compete ao presidente do partido.
O mais certo é o PS ter de vir a apoiar António José Seguro?
Eu não colocaria os termos verbais em “ter de”. António José Seguro tem vindo a capitalizar apoios locais, distritais, regionais e nacionais do PS. Isso é resultado do seu mérito, qualidades pessoais, experiência política.
Corrigindo: é cada vez mais inevitável que o PS apoie Seguro?
Se me pronunciasse sobre a inevitabilidade de uma pronúncia que compete à Comissão Nacional estava a substituir-me à Comissão Nacional. Mas torna-se cada vez mais natural a sua candidatura no espaço do centro-esquerda. Há outro elemento que deve ser sublinhado: ele foi um secretário-geral do PS e, portanto, esse facto também contará.
Haverá sempre apoio do PS a uma candidatura?
O mais natural é que assim seja, mas vamos aguardar pela expressão dessa vontade. Tenho o dever de ser o fiel da balança e de conseguir corresponder à interpretação da vontade colectiva do PS, manter a unidade estratégica e aparecer forte e mobilizado nas eleições autárquicas.
Sobre a organização interna do PS: há dúvidas sobre se está a completar um mandato ou num novo. É preciso voltar às urnas para eleger o secretário-geral antes do congresso de 2026?
Não me tenho concentrado um minuto sobre essa matéria, mas se essa for a conclusão dos órgãos estatutários do partido, com certeza que cá estarei para me submeter às eleições.
Se for de novo a eleições poderá ter concorrência…
São assuntos que deixarei para 2026. Já tenho aqui assuntos suficientemente importantes para aquilo que é o serviço ao país.