Para as estrelas de Hollywood Matthew McConaughey e Jamie Lee Curtis, fazer um filme de ação sobre o incêndio florestal mais mortífero da história da Califórnia é algo muito pessoal.

“The Lost Bus” (“O Autocarro Perdido”, em tradução literal) conta a angustiante história verídica do motorista de um autocarro escolar que arriscou a vida para salvar 22 crianças do incêndio que destruiu a cidade de Paradise em 2018.

A estreia mundial do filme, que teve lugar no Festival Internacional de Cinema de Toronto, a mais importante montra de cinema na América do Norte e plataforma para as campanhas aos Óscares, acontece numa altura em que Los Angeles recupera de mais incêndios mortais no estado do oeste dos EUA, devastado pelo fogo, cujas imagens voltaram a chocar o mundo em janeiro.

McConaughey, que viveu durante anos em Malibu, repetidamente atingida por incêndios, disse que retratar acontecimentos tão atuais e reais é uma “responsabilidade e honra” extra.

“Este será um filme de ação intensa, urgente, de âmbito épico, sobre o fogo ser um predador, como nunca antes visto no cinema. E será uma história profundamente pessoal.”

Curtis — que ajudou a levar o filme para o grande ecrã e é produtora — vive no bairro de Pacific Palisades, que foi destruído pelo incêndio deste ano.

Embora a sua casa tenha sobrevivido, sofreu danos profundos e só recentemente a atriz conseguiu regressar.

“Há uma semana, mudámo-nos, antes de eu vir para aqui”, disse à agência France-Presse (AFP) antes da estreia em Toronto a 5 de setembro.

“É um filme difícil para quem já viveu ou convive com a ameaça de incêndio.”

“Aquecimento global”


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McConaughey interpreta Kevin McKay, um herói relutante e cheio de falhas que se voluntariou para resgatar crianças abandonadas numa escola, mesmo temendo pela sua própria família nas chamas que assolavam a sua cidade natal, Paradise.

“The Lost Bus”  tem o ritmo de um ‘thriller’ de ação, e os atores contracenaram na maioria das cenas perante chamas reais. O fogo crepitante e as faíscas nas linhas de energia acrescentam um elemento de horror, especialmente porque o espectro da morte é bastante real.

No final, 85 pessoas morreram no incêndio de Camp Fire.

Jamie Lee Curtis no Festival de Toronto a 6 de setembro de 2025
EPA/EDUARDO LIMA, Lusa

Curtis decidiu transformar a história de McKay num filme depois de ler o livro da jornalista Lizzie Johnson, “Paradise: One Town’s Struggle to Survive an American Wildfire” (“Paraíso: A Luta de uma Cidade para Sobreviver a um Incêndio Florestal Americano”, em tradução literal).

Enviou o livro ao também produtor Jason Blum, com quem trabalhou na recente trilogia “Halloween”, dizendo-lhe: “Esta será a coisa mais importante que qualquer um de nós fará na indústria cinematográfica nas nossas vidas”.

Embora McConaughey e Curtis — ambos vencedores de Óscares — insistam que o filme “não é político”, contém um momento em que um chefe dos bombeiros diz aos jornalistas que, com os incêndios a tornarem-se mais frequentes e mortíferos, “estamos a ser muito idiotas”.

“A palavra ‘aquecimento global’ não entra no filme”, ​​diz Curtis. “É um filme sobre o motorista de um autocarro escolar e uma professora.” (papel de America Ferrera).

“Mas a realidade é que isto acontece repetidamente, e qual é o elo comum? O elo comum é óbvio.”

Herói ou não?


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Para McConaughey, “há alguns factos que se destacam” no filme, que selecionou vários bombeiros e socorristas a sério do incêndio de Camp Fire  para se interpretarem a si próprios.

“Esta empresa acabou por pagar bastante dinheiro por este incêndio em particular”, observa.

O ator refere-se à concessionária de serviços públicos PG&E, cujas linhas de energia foram responsabilizadas pelo incêndio, que pagou mais de 13 mil milhões de dólares às vítimas (mais de 11 mil milhões de euros à cotação do dia) e declarou-se culpada de homicídio voluntário.

Este o primeiro filme de McConaughey como protagonista em seis anos — uma ausência durante a qual explorou a política, chegando a ponderar uma candidatura ao governo do Texas que ainda não se concretizou.

Em vez disso, “apanhou o bichinho da escrita”, escrevendo um livro de memórias que se tornou um ‘best-seller’ e tem um novo de poesia previsto para este mês.

“Qualquer tempo bem aproveitado com outra vocação, ou a criar algum tipo de arte ou a passar tempo com a família, amadurece-se como ator quando se regressa ao ecrã”, disse.

Foi atraído de volta pela presença do realizador Paul Greengrass, que já dramatizou raptos de piratas reais (“Capitão Phillips”) e ataques terroristas (“Voo 93”), além de ter dirigido filmes da saga “Jason Bourne”.

McConaughey reuniu-se com o McKay da vida real e disse que toda a experiência o fez refletir sobre “a definição de longa data do que raio é um herói ou não?”.

“Não sei. Mas parece haver definitivamente um ato heróico, ir em direção a uma crise em vez de fugir dela”, disse em Toronto.

“The Lost Bus” estreia nos cinemas da América do Norte a 19 de setembro e chegará à Apple TV+ em outubro.