Ao TEK Notícias, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), avança que embora exista um “parque digital imenso, com milhares de computadores”, muitos precisam de ser consertados e estão “num espaço a aguardar melhores dias, porque não funcionam”.

A falta de técnicos de informática, que apoiem as escolas no arranjo dos equipamentos, continua a ser um dos principais problemas. “É verdade que o Ministério da Educação atribuiu algum dinheiro no ano passado às escolas para nós os consertarmos, mas muitas vezes são preços enormes e esse valor é insuficiente”, afirma Filinto Lima, acrescentando que continuam a ser feitos apelos ao Ministério na esperança que a situação mude.

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No caso das pequenas avarias e falhas mais ligeiras nos computadores, os professores de TIC e Informática acabam por ser “pau para toda a colher”, conta o presidente da ANDAEP.

“Mas [os professores] não têm horas para isso. Não têm horas para o fazer: um professor de TIC dá aulas, não é um técnico de informática e não tem obrigação de estar a arranjar computadores”, enfatiza.

Não é só nos computadores onde há problemas. “Em muitas escolas, a rede Wi-Fi não é fiável”, afirma Filinto Lima. Como explica, esta situação leva muitas vezes a que os professores tenham de levar planos de aula adicionais mais “à moda antiga” para usar quando aqueles que tinham preparado com recurso à Internet não podem ser implementados. “Isto é inadmissível, porque duplica o trabalho dos nossos professores”, defende.

Segundo o presidente da ANDAEP, fazer “um novo levantamento para perceber quantos computadores e quantos kits digitais faltam nas escolas públicas neste momento” deve afirmar-se como uma prioridade para o Ministério da Educação, à qual se junta o reforço da rede Wi-Fi e um investimento que permita “fazer chegar às escolas, no mais curto espaço de tempo possível, a figura do técnico de informática”.

“Não podemos diabolizar os computadores nem os telemóveis”

Embora reconheça a importância do investimento feito nos últimos anos nos kits Escola Digital, Filinto Lima alerta para os desafios. “O digital é um material que, no prazo de dois a três anos fica desatualizado, sabemos disso. Há, portanto, que atualizar esse material”.

Mas a questão vai para lá dos equipamentos em si, prendendo-se também com o uso pedagógico que lhes é dado, sobretudo, numa altura em que se repensa a utilização do digital em contexto de sala de aula, seja na Europa como em Portugal.

“Nos manuais digitais, o próprio Ministério pôs um travão ao nível do primeiro ciclo e impôs algumas condições nos ciclos seguintes”, lembra o responsável. Por outro lado, Filinto Lima defende que não se deve cair em extremos.

“O digital é o material do futuro: não podemos diabolizar os computadores nem os telemóveis. Temos é de lhes dar a devida atenção em contexto de escola”, afirma.

Quanto ao impacto nas aprendizagens, o balanço é misto. Embora note que os alunos estão mais preparados digitalmente, ainda se notam dificuldades transversais aos ciclos de ensino no uso dos computadores e da tecnologia como ferramenta de trabalho, indica o responsável.

É nisto que nós temos que insistir e é nisto em que as escolas também gastam as suas energias, para que os alunos possam usar o computador para trabalho, enquanto instrumento que vão usar para toda a vida”, realça.

O debate sobre o uso de telemóveis nas escolas tem sido um dos grandes temas deste regresso às aulas. Recorde-se que já este ano letivo, os alunos do 1.º e 2.º ciclos vão deixar de poder usar telemóveis na escola. A medida, aprovada em Conselho de Ministros no início de julho, chegou com recomendações, mas também com excepções.

À medida que as escolas estão a “operacionalizar a medida do Governo”, Filinto Lima afirma que, no primeiro ciclo, a presença destes dispositivos era mais residual, mas no segundo ciclo, os alunos já “usavam bastante” e vão sentir mais a mudança de paradigma.

Em relação aos ciclos seguintes, o presidente da ANDAEP avança que “as escolas estão neste momento a ouvir as comunidades”, entre estudantes, pais e funcionários, para tomarem as medidas mais adequadas.