As organizações israelitas B’Tselem e Médicos pelos Direitos Humanos acusaram esta segunda-feira o governo israelita de cometer genocídio na Faixa de Gaza, sendo a primeira vez que organizações não-governamentais (ONG) do país criticam desta forma a ofensiva de Telavive.
“Neste momento, é especialmente importante chamar as coisas pelo nome”, disse a representante da Médicos pelos Direitos Humanos (PHRI, na sigla em inglês) Daphna Shochat, numa conferência de imprensa em Jerusalém para apresentação de um relatório do grupo que analisa a situação médica no enclave.
De acordo com a análise, as consequências médicas da ofensiva israelita cumprem os requisitos para que a situação seja considerada como um genocídio, segundo a Convenção de Genebra.
A página oficial da B´Tselem apresenta en letras bem grandes o títudo do documento “Our Genocide“
O relatório da B´Tselem intitulado “O Nosso Genocídio” considera que a realidade que está a acontecer no enclave palestiniano “não deixa outra alternativa senão reconhecer a verdade: Israel está a cometer genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza”, reitera por seu lado a diretora executiva da B’Tselem, Yuli Novak.
Novak questiona como pode a sociedade israelita ser “capaz de apagar a humanidade das pessoas e perder toda a empatia e obrigações morais” através deste “longo processo de desumanização dos palestinianos”.
“É uma combinação aterradora de circunstâncias que nos leva à realidade que todos vemos hoje”, acentuou. O grupo sublinha ainda que existe o risco de o genocídio se propagar a toda a população palestiniana.
No relatório “O Nosso Genocídio”, a B’Tselem citou os efeitos devastadores da guerra de Israel contra os palestinianos, inumerando a morte de dezenas de milhares de pessoas em Gaza, a destruição de enormes áreas de cidades palestinianas, o deslocamento forçado de quase todos os dois milhões de habitantes de Gaza e a restrição de alimentos e outros bens vitais.
No somatório desta conduta, a campanha militar israelita equivale à “ação coordenada para destruir intencionalmente a sociedade palestiniana na Faixa de Gaza”, escreveu a organização.
Daphna Shochat, da Physicians For Human Rights – Israel, acompanhada pela presidente da B’Tselem, Orly Noy, e outros elementos das ONG durante a conferência de imprensa, em Jerusalém Oriental, realizada por grupos israelitas de Direitos Humanos para divulgar o relatório “Our Genocide” | Ammar Awad – Reuters
Israel continua a negar que o cero e ofensiva em Gaza seja contra o povo, mas antes contra o Hamas, discordando veementemente da descrição de que os ataques equivalem a um genocídio. Telavive argumenta que o Hamas procura destruir o Estado israelita e que esta guerra é a resposta à agressão de outubro de 2023.
Os grupos israelitas de Direitos Humanos rebateram que esses argumentos do Governo não poderiam “explicar a morte e destruição desenfreadas em Gaza”.
“A alegação de Israel de que os combatentes do Hamas ou membros de outros grupos palestinianos armados estavam presentes em instalações médicas ou civis, frequentemente sem fornecer nenhuma prova, não pode justificar ou explicar a destruição generalizada e sistemática”, escreveu a B’Tselem.
“O relatório que hoje publicamos é um documento que nunca imaginámos que teríamos de escrever”, reiterou Novak.
“O reconhecimento de que o regime israelita está a cometer genocídio na Faixa de Gaza e a profunda preocupação de que esse genocídio possa expandir-se para outras áreas onde os palestinianos vivem sob o domínio israelita exigem ação urgente e inequívoca da sociedade israelita e da comunidade internacional e o uso de todos os meios disponíveis sob a lei internacional para impedir o genocídio de Israel contra o povo palestiniano“, remata o relatório.