Recentemente, o projeto “CancerCareTech: Plataforma Integrada de Monitorização do Processo de Reabilitação de Crianças com Cancro Cerebral” foi premiado com uma bolsa de investigação atribuída pela LPCC e Lions Portugal. Como tal, Cláudia Quaresma, líder da equipa de investigação, explica todo o processo, quais os próximos passos e o que pretendem concluir com este estudo. Leia o artigo de opinião.
A ocorrência de cancro numa criança constitui um evento de enorme impacto, não apenas clínico, mas também social e familiar. Em Portugal, cerca de 14% dos casos de cancro pediátrico correspondem a tumores cerebrais, os quais frequentemente originam sequelas motoras permanentes. Apesar dos avanços médicos terem aumentado a sobrevivência, a atenção dirigida à reabilitação das funções motoras nestas crianças permanece limitada quando comparada com o foco atribuído ao tratamento oncológico em si.
A reabilitação motora em Oncologia pediátrica é fundamental não apenas para a recuperação funcional, mas também para apoiar a reintegração social e escolar, promovendo bem-estar psicológico e emocional da criança e da sua família. Contudo, a ausência de ferramentas integradas de monitorização, capazes de acompanhar de forma contínua e objetiva o processo de reabilitação, constitui uma lacuna evidente no panorama atual dos cuidados.
Foi desta lacuna que nasceu o projeto “CancerCareTech: Plataforma Integrada de Monitorização do Processo de Reabilitação de Crianças com Cancro Cerebral”. O consórcio é liderado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa – NOVA FCT, em estreita parceria com a Unidade Local de Saúde de São José – Hospital D. Estefânia, reconhecida pela sua experiência em reabilitação pediátrica, e com o Value for Health CoLAB, especializado em avaliação de impacto em saúde e análise custo-benefício.
A equipa é constituída por investigadores, engenheiros, médicos, fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e neurocirurgiões, assegurando uma abordagem verdadeiramente multidisciplinar. Desde o início, a metodologia adotada baseia-se na co-criação, envolvendo não apenas profissionais de saúde, mas também pacientes e cuidadores, garantindo que a solução desenvolvida correspondesse às necessidades reais dos utilizadores.
Entre os sinais recolhidos incluem-se a atividade cerebral (EEG), muscular (EMG) e eletrodérmica (EDA), fundamentais para compreender as respostas neurofisiológicas ao longo do processo de reabilitação, permitindo igualmente a comunicação entre os diferentes profissionais e os prestadores de cuidados.
As atividades foram organizadas em seis eixos principais: definição de requisitos, com base na co-criação com stakeholders; desenvolvimento e teste do protótipo (arquitetura de software, base de dados e interfaces); testes piloto em contexto laboratorial; aplicação em contexto clínico real, com recolha e análise de dados clínicos e neurofisiológicos; avaliação de valor para a saúde; disseminação dos resultados, incluindo a realização de um workshop final.
Com a atribuição da “Bolsas de Investigação Médica LPCC/LIONS PORTUGAL – Cancro Infantil”, será possível desenvolver e testar a plataforma, otimizando a monitorização, facilitando a comunicação entre equipas de saúde e cuidadores e apoiando a personalização das intervenções com base em evidência objetiva.
O CancerCareTech posiciona-se como uma resposta inovadora para transformar a reabilitação em Oncologia pediátrica. Ao disponibilizar gratuitamente a plataforma a instituições de saúde, promove-se a equidade no acesso a cuidados inovadores, contribuindo para a implementação de práticas de saúde baseada em valor e apoia uma abordagem mais holística e inclusiva ao tratamento das sequelas motoras.
Ao colocar a criança e a sua família no centro do processo, o projeto melhora a qualidade de vida dos doentes, fortalece a integração social e escolar, e cria um modelo replicável e sustentável, alinhado com a Estratégia Nacional de Luta Contra o Cancro, o Plano Europeu de Combate ao Cancro e a Missão Cancro da Comissão Europeia.
Assim, o CancerCareTech representa um passo decisivo para uma reabilitação mais personalizada e inclusiva, capaz de mudar significativamente o panorama atual dos cuidados prestados a crianças com cancro cerebral.