O pai de Ana Lemos, um jornalista que viajava pelo mundo, trazia sempre lembranças dos países por onde passava. A mãe, por sua vez, “tinha um forte gosto por arte e design”, trazendo sempre alguma memória — sob a forma de objetos — dos locais onde passavam férias. Defendia que era uma forma de lembrar para sempre aquele momento.
Foi sem grande surpresa que a jovem, atualmente com 28 anos, desenvolveu um gosto apurado por decoração, mais precisamente por móveis vintage. Primeiro, tornou-se “uma acumuladora” de todo o tipo de artigos e, mais tarde, decidiu ser designer de interiores a tempo inteiro.
Já são mais de 10 anos de experiência em projetos residenciais, comerciais ou de hospitality. Pelo meio, colaborou com alguns artistas e marcas portuguesas, de áreas tão distintas, como moda e arquitetura, entre as quais destaca colaborações com a Salsa Jeans ou o Studio Astolfi.
“O que se segue?”, terá perguntado, várias vezes, a criativa. A resposta surgiu quando percebeu que queria criar um ponto de encontro entre a sua profissão e “os tesouros” que recolhe, como explica à NiT, com foco em “objetos que contam histórias e que nos transportam para outros tempos e lugares.”
Este plano ganhou forma, nome e transformou-se na House of Nomad, um catálogo cheio de peças únicas que escolhe a dedo em mercados e oficinas. Esta oferta é complementada pela HON Studios, um estúdio onde se dedica a projetar “interiores acolhedores com intenção”.
“Quero sempre acumular muitas coisas. Vou à Suíça, por exemplo, e estou rodeada de lojas em segunda mão com coisas lindíssimas. Por norma, há sempre peças mais artesanais ou imperfeitas, parte do artesanato daquela área, que fui começando a juntar aos poucos”, recorda.
Adora peças únicas.
Quando o namorado disse que não tinham mais espaço, foi a motivação que precisava para avançar com este projeto. Sublinha, contudo, que só vende peças com as quais sente alguma ligação. “Vou passando por feiras, aldeias. Vejo velhotes nas ruas, conheço autênticas famílias de ceramistas.”
Nestas viagens, destaca as passagens frequentes por Corval, em Reguengos de Monsaraz, Évora, onde “90 por cento da aldeia é composta por ceramistas”, conta Ana. “Adoro visitar e ver de perto aquilo que eles fazem. Os clientes sentem essa honestidade.”
Se, por um lado, o projeto nasce deste constante movimento (o “nómada”, no nome), em contraste, surge esta procura por um lar. “Sou uma nómada à procura de peças com alma, mas que encontram o seu espaço na casa de outras pessoas. O contraste é constante em todos os meus trabalhos: o claro e o escuro, materiais suaves e rígidos. O nome é paradoxal de propósito.”
De casa a lar
É desta curadoria “feita com amor” que vão nascendo os projetos de Ana, que pode fazer o projeto e o styling final ou apenas uma das duas vertentes. “Da minha experiência, os clientes têm muita dificuldade na parte do final da decoração. Dizem que falta a sensação de casa.”
A visão da designer não se prende tanto com o valor estético, mas com a missão de “dar memória, dar mais peso” ao espaço. “Não é comprar por ser bonito, gosto de peças com mais significado”, diz.
O processo é feito sempre com base nos gostos do cliente. “Por vezes, dão-me algumas diretrizes. Dizem que preferem cerâmica ou escultura, sugerem alguns tons. Fazemos a procura das melhores peças a partir daí”, continua Ana, que também já trabalhou com design têxtil e design gráfico.
Embora se identifique, sobretudo, com o estilo escandinavo, garante que tem dezenas de contactos de marcas e colegas de trabalho com propostas de universos distintos. “Questiono-me se devia ser revendedora dessas peças, mas não é o caminho que quero seguir. Já está bastante visto, não há nada de inovador.”
Acima de tudo, Ana Lemos quer “dar um palco” a artistas e artesãos que “levem a tradição para a frente”. Mas sem nunca descurar do seu gosto por “pequenos apontamentos” de décadas passadas que dão personalidade a qualquer lar.
Ainda este ano, pretende lançar duas coleções-cápsula em colaboração com artistas emergentes, especificamente. Tem em mente lançar linhas exclusivas com criações feitas a partir de vime, cerâmica ou outras técnicas portuguesas “um pouco mais tradicionais”, mas sem ficar presa ao passado.
E, nos próximos anos, ambiciona que o HON Studio se possa transformar num espaço fixo (atualmente, é tudo feito a partir de casa). Até lá, continua a sua missão enquanto nómada. “Já estou a planear uma viagem a Marrocos para ir buscar mais objetos”, confessa. “São esses objetos que começam por ser os próprios nómadas antes e chegarem onde são ser valorizados.”
A House of Nomad também está disponível online, onde pode consultar os serviços do estúdio e descobrir o portfólio. Encontra propostas a partir de 8,95€.
Carregue na galeria para ver alguns dos tesouros encontrados por Ana Lemos ao longo dos anos.