Dr. Octávio Viveiros, coordenador de Cirurgia Geral no Hospital Lusíadas Amadora, e Dr.ª Beatriz Vieira, coordenadora da Unidade de Nutrição Clínica, respetivamente

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é definida como uma doença multifatorial caracterizada pela acumulação excessiva de massa gorda corporal (≥25% para homens e ≥32% para mulheres) com consequências adversas para a saúde física e mental.

Sabia que a obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças crónicas? Entre elas estão as doenças cardiovasculares – a principal causa de morte em Portugal – diabetes mellitus tipo 2 e alguns tipos de cancro, como o do cólon, da mama e da próstata. Além disso, a obesidade está frequentemente associada à síndrome metabólica, um conjunto de alterações que inclui excesso de gordura abdominal (perímetro da cintura ≥88cm nas mulheres e ≥102cm nos homens), pressão arterial elevada, alterações nos níveis de colesterol e resistência à insulina.

O papel do excesso de massa gorda

O tecido adiposo (ou gordura corporal) não serve apenas para armazenar energia – é um órgão metabolicamente ativo, que influencia diversas funções no organismo. O excesso de massa gorda, sobretudo na região abdominal, promove alterações hormonais e inflamatórias que afetam negativamente o metabolismo.

Por exemplo, a leptina – uma hormona que contribui para a redução do apetite – está geralmente aumentada em pessoas com obesidade. No entanto, muitos indivíduos desenvolvem resistência à sua ação, o que faz com que esta deixe de ser eficaz na regulação do apetite. Além disso, observam-se níveis mais baixos de adiponectina – uma hormona com efeitos anti-inflamatórios – e uma maior produção de citocinas pró-inflamatórias pelo tecido adiposo, contribuindo para a instalação e manutenção de um estado inflamatório crónico.

O Impacto na Saúde Mental

A obesidade não afeta apenas o corpo –tem também um impacto significativo na saúde mental. Estudos demonstram uma relação bidirecional entre obesidade e depressão: pessoas com obesidade têm maior risco de desenvolver depressão e, por outro lado, quem sofre de depressão tende a adotar estilos de vida menos saudáveis, como uma alimentação desequilibrada e menor atividade física, o que favorece o aumento de peso.

Para além disso, indivíduos com obesidade enfrentam frequentemente estigma e discriminação, situações que podem conduzir ao isolamento social, à diminuição da autoestima e à menor adesão a estratégias de tratamento e mudança de estilo de vida.

A obesidade não deve ser vista apenas como uma condição relacionada com o peso, mas sim como uma doença complexa, que envolve fatores biológicos, metabólicos e psicológicos. Para além de aumentar o risco de várias doenças crónicas, afeta o bem-estar emocional e a qualidade de vida.

A obesidade não se resolve com soluções rápidas, mas através de abordagens multidisciplinares sustentadas na evidência científica, onde intervêm o endocrinologista ou médico de medicina interna com o apoio da nutrição e psicologia e, quando necessário, o cirurgião metabólico/bariátrico.

A nutrição assume um papel fundamental: estratégias alimentares personalizadas e educação são peças-chave na prevenção e no tratamento desta condição.

Criar um ambiente que promova escolhas informadas e ofereça suporte contínuo é crucial para melhorar a saúde, combater o estigma e garantir qualidade de vida a quem gere a obesidade diariamente.