“Ali estava eu, bêbado, com 300 pessoas e uma noiva enraivecida a dormirem atrás de mim, e eu começo a conduzir o avião.” A memória não podia pertencer a outra pessoa que não Charlie Sheen, que recorda esse como um dos mais loucos episódios da sua vida. É apenas uma entre as muitas histórias reveladas no novo documentário da Netflix, “Também Conhecido como Charlie Sheen”, lançado esta quinta-feira, 11 de setembro.
O relato, contado logo no início do filme, não é um exagero. Durante a lua de mel com Brooke Mueller, em 2008, o ator foi convidado para visitar a cabine de um avião comercial. Estava completamente embriagado, mas mesmo assim teve permissão para sentar-se no lugar do piloto e assumir brevemente os comandos do avião. Só quando o copiloto percebeu quão bêbado estava Sheen é que reativou o piloto automático.
Sheen sem filtros. É isso que o documentário de duas partes, realizado por Andrew Renzi, promete. O projeto viaja pela ascensão meteórica de Sheen e pela sua queda, provocada por anos de vícios, excessos e escolhas duvidosas. O ator, agora com 60 anos e sóbrio há oito, conta tudo na primeira pessoa. Ao lado de algumas imagens de arquivo, revelam-se cenas cortadas de filmes e depoimentos de familiares, ex-companheiras e amigos próximos como Sean Penn, Jon Cryer e Chris Tucker.
Ao longo do documentário, Sheen revela inúmeros episódios. Entre os mais surreais está o momento em que, para conseguir terminar uma cena do filme “Free Money”, em 1998, colocou um cubo de gelo no ânus para combater o sono provocado pelas drogas. O próprio ator admite que nunca tinha feito nada do género, mas garante que resultou.
Incapaz de manter os olhos abertos, pediu aos assistentes um copo com gelo. “Havia lá uma pequena casa de banho. Entrei, peguei no cubo de gelo e enfiei-o pelo rabo acima. Nunca tinha feito algo parecido”, recorda. “Bem, a verdade é que consegui manter-me acordado tempo suficiente para voltar e terminar a cena.”
A história é ilustrada com a própria cena do filme, na qual é possível ver Sheen de olhos bem abertos. A necessidade de métodos cada vez mais bizarros surgiu numa fase em que já aceitava qualquer papel apenas para sustentar o vício da droga.
Outro nome que surge recorrentemente nestas memórias é Nicolas Cage. O ator foi cúmplice em mais do que um episódio. Num deles, Sheen fugiu discretamente de uma clínica de reabilitação para cumprir um compromisso que, para si, era completamente inadiável: ser jurado num concurso de biquínis, ao lado de Cage. Não era obrigado legalmente a permanecer internado, mas ainda assim deixou uma nota à enfermeira de serviço. Prometeu regressar até às 8 horas. Se não cumprisse, comprometia-se a pagar-lhe um milhão de euros. E cumpriu: voltou às 7h40.
Segundo Sheen, a enfermeira mostrou-se feliz pelo ator mas “desapontada” por ter perdido o prémio. “Bem, pelo menos é um homem de palavra. Seja bem-vindo. Mantivemos o quarto reservado”, terá dito.
Noutra ocasião, também ao lado de Cage e novamente sob o efeito de drogas, embarcou num voo para São Francisco. A certa altura, Cage agarrou no intercomunicador dos comissários de bordo e fez-se passar pelo piloto do avião. “Este é o vosso capitão. Não me estou a sentir muito bem, estou a perder o controlo do avião”, terá dito.
A brincadeira provocou o pânico entre os passageiros e levou a que ambos fossem confrontados por agentes armados no aeroporto. O que Cage não sabia é que Sheen levava mais 30 gramas de cocaína colada à perna. Acabaram por ser apenas repreendidos pelos agentes, que eram seus fãs. “Vejam lá se isto não volta a acontecer”, disseram, antes de os libertarem.
A relação com a cocaína é uma constante. Durante as gravações do filme “Money Talks”, em 1997, com Chris Tucker, teve uma hemorragia nasal que durou 18 horas. “Não parava de sangrar, ao ponto de começar a pingar para a camisola durante uma das cenas”, recorda. A seu pedido, o realizador Brett Ratner cortou a cena da montagem final.
As revelações mais íntimas, no entanto, surgem quando Sheen fala sobre sexualidade e saúde. Pela primeira vez, assume publicamente ter tido relações com homens. “Disse: vamos lá então provar um de cada”, conta, sem arrependimentos.
Segundo o próprio, o aumento explosivo da libido era provocada pela cocaína, o que o levou a procurar freneticamente por mais e mais parceiros. Sabia que isso levaria inevitavelmente a que alguém revelasse tudo à imprensa. “Algumas coisas serão verdade, outras não serão”, comenta. “Houve coisas estranhas. Houve coisas muito divertidas. A vida continua.”
Acabaria por ser alvo de chantagem por parte de pessoas com quem se envolveu, após a revelação do seu diagnóstico de VIH. Embora tenha tornado a informação pública apenas em 2015, foi diagnosticado em 2011. Nessa altura, entrou em pânico. “Sofria de enxaquecas e de suores corporais que ninguém vivo deveria sentir”, recorda. O tratamento permitiu-lhe retomar uma vida normal, mas teve que pagar pelo silêncio. “Os mais baratos pediam meio milhão. Houve um que pediu 1,4 milhões.”
Foi também após o diagnóstico que o vício atingiu novos extremos. Em vez de procurar um estilo de vida saudável, Sheen mergulhou ainda mais na autodestruição. “Em vez de me tornar vegetariano, tornei-me um ‘crack-etarian’ e só consumia crack”, recorda. “Fui estúpido.”
Quando conseguiu largar o crack, refugiou-se no álcool, até perceber que nunca poderia ser um bom pai. Chegou a ter que contratar condutores para levar a filha Sami a compromissos, enquanto Sheen ficava no lugar do passageiro, visivelmente embriagado. “Senti que a desapontei”, conta.
Foi nesse momento que decidiu mudar e deixar a bebida e mudar de vida, uma mudança que as filhas confirmam. Sheen garante estar sóbrio há oito anos.
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