A Norfin, a Draycott e um consórcio liderado por Luís Horta e Costa estão a disputar a compra dos ativos turísticos da Vanguard na Comporta. A saída do histórico CEO da Vanguard marca um novo ciclo para a promotora imobiliária de luxo. Mas Alexandre Berda promete continuar a investir no mercado residencial português e avança com projeto da Torre.
Há pelo menos três candidatos à compra dos ativos turísticos da Vanguard na Comporta.
A Norfin, da Arrow Global, está a analisar os ativos turísticos da Vanguard Properties – o Dunas e o Torre –, ambos englobados nas Terras da Comporta, que foram postos à venda com a assessoria financeira da Alantra, apurou o Jornal Económico (JE).
Os ativos à venda que estão sob a mira da Norfin são lotes turísticos e hoteleiros do Dunas e alguns lotes do empreendimento Torre, nomeadamente parte da área turística e hoteleira do projeto turístico na Comporta que prevê dois hotéis de luxo e 171 Branded Residences. Contactada a Arrow Global não comentou.
Na corrida apenas ao Dunes está o consórcio liderado pela Squareview, de Luís Horta e Costa, e composto pelo BTG Pactual (um banco de investimento brasileiro) e pela cadeia de hotel brasileira Fasano. Este é o mesmo consórcio que comprou em abril de 2024 o hotel em Cascais “ Oitavos”.
Estão ainda a disputar o Dunes a Draycott, de João Coelho Borges e a Mello RDC, de António Ribeiro da Cunha.
Contactada a Vanguard não quis adiantar mais nada para além da intenção manifestada no inicio da semana em comunicado, de querer continuar investir em Portugal.
O Terras da Comporta é composto pelos empreendimentos Comporta Dunes e Comporta Links e abrange cerca de 1.380 hectares de área, entre edificações e floresta.
A Vanguard pretende focar-se nos lotes residenciais do Torre, cuja infraestrutura está terminada e mais tarde no Dunas, que inclui um campo de golfe já inaugurado. A Vanguard concluiu recentemente o Torre Golf Course que irá inaugurar no próximo mês.
Em novembro de 2019 a Vanguard Properties (na altura em parceria com a Amorim Luxury) comprou os ativos do fundo da Herdade da Comporta (que eram da Rioforte/Grupo Espírito Santo) por 157,5 milhões de euros, com financiamento da CGD, cujo vencimento é em novembro de 2028.
A Vanguard tem à venda ainda o The Shore Residences, no Algarve, mas esta venda está a ser intermediada pela Dils. Recentemente José Cardoso Botelho disse, sobre este projeto, que “temos várias ofertas e decorrem as due diligences. Entretanto o projeto foi aprovado, logo, quem comprar pode rapidamente começar a desenvolver. O ativo, valorizou-se”.
Uma saída repentina
A saída repentina do histórico presidente da Vanguard Properties apanhou o mercado de surpresa. Mas já havia sinais de algumas divergências na estratégia da Vanguard, entre o CEO, José Cardoso Botelho, e o novo Chairman da promotora imobiliária, Alexandre Berda (filho do empresário francês Claude Berda e dono da empresa).
Desde logo a Vanguard, sob a batuta de Alexandre Berda, contratou a assessora financeira Alantra para vender os ativos turísticos da Comporta. O que até aí não era uma urgência da empresa liderada por José Cardoso Botelho, apesar de estar prevista desde 2019 a venda dos ativos turísticos na Comporta assim que as infraestruturas estivessem concluídas, por acordo com a CGD que financiou a aquisição.
José Cardoso Botelho disse recentemente que “o segmento residencial, foi sempre, o nosso único foco”. Mas pode dizer-se que Alexandre Berda acelerou esse movimento.
Também o anúncio já este ano da procura “ativa” de entre dois e cinco parceiros de investimento, numa altura em que estão a desenvolver os dois maiores projetos imobiliários do grupo na Comporta e o empreendimento Foz do Tejo, em Oeiras, era um sinal que alguma coisa tinha mudado na estratégia da Vanguard.
O mercado aponta à Vanguard a falta de ativos em construção, no Dunas e Torre na Comporta, cujos terrenos foram comprados em 2019, mas desde então não foi iniciada a construção de nenhum projeto imobiliário nos lotes, para além dos dois campos de golfe. O que pode ser visto como uma falta de aposta da banca no financiamento destes projetos imobiliários de grande dimensão. A banca tende a resistir a financiar grandes colossos imobiliários, por causa do capital regulatório que lhe é exigido.
Contactado José Cardoso Botelho não respondeu.
A Vanguard reconhece que José Cardoso Botelho desempenhou um papel determinante na criação, desenvolvimento e na consolidação do grupo. O gestor sempre teve o sonho de transformar a construção em Portugal no sentido da maior sustentabilidade (mais verde) e reuniu na Vanguard os maiores especialistas nesta área.
José Cardoso Botelho foi também impulsionador de projetos com impacto social. Destaca-se a aposta na escola de ténis “Vanguard Stars” que se mantém pelo menos até ao fim do torneio, segundo apurou o JE. Já o mecenato do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian não deverá manter-se.
A Vanguard Properties anunciou no início desta semana uma transição de liderança, acordada entre o Chairman, Alexandre Berda e José Cardoso Botelho, que cessou funções como CEO.
A Vanguard reconhece em José Cardoso Botelho “o papel determinante na consolidação do grupo como uma das principais referências do setor imobiliário em Portugal”. A liderança executiva passou agora a ser assumida por Alexandre Berda. A Vanguard, através de Alexandre Berda, diz que esta decisão “assinala o encerramento de um capítulo e o início de outro”.
“O objetivo desta transição é garantir a plena execução dos projetos em curso, a consistência operacional e a concretização do plano estratégico definido para os próximos anos”, refere a empresa em comunicado.
Alexandre Berda garante ainda que “a Vanguard Properties continuará a focar-se no desenvolvimento de projetos imobiliários de elevada qualidade, mantendo-se fiel ao compromisso de criar valor sustentável para o país, para os seus clientes, parceiros e colaboradores”, segundo o comunicado. “Com diversos projetos em desenvolvimento, a família Berda reafirma a sua confiança no mercado português, onde continuará a investir, inovar e criar valor a longo prazo”, assegura.
A Vanguard Properties tem 1,2 mil milhões de euros em ativos imobiliários e um baixo rácio de dívida bancária no total do ativo (abaixo de 5%) segundo as nossas fontes.
Os projetos de grande dimensão da Vanguard Properties são o Dunas e o Torre, ambos englobados nas Terras da Comporta; o Muda Reserve (também na Comporta) e o Foz do Tejo. Os primeiros três já com infraestruturas concluídas e em fase de arranque de desenvolvimento. No caso do Foz do Tejo aguardam o TUA (título único ambiental) para iniciar as obras de infraestruturas. Até ao fim do ano a Vanguard vai arrancar com o projeto de infraestruturas.
Depois tem ainda o empreendimento Tomás Ribeiro79 que está em fase de obra, os Terraços do Monte em fase final de contratação da construção (já estão feitas as fundações), o Lisboète e o Lapa One. Está nos planos vender o Riverbank e o Shore.