O presidente da Câmara de Lisboa tem estado debaixo de todos os holofotes. Desde a moção de censura à recusa em aceitar a demissão do presidente da Carris, Carlos Moedas foi falar de Jorge Coelho em entrevista à SIC, e as suas palavras tiveram o condão de unir o PS em torno da candidatura de Alexandra Leitão.

É que, nessa entrevista, Carlos Moedas também acusou Alexandra Leitão de cinismo e dissimulação, defendendo que a candidata à presidência da autarquia pôs os socialistas mais próximos a pedir a demissão em vez de o fazer diretamente.

As acusações tiveram rapidamente resposta. Pedro Nuno Santos, por exemplo, num longo texto partilhado nas redes sociais, escreveu: «O que o presidente da CML disse ontem na entrevista não diz nada sobre mim, a Alexandra ou o Jorge Coelho. Mas diz muito sobre si próprio, sobre o seu caráter e, já agora, sobre a sua moderação». E acrescentou: «Quem pede responsabilização política não está a desrespeitar as vítimas ou o luto dos familiares, antes pelo contrário. Desrespeita as vítimas quem as usa para evitar discutir responsabilidades políticas».

Também Ana Catarina Mendes saiu a terreiro em resposta a Moedas. «Nobreza de espírito, tudo o que se exige a quem exerce funções públicas. Carlos Moedas, por desespero ou medo, passou todos os limites na entrevista de ontem à noite. Insultou a candidata do PS à Câmara de Lisboa, Alexandra Leitão, e outros militantes do PS, o líder parlamentar e o ex-secretário geral do PS. Lamentável o recurso ao ataque pessoal! Atacou, ignobilmente, a memória de Jorge Coelho. Falta nobreza de espírito a Carlos Moedas, falta-lhe sentido de estado e de responsabilidade».

As reações continuaram a somar-se. António Costa, e outros antigos ministros colegas de Jorge Coelho nos Governos de António Guterres, como Alberto Martins, Augusto Santos Silva, Eduardo Ferro Rodrigues, Guilherme Oliveira Martins, Luís Capoulas Santos e Nuno Severiano Teixeira, enviaram uma carta à Lusa. «Nós, companheiros de Jorge Coelho no Governo de António Guterres aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios, queremos manifestar a nossa indignação pelas falsidades proclamadas pelo engenheiro Carlos Moedas sobre o que se passou em 2001. A atitude de Jorge Coelho foi um contributo importante para a defesa de Democracia nos últimos 25 anos», escreveram. 

Isto porque, na mesma entrevista, o autarca de Lisboa foi confrontado com o exemplo do falecido socialista Jorge Coelho, em 2001, que se demitiu das funções de ministro de ministro do Equipamento Social na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios, no rio Douro. Carlos Moedas não quis a comparação e disse que Jorge Coelho tinha recebido informações que apontavam para a fragilidade da ponte antes do acidente. No seu caso, não terá recebido qualquer informação sobre o Elevador da Glória.

O assunto foi ainda comentado por Edite Estrela. «Compreendo agora que Carlos  Moedas tenha demorado 3 dias a preparar-se. A entrevista foi bem preparada. Nada foi deixado ao acaso. Vê-se que houve treino e boa assessoria da arte de bem comunicar. O resultado é uma notável peça de marketing político. A SIC foi amiga. Muito tempo de antena, Clara de Sousa não o interrompeu e não o confrontou com as mentiras». Dito isto,  acrescentou: «A entrevista mostrou-me quem é Carlos Moedas e não gostei do que vi. Com ar compungido e falinhas mansas, insultou os adversários (sicários?! Saberá ele o significado da palavra?), mentiu sobre alguém que já cá não está para se defender, revelou não olhar a meios para atingir os fins. Lamentável», lê-se nas redes sociais.

A moção de censura

A verdade é que o acidente do Elevador da Glória deixou mossa na governação de Carlos Moedas, que viu ser-lhe apresentada uma moção de censura por parte de Bruno Mascarenhas, deputado municipal do Chega e candidato à Câmara de Lisboa. 

A moção foi votada na terça-feira entre os 75 deputados municipais e recebeu os votos contra do PSD, Iniciativa Liberal, MPT, Aliança e CDS. PS, BE, Livre, PCP e PAN abstiveram-se. Apenas o Chega votou a favor.

Recorde-se que o presidente da Câmara de Lisboa tem estado debaixo de fogo depois do acidente que vitimou 16 pessoas. Recusa demitir-se e também não aceitou a demissão do presidente da Carris, Pedro Bogas, que colocou o lugar à disposição na noite da passada quarta-feira. Carlos Moedas não aceitou. Segundo a CNN Portugal, Carlos Moedas negou o pedido de demissão do presidente da Carris, com uma frase: «Aqui ninguém foge».