Jonas Vingegaard venceu a 20.ª etapa da Volta a Espanha e sentenciou a discussão sobre a camisola vermelha, com João Almeida a terminar em quinto, a 22 segundos do dinamarquês, garantindo assim o segundo lugar da classificação geral.

O português não resistiu ao ataque de Vingagaard no último quilómetros da subida da Bola del Mundo e encontra-se a 1.22 minutos da liderança do rival na Vuelta.

Na etapa, a corrida lançou-se praticamente desde o km zero, mas foi na segunda subida do dia, quando se consolidou uma fuga de 36 corredores, mas nenhum da UAE Emirates, que o último capítulo competitivo desta Vuelta começou a escrever-se. Esta situação não parece ser favorável a eventual estratégia da equipa de João Almeida de lançar corredores para a frente para mais tarde poderem ser úteis ao português. Para isso, a formação deveria ter, pelo menos, dois corredores no grupo entre os escapados, de preferência, Jay Vine e Marc Soler, sendo que não seria provável que Juan Ayuso se envolvesse em interesses coletivos.

À entrada da terceira subida, Alto del León (2.ª categoria), a fuga, em que não se integravam corredores que ameaçassem os primeiros classificados da geral, dispunha de 1.40 minutos de vantagem sobre o pelotão, onde a Red Bull e a UAE impunham o ritmo. As estratégias destas equipas passariam pelo endurecimento da corrida, para desgaste dos rivais. A Red Bull pretendia assaltar o pódio, desalojando, pelo menos, Tom Pidcock (3.º), e a UAE levar João Almeida à camisola vermelha. Neste caso, estava tudo a correr dentro do planeado. Mantendo a fuga a menos de 2 minutos, estaria tudo em aberto também para a vitória na etapa… e consequente conquista dos preciosos segundos de bonificação.

Na longa fase de transição entre o Alto del León e a quarta subida do dia, Navacerrada (1.ª cat.), o ritmo da corrida foi elevadíssimo, tanto no grupo de fugitivos, como no pelotão. Se no pelotão Red Bull e UAE Emirates colaboram na perfeição, entre escapados a cooperação não é menos eficiente entre a Bahrain (em prol de Santiago Buitrago) e a Lidl-Trek (para Giulio Ciccone), e a intensidade nunca baixou. Estava mesmo a ver-se que a Bola del Mundo iria passar fatura alta a muito boa gente, tornando o desfecho imprevisível.

A partir dos últimos 4 quilómetros de Navacerrada, com a distância para os fugitivos ao redor de 1.30 minutos, Juan Ayuso passou a puxar no pelotão e aproximou rapidamente os dois blocos da corrida. Nessa altura, a imagem facial de João Almeida denota boas sensações, mas a Jonas Vingegaard ainda maior facilidade aparente: o dinamarquês lançava o beijo e o aceno para a câmara de TV, que já lhe é imagem de marca. No cume de Navacerrada, o grupo em fuga mantinha apenas 13 corredores (Bernard, Ciccone, Aparicio, Landa, Bernal, Van der Lee, Armirail, Buitrago, Lopez, Braz Afonso, Dunbar, Tiberi and Hirt) e já menos de um minuto para o pelotão, também cada vez mais restrito.

Na aproximação a Bola del Mundo, a vantagem para o grupo de fugitivos continua a decrescer. À frente tentou-se, em derradeiro esforço, criar uma margem que garantisse discutir a vitória na etapa, mas a cooperação acaba entre os aventureiros da jornada. A 20 km da meta e pouco menos de dez do início da subida final, Mikel Landa destaca-se dos parceiros, mas o grupo principal não está a mais de um minuto – quando ocorre mais um protesto pró-Palestina que quase bloqueia a corrida.

A Bola del Mundo chegou com Mikel Landa isolado, 15 segundos à frente sobre um trio perseguidor com Bernal e Ciccone e Van der Lee, e 1.15 minutos para o pelotão, mas o veterano espanhol é alcançado às primeiras rampas da subida.

Quando o grupo dos favoritos também entrou na Bola del Mundo, Marc Soler impunha o ritmo para a UAE, com Juan Ayuso na sua roda. Mas os espanhóis não duram muito e passa a ser Felix Grosschartner a liderar, com Jay Vine na sua roda. Depois João Almeida. Em simultâneo, Giulio Ciccone isola-se na frente da corrida, mas Landa não desiste a alcança-o. O pelotão estava a menos de 1 minuto a 9 km do alto.

A 8 km do alto, a Visma continuava com quatro corredores, incluindo Jonas Vingegaard: Ben Tulett, Matteo Jorgenson e Sepp Kuss. O dinamarquês já marcava a roda do português. Grosschartner continua a meter ‘passo’ forte. Ninguém se mexe. A Red Bull, que esteve sempre ativa na etapa, mantinha-se agora na expectativa.

Ainda antes de se entrar nos derradeiros 7 km, Grosschartner acabou a função e foi rendido por Jay Vine, que mete o ritmo no grupo de favoritos e as primeiras vítimas são Giulio Pellizzari (Red Bull), líder da Juventude, quinto da geral (+4.25 m) e Felix Gaal (Decathlon), sétimo.

Após a entrada nos últimos 4 km, a parte mais dura da Bola del Mundo, soltou-se o fogo de artifício. O duo da frente é alcançado e Jay Vine termina o seu serviço, deixando João Almeida na dianteira a três quilómetros no topo.

Hindley assumiu a dianteira ao português, e este acusou a mudança de ritmo, ficando em dificuldades. De qualquer forma, manteve-se um quinteto, com Pidcock e Kuss. Até que Vingegaard ataca decisivamente a um quilómetros do topo da subida, isolando-se para vencer a etapa e Volta a Espanha. O dinamarquês terminou com 11 segundos sobre o seu companheiro de equipa norte-americano, 13 sobre Jai Hindley, 18 para Tom Pidcock e 22 à frente de João Almeida.