A Universidade da Califórnia, em Berkeley, admitiu na sexta-feira que forneceu informações sobre 160 membros do corpo docente e estudantes à administração de Donald Trump, como parte de uma investigação federal sobre “alegados incidentes de anti-semitismo”, num cenário de repressão governamental mais amplo contra instituições académicas.

O gabinete do presidente da Universidade da Califórnia afirmou que a instituição está sujeita à supervisão de agências federais e estatais e que os seus campi, como a UC Berkeley, “recebem regularmente pedidos de documentos relacionados com auditorias governamentais, análises de conformidade ou investigações”.

Trump ameaçou cortar o financiamento federal das universidades devido aos protestos de estudantes pró-Palestina. O Governo alega que as universidades permitiram demonstrações de anti-semitismo durante os protestos.

Os manifestantes pró-palestinianos, incluindo alguns grupos judeus, dizem que o governo equipara erradamente as suas críticas ao ataque de Israel a Gaza e à ocupação dos territórios palestinianos a anti-semitismo, assim como a defesa dos direitos dos palestinianos ao extremismo.


Especialistas levantaram preocupações sobre a liberdade de expressão, legalidade processual e a liberdade académica relativamente às ameaças do Presidente. Trump também tentou deportar estudantes estrangeiros que protestavam a favor da Palestina, mas deparou-se com obstáculos legais.

“A UC está empenhada em proteger a privacidade dos nossos estudantes, professores e funcionários na medida do possível, cumprindo simultaneamente as suas obrigações legais”, acrescentou um porta-voz do gabinete do presidente da UC.

A UC Berkeley informou que os nomes dos 160 estudantes, professores e funcionários foram enviados para o Gabinete dos Direitos Civis do Departamento de Educação dos EUA e que os membros do campus afectados foram notificados na semana passada.

Acrescentou que o ministério da Educação lançou uma investigação há vários meses sobre o tratamento de queixas relacionadas com “alegados incidentes de anti-semitismo” e exigiu documentação. “Nos últimos meses, foram fornecidos inúmeros documentos ao Gabinete dos Direitos Civis, incluindo os nomes das pessoas que constam desses relatórios”, acrescentou.

O Governo americano não comentou.

Governo acabou com algumas investigações

Em Julho, o governo acabou com as investigações na Universidade de Columbia, que concordou em pagar mais de 220 milhões de dólares, e na Universidade de Brown, que disse que iria pagar 50 milhões de dólares. Ambas aceitaram algumas exigências. Estão em curso conversações com a Universidade de Harvard.

A administração Trump também enfrentou alguns bloqueios judiciais na sua tentativa de congelar o financiamento federal.

O governo tinha proposto resolver a investigação na Universidade da Califórnia em Los Angeles — outro campus da UC — com o pagamento de mil milhões de dólares por parte da universidade, mas o governador da Califórnia, Gavin Newsom, rejeitou a proposta, qualificando-a de tentativa de extorsão.

Defensores dos direitos humanos registaram um aumento do anti-semitismo, do preconceito antiárabe e da islamofobia devido à guerra em Gaza. A administração Trump não anunciou quaisquer investigações equivalentes sobre a islamofobia.