Milhares de pessoas com bandeiras e outros símbolos da Palestina invadiram neste domingo as ruas de Madrid, pelas quais deveria passar o circuito final da última etapa da 80.ª Volta a Espanha em bicicleta, forçando a organização da prova a anular a tirada. Conclusão: a Vuelta 2025 terminou numa espécie de anticlímax, com Jonas Vingegaard (Visma) como vencedor e João Almeida (UAE) como segundo classificado, mas sem direito ao habitual ritual de consagração.

Depois de já terem impactado negativamente o calendário desta edição, as manifestações contra Israel interromperam a etapa final, sem que tivesse havido a possibilidade de vir a ser concluída em tempo útil ou, sequer, que depois de validados os resultados se realizasse a habitual cerimónia de pódio. De resto, os ciclistas acabaram por ser transportados pelos carros das equipas, dada a ocupação das artérias da capital.

Vários grupos de manifestantes derrubaram as barreiras de segurança que cercavam o Passeio do Prado, entre a zona da meta e a estação da Atocha, e iniciaram uma marcha gritando “não é uma guerra, é um genocídio”. Os protestos visam, em particular, a participação na prova da equipa israelita Israel-Premier Tech – uma toada que foi recorrente ao longo de toda esta edição da corrida.

Ficaram, assim, quase 60 quilómetros por completar, depois de já terem sido neutralizadas outras etapas do calendário. Uma delas acabou por ter impacto directo nas aspirações de João Almeida, que contava com o contra-relógio da 18.ª tirada para recuperar terreno face ao camisola vermelha. A verdade é que o percurso, em Valladolid, acabou por ser encurtado de 27,2 para 12,2 quilómetros, precisamente por razões de segurança ligadas às manifestações pró-Palestina.

Neste contexto, o pódio montado na Plaza de Cibeles não receberá, neste domingo, os protagonistas da Vuelta. A Polícia Nacional já tinha carregado sobre alguns manifestantes que tinham invado o perímetro nas zonas de Atocha, Cibeles e Gran Vía, mas o dispositivo de segurança montado (cerca de 1500 agentes) revelou-se insuficiente para aplacar as movimentações da multidão.

Do ponto de vista desportivo, fica para a história o triunfo de Jonas Vingegaard, materializado na penúltima etapa, na Bola del Mundo. O dinamarquês termina a prova em 72h53m57s, deixando João Almeida a 1m16s e Tom Pidcock (Q36.5), que fechou o pódio, a 3m11s.

Para o melhor ciclista português da actualidade, esta edição da Vuelta tem um sabor agridoce. Por um lado, serviu para confirmar que é um dos mais capazes voltistas do mundo; por outro, ficou a sensação de que, com outro tipo de ajuda da UAE em momentos-chave da corrida (com Juan Ayuso à cabeça), poderia ter subido outro degrau. Ainda assim, replicou a façanha de Joaquim Agostinho, que em 1974 também tinha sido vice-campeão na Volta a Espanha.

De resto, Almeida admitiu no final da penúltima etapa que se tem sentido adoentado nos últimos dias, condição que não o impediu de alcançar um dos melhores resultados da carreira, numa temporada em que já conquistou a Volta ao País Basco, a Volta à Romandia e a Volta à Suíça. Nas grandes Voltas, pode agora acrescentar um honroso segundo lugar na Vuelta a um palmarés que já inclui um terceiro posto no Giro 2023 e um quarto lugar no Tour 2024.