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Uso de canetas para emagrecer requer cuidados específicos

O uso de medicamentos como Ozempic e Wegovy , originalmente desenvolvidos para diabetes, tiveram uma grande procura nos últimos anos entre pessoas que buscam perder peso. Mas um levantamento mostra que mais da metade das pessoas pararam o tratamento bem antes do tempo recomendado. 

Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 12% da população adulta já tenha recorrido a esses remédios, com as prescrições mais que triplicando desde 2020. As informações são do New York Post.

Nível de queda preocupante

Apesar da popularidade, novas pesquisas sugerem que a forma como esses tratamentos estão sendo utilizados pode, na verdade, ser muito prejudicial à saúde.

Um estudo dinamarquês, publicado recentemente, analisou os dados de 77.310 usuários iniciantes de GLP-1 à base de semaglutida que não possuíam diabetes.

A pesquisa constatou um padrão: mais da metade interrompeu o tratamento em menos de um ano após o início do tratamento. Cerca de uma pessoa em cinco parou de fazer uso logo no terceiro mês e 42% abandonaram o regime até o nono mês.

“Esse nível de queda é preocupante porque esses medicamentos não foram concebidos para serem uma solução rápida e temporária” , afirmou o professor Reimar W. Thomsen, do Departamento de Epidemiologia Clínica da Universidade de Aarhus e principal autor do estudo. 

Segundo ele, a interrupção precoce compromete totalmente os efeitos positivos, já que o tratamento exige que o medicamento seja tomado por um longo período.

O desafio da continuidade

Pesquisas anteriores já mostraram que a interrupção do GLP-1 faz com que os pacientes voltem a ganhar o peso que perderam, e a maioria retorna ao peso original em até dois anos. 

A obesidade não está ligada apenas a questões estéticas. Ela aumenta o risco de problemas de saúde graves, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas, derrame, pressão alta e até alguns tipos de câncer.

Os dados analisados também revelaram os grupos com maior probabilidade de abandonar o tratamento de forma precoce. 

Jovens entre 18 e 29 anos apresentaram 48% mais chances de desistência em comparação com pacientes de 45 a 59 anos. Indivíduos que vivem em áreas de baixa renda também apresentaram chances altas de desistência, com esses pacientes tendo 14% mais chances de desistir do que pessoas em bairros mais ricos.

Os pesquisadores apontaram que o custo elevado dos medicamentos é o grande obstáculo para a continuidade do tratamento. A exemplo, nos EUA, sem cobertura de seguro, o preço médio mensal do Ozempic varia entre US$ 1.000 (R$ 5.3 mil na cotação atual) e US$ 1.200 (R$ 6.4 mil na cotação atual).

Fatores que influenciam a desistência 

Outro fator que também influencia na desistência do tratamento é o histórico médico. Pessoas que já haviam feito o uso de medicamentos gastrointestinais apresentaram 9% mais chances de interromper o uso de semaglutida precocemente em comparação com a população em geral.

De acordo com os pesquisadores, isso pode acontecer por serem mais vulneráveis a efeitos colaterais comuns, como náuseas, vômitos e diarreia. 

Situação semelhante foi observada entre pacientes com histórico de uso de medicamentos psiquiátricos. Eles mostraram 12% mais probabilidade de interromper o tratamento ainda no primeiro ano. Já indivíduos com doenças cardiovasculares ou outras condições crônicas tiveram cerca de 10%.

“Isso é particularmente preocupante, visto que pessoas com comorbidades relacionadas à obesidade podem obter os maiores benefícios do tratamento” , ressalta Thomsen.

O estudo também destacou diferenças de gênero. Homens apresentaram 12% mais chances de parar a medicação em comparação às mulheres. Os pesquisadores sugeriram que isso pode ocorrer porque as mulheres tendem a obter maior perda de peso geral com os medicamentos.

“Esses resultados são novos e esclarecem os motivos das altas taxas de descontinuação precoce da semaglutida para perda de peso em um cenário real” , afirma o pesquisador. 

O cenário se mostra ainda mais preocupante devido a quase 40% da população adulta nos Estados Unidos ser obesa, o que corresponde a mais de 100 milhões de pessoas.

Isso inclui 20 milhões considerados gravemente obesos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Para Thomsen entender o motivo de tantos usuários de GLP-1 pararem de tomar os medicamentos pode abrir caminho para soluções que ajudem as pessoas a continuar o tratamento, como enfrentar barreiras como altos custos.