Ator está no Brasil para a estreia de “O Agente Secreto”, seu mais recente filme em parceria com Kleber Mendonça Filho

Imagem de dois homens com aparência séria — Wagner Moura e Jair Bolsonaro — um com cabelo grisalho e barba, e o outro com cabelo escuro e uniforme de terno, em ambiente formal.Em entrevista, Wagner Moura comentou as diferenças entre a política no Brasil e nos Estados Unidos – Foto: Redes Sociais/Reprodução/ND

De passagem pelo Brasil para divulgar e acompanhar a estreia do filme “O Agente Secreto” no Recife, Wagner Moura contou à BBC News Brasil que percebeu um clima “bem distinto” em comparação às exibições do longa-metragem em festivais nos Estados Unidos.

“Hoje, vemos as instituições funcionando, vemos um crime contra a democracia sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal, enquanto nos festivais norte-americanos pelos quais o filme passou sentimos uma certa tristeza dos americanos, quase uma inveja”, disse o ator.

Moura fazia referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus, condenados na sexta-feira (12) por golpe de Estado.

Ele comparou o episódio ao que ocorreu em 2021 nos Estados Unidos, quando Donald Trump foi acusado de liderar uma rebelião contra o resultado eleitoral após perder para o rival, Joe Biden — embora tenha sido, posteriormente, absolvido e reeleito.

“O que está acontecendo nos Estados Unidos hoje é grave. É um país que deixou de ser uma democracia plena e passou a mostrar tendências autoritárias evidentes”, afirmou Moura, que vive em Los Angeles há sete anos com a esposa e os três filhos.

O ator também criticou a postura de Trump em relação a imigrantes sem documentação: “É um horror. Eu conheço muitos imigrantes ilegais. Moro em uma cidade com muitos latinos, especialmente mexicanos, e as pessoas estão com medo”.

Sua fala aconteceu pouco depois da decisão da Suprema Corte norte-americana que permite aos órgãos migratórios adotar critérios raciais em suas abordagens. Vale lembrar que Trump prometeu deportar milhões de imigrantes ilegais durante seu governo.

“O Agente Secreto”, de Wagner Moura, chega ao Recife

Após passar por festivais na Polônia, Austrália, Portugal, Nova Zelândia, França e Canadá, “O Agente Secreto” estreou nos cinemas do Teatro do Parque São Luiz, no Recife. Durante os festejos, Moura ressaltou sua ligação com o estado pernambucano.

“Sou baiano, mas nasci em Rodelas, na fronteira com Pernambuco, e tenho esse estado no sangue”, disse.

No Recife, ele se reuniu com o diretor Kleber Mendonça Filho, a produtora Emily Lesclaux e o restante do elenco. No longa, Moura interpreta Marcelo, personagem central do thriller, que marca seu retorno ao cinema brasileiro após 11 anos dedicado a produções internacionais.

Wagner Moura em cartaz de divulgação do filme “O Agente Secreto” – Foto: Divulgação/Victor Jucá/NDWagner Moura em cartaz de divulgação do filme “O Agente Secreto” – Foto: Divulgação/Victor Jucá/ND

Ambientado na segunda metade da década de 1970, o filme aborda abuso de poder e ameaças à democracia. Wagner Moura afirmou que a obra foi criada em “um momento difícil pelo qual artistas, universidades e a imprensa brasileiras passaram entre 2018 e 2022”, durante o governo Bolsonaro.

A estreia também celebra a parceria artística entre Moura e Kleber, que, segundo o ator, “primeiro se aproximaram por razões políticas”.

Hoje, porém, ele vê o cenário político brasileiro de forma diferente: “Tanto eu quanto o Kleber estamos muito orgulhosos do momento pelo qual passam o Brasil, suas instituições e a democracia”.  Wagner também destacou a importância da memória histórica.

“Uma das coisas que mais fez mal ao Brasil foi a Lei da Anistia, que perdoou torturadores, assassinos e pessoas que cometeram crimes terríveis contra outros seres humanos e contra a democracia. É tão bonito ver que hoje, finalmente, o Brasil está reencontrando-se com sua memória”.

Quando O Agente Secreto estreia nos cinemas?

O filme tem estreia marcada para 6 de novembro nos cinemas. No Festival de Cannes, O Agente Secreto deu a Wagner Moura o prêmio de Melhor Ator e a Kleber Mendonça Filho o de melhor direção. O longa também conquistou o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema.