O cancelamento da última etapa da Volta a Espanha, marcada para Madrid, na sequência de protestos pró-palestinianos, gerou um novo foco de tensão política entre a oposição e o Governo, com o líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, a declarar que o presidente do executivo, Pedro Sánchez, “não é digno” do cargo que ocupa, responsabilizando-o pelas “acções de violência” que se verificaram neste domingo na capital espanhola.

“O presidente do Governo, o senhor Sánchez, é responsável pelas acções de violência que deveriam envergonhar qualquer pessoa que se preocupe com o nosso país”, declarou Feijóo. “Não se pode normalizar que ex-ministros e ministros, assim como os parceiros do Governo, tenham incentivado, e até participado, em actos onde foram agredidos 23 polícias”, acrescentou o líder do maior partido da oposição.

Os manifestantes, em protesto pela participação da equipa israelita Israel-Premier Tech na prova, invadiram as ruas de Madrid, levando os organizadores a suspenderem o evento por razões de segurança. Duas pessoas foram detidas pelas autoridades e mais de duas dezenas de agentes da polícia ficaram feridos nos confrontos.

A polícia conteve durante várias horas uma multidão de centenas de manifestantes que empunhavam cartazes e agitavam bandeiras palestinianas. À medida que o pelotão de ciclistas se aproximava da capital espanhola, os manifestantes começaram a lançar garrafas de plástico e cones de trânsito, derrubaram barreiras e avançaram sobre a estrada. A polícia de choque, munida de bastões, respondeu com bombas de fumo para tentar dispersar a multidão.

Mas foram as palavras do presidente do Governo espanhol, ao manifestar “admiração por um povo que se mobiliza por causas justas, como a da Palestina”, que motivaram as reacções furiosas da oposição.

O presidente da câmara de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, responsabilizou directamente Sánchez. “É violência pela qual o primeiro-ministro é directamente responsável, devido às suas declarações esta manhã a incitar os protestos”, afirmou o autarca do PP, lamentando: “Hoje é o dia mais triste desde que assumi a presidência desta grande cidade.”

Também o líder do partido de direita radical Vox, Santiago Abascal, não poupou nas palavras para acusar Sánchez nas redes sociais. “O psicopata levou as suas milícias para as ruas. Não lhe importa Gaza. Não lhe importa Espanha. Não lhe importa nada. Mas quer violência nas ruas para se manter no poder”, escreveu.

Já a presidente da comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, também do PP, lamentou que, neste domingo, Madrid tenha dado uma imagem de “uma Sarajevo em guerra” e de uma cidade onde “os judeus são perseguidos”.

Vários membros do Governo saíram, entretanto, em defesa de Sánchez. “A nossa cidadania é um exemplo de dignidade”, afirmou, ainda no domingo, a vice-primeira ministra, Yolanda Díaz, do parceiro de coligação Sumar.

Já a ministra da Saúde, Mónica García, defendeu que os protestos mostraram que Espanha é um “farol global na defesa dos direitos humanos”.

“O povo de Madrid juntou-se a dezenas de manifestações em todo o país e interrompeu pacificamente o final de uma corrida de ciclismo que nunca deveria ter sido usada para branquear um genocídio”, afirmou García numa publicação na rede Bluesky.

Pedro Sánchez tem estado em confronto repetido com Israel devido à guerra em Gaza, que descreveu como um genocídio. Na semana passada, o líder do executivo espanhol anunciou nove medidas contra Israel “para travar o genocídio em Gaza, perseguir seus autores e apoiar a população palestiniana”.

Ainda no domingo, pouco depois das declarações do presidente do Governo espanhol, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel afirmou que Sánchez e o seu executivo são “uma vergonha para a Espanha”.

“Hoje, ele encorajou os manifestantes a irem para as ruas. A multidão pró-palestiniana ouviu as mensagens de incitamento e destruiu a corrida de ciclismo La Vuelta”, escreveu Gideon Saar na rede social X.

É a primeira vez que uma das grandes competições do ciclismo mundial é impedida de concluir a sua etapa final por motivos políticos desde 1978, quando a Vuelta foi interrompida por separatistas bascos em San Sebastián. Com agências