O que estão compartilhando: vídeo em que um médico afirma que alumínio injetável, presente em vacinas, é neurotóxico e causa encefalite autoimune (uma inflamação no cérebro provocada pelo sistema imune) e sintomas de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Vacinas não causam doenças autoimunes nem autismo, segundo explicaram especialistas ao Verifica. O alumínio está presente nos imunizantes em quantidade muito baixa, que não causa mal à saúde. Ele é usado como adjuvante nas vacinas – ou seja, é uma substância que ajuda a melhorar a resposta imune do corpo à injeção.
O médico Felipe Belanda Trofino, autor do vídeo, foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar.
Vacinas não causam encefalite nem autismo. Foto: Reprodução/Instagram
Não há relação entre vacinação e encefalite autoimune
O médico autor do vídeo está inscrito no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul desde 2017, sem especialidade registrada. Ele afirma que o “alumínio injetável” que está nas vacinas entra na corrente sanguínea e se deposita nos órgãos, principalmente no cérebro. Isso geraria encefalite autoimune, que teria sintomas similares aos do autismo.
Mas essas afirmações não são verdadeiras, de acordo com as fontes consultadas pelo Verifica.
De acordo com a neurologista Lívia Almeida Dutra, vice-coordenadora do Departamento Científico de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), as vacinas não causam doenças autoimunes, nem autismo.
Dutra informa que nenhum estudo científico mostrou que o alumínio cause encefalite. “Não temos essa preocupação no momento”, disse. “Estamos estudando outras causas para as encefalites autoimunes, como interação com alguns vírus”.
Também não é verdade que os sintomas do autismo e da encefalite autoimune sejam parecidos. A encefalite, segundo explica Dutra, é uma doença inflamatória subaguda. Os sintomas incluem: rebaixamento do nível de consciência, crises epiléticas e movimentos anormais, principalmente nas crianças.
O autismo, embora apresente movimentos anormais, tem características diferentes. No caso do transtorno, esses movimentos são repetidos, como “manias”, e chamados tecnicamente de estereotipias.
“Nas encefalites, temos outros tipos de movimentos anormais, como coréias (movimentos involuntários e abruptos) e posturas anormais”, exemplificou.
Há consenso científico que vacinas não causam autismo
Como explicado anteriormente pelo Verifica, existe consenso científico de que as vacinas não causam autismo.
Desinformação que ligava a vacinação ao autismo começou a circular em 1998, após a publicação de um estudo posteriormente removido pela revista científica Lancet. A pesquisa foi considerada seriamente falha e um dos autores, Andrew Wakefield, foi proibido de exercer a medicina na Inglaterra pelo Conselho Médico Geral por atitudes antiéticas na condução do experimento.
A pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) lembra que o estudo foi amplamente desmentido pela ciência desde então.
“Muitos estudos sérios foram feitos na tentativa de associar vacina e autismo e nenhum com força estatística comprovou essa associação, muito pelo contrário”, disse.
A neurologista Lívia Almeida Dutra confirma que o alumínio não causa o transtorno. A maioria dos casos de TEA é de origem desconhecida; uma parcela tem causa genética.
De acordo com o Ministério da Saúde, até o momento, sabe-se que o autismo pode ser causado por diversos fatores, tanto ambientais quanto genéticos. Nem o alumínio, nem as vacinas são fatores listados pelo ministério.
Alumínio presente em vacinas não faz mal
Outra afirmação do vídeo é a de que o alumínio presente nas vacinas é neurotóxico, o que também não é verdadeiro. A pediatra Flávia Bravo explica que a quantidade de alumínio presente em parte dos imunizantes é muito baixa e incapaz de causar malefícios à saúde.
Como exemplo, a médica cita uma pesquisa dinamarquesa publicada recentemente, em julho, pela revista norte-americana Annals of Internal Medicine. Os pesquisadores observaram dados ao longo de 20 anos relacionados a mais 1,2 milhão de crianças, desde as primeiras doses de imunizante até completarem dois anos de idade.
Os pesquisadores compararam a quantidade de alumínio injetada e o número de eventos adversos, como o autismo e doenças autoimunes. No entanto, não foi encontrada uma associação entre o alumínio e os eventos adversos.
“Existe preocupação com excesso de exposição ao alumínio, que realmente pode causar malefícios à saúde humana, mas não por vacina”, observou.
Bravo lembra que o alumínio é um metal presente nas nossas vidas, inclusive em alimentos, utensílios e cosméticos.
“Nós somos expostos ao alumínio o tempo todo e a quantidade existente em vacinas, quando existe, é tão baixa, tão pequena, que é impossível que ela consiga causar algum malefício”, afirmou.
A médica explica que o alumínio é usado em alguns imunizantes para potencializar o processo inflamatório.
“Ele aumenta a inflamação local, recrutando células que vão apresentar o antígeno da vacina para o nosso sistema imune, tornando mais potente a resposta imune”, afirmou.