A enxaqueca constitui uma forma de cefaleia primária frequentemente observada na faixa etária pediátrica. No entanto, permanece subdiagnosticada, possivelmente em decorrência de sua apresentação frequentemente atípica nessa população.
Desenho de estudo
Neste contexto, foi realizada uma revisão narrativa estruturada sobre enxaqueca na pediatria visando abordar dados epidemiológicos, diagnóstico, comorbidades e manejo.
Para isso, bases de dados eletrônicas como o PubMed, Scopus e Web of Science foram utilizadas, sendo selecionados artigos publicados entre janeiro de 2010 e março de 2024, publicados em inglês, revisados por pares e que abordassem a cefaleia em crianças e adolescentes.
Resultados e Discussão
A enxaqueca, também conhecida como migrânea, apresenta gatilhos ambientais e comportamentais, os quais influenciam na frequência e gravidade das crises.
No que concerne aos aspectos epidemiológicos, a enxaqueca na pediatria é mais prevalente no sexo feminino e apresenta prevalência global variando de 7,7 a 17%, tendo aumentado nos últimos anos. Tal incremento pode estar associado ao aumento do tempo de exposição a telas por meio das redes sociais, por exemplo. Isso porque, induz esforço visual e compromete os ritmos circadianos. Estresse, higiene do sono inadequada e processos alérgicos também são contribuintes para as crises.
A manifestação clínica frequentemente se manifesta com sintomas atípicos como desconforto abdominal, tontura ou alterações do humor. Neste cenário, comumente o diagnóstico correto não é realizado pela falta de suspeição.
Neste cenário, preencher as lacunas quanto ao reconhecimento da enxaqueca pediátrica, implicará no melhor manejo. Sendo assim, aplicar critérios diagnósticos de adultos a crianças não deve ser uma prática rotineira, tendo em vista as particularidades da apresentação na infância.
Logo, diretrizes claras, atualizadas e baseadas em evidências sobre a migrânea na pediatria são essenciais, assim como o reconhecimento dos seus gatilhos tendo em vista que se não evitados, podem contribuir para a cronicidade da dor. No que se refere aos exames complementares, estes não devem ser solicitados de modo indiscriminado, sendo indicados na presença de sinais de alarme.
Cabe destacar ainda, que a conscientização familiar e da escola também é crucial tendo em vista o impacto de tal acometimento na saúde infantil tanto no aspecto emocional como cognitivo. Distúrbios gastrointestinais, ansiedade, depressão e absenteísmo escolar podem ser observados em função da dor. Portanto, valorizar as queixas da criança e evitar estigmatização dos seus sintomas auxilia no enfrentamento da condição.
No que concerne ao manejo, além da abordagem farmacológica e de assegurar o acesso a cuidados de qualidade, recomenda-se a implementação de medidas comportamentais, como higiene do sono adequada, prática regular de atividade física, reeducação alimentar e redução do tempo de exposição a telas.
Saiba mais: Diretrizes atualizadas sobre prevenção da enxaqueca em crianças e adolescentes
Conclusão
A revisão em análise destacou as peculiaridades clínicas e a morbidade associada à enxaqueca na população pediátrica, reforçando a necessidade de maior capacitação dos profissionais de saúde para o seu reconhecimento e manejo adequado. Ressaltou ainda a importância da abordagem integral ao paciente, que combine estratégias farmacológicas, intervenções voltadas à modificação do estilo de vida e atenção interdisciplinar, visando otimizar os desfechos clínicos e a qualidade de vida das crianças afetadas.