Mais uma derrota, mais um número para adensar os piores registos negativos, mais uma conferência em que deixou a ideia de sempre – por mais que os resultados não chegassem, o sistema e a filosofia nunca seriam alterados e se quisessem poderiam mudar o treinador. O que mudou? Nada. Durante o dia ainda foi sendo colocada em causa a continuidade de Ruben Amorim em Old Trafford devido à sucessão de insucessos mas, de acordo com a imprensa inglesa, a posição do treinador português continua segura e com margem até à próxima paragem para seleções de outubro, com os encontros frente a Chelsea, Brentford e Sunderland antes de nova interrupção na Premier League a serem fulcrais antes do regresso logo com uma viagem a Anfield.
Para o seu próprio mal, Ruben tinha mesmo razão e é uma piada fazer comparações: City vence United
Ainda assim, não são tempos fáceis para o antigo técnico do Sporting, que voltou a averbar nova derrota dos red devils na Premier League no dérbi de Manchester frente ao City. Numa temporada em que voltou a fazer um avultado investimento de 250 milhões de euros nas chegadas de um novo guarda-redes que ainda não se estreou (Senne Lammens) e de uma frente de ataque renovada com Bryan Mbeumo, Matheus Cunha e Benjamin Sesko, contrabalançando com saídas de elementos que estavam riscados das opções como Marcus Rashford, Garnacho, Onana, Höjlund, Jordan Sancho ou Antony, o United ganhou apenas um dos cinco encontros oficiais realizados, tendo pelo meio uma humilhante eliminação na Taça da Liga frente ao Grimsby Town, do quarto escalão inglês, no desempate por grandes penalidades após empate a dois.
Contas feitas, Ruben Amorim ganhou apenas oito partidas em 31 realizadas no Campeonato, tendo até uma percentagem acima de 50% de derrotas (16) e um saldo negativo de golos (13). A par disso, há indicadores que vão adensando o rol de críticas: o português tem a pior percentagem de vitórias entre todos os técnicos do clube desde a Segunda Guerra Mundial (ou seja, atrás de Wilf McGuinness, Frank O’Farrell, Dave Sexton, Tommy Docherty, Ron Atkinson,, Matt Busby, Louis van Gaal, David Moyes, Ole Gunnar Solskjaer, Erik ten Hag, José Mourinho e Alex Ferguson) e foi aquele que somou menos pontos olhando para o percurso na Premier desde que assumiu o comando dos red devils por troca com Ten Hag em novembro. Olhando para a presente época, este é também o pior início de Campeonato desde a temporada de 1992/93.
Since MD12 of 2024-25 (Ruben Amorim’s first game in charge of Man Utd), no ever-present Premier League team have performed worse than Manchester United (31 points from 31 games, -13 goal difference). pic.twitter.com/QSpz88PyEG
— Opta Analyst (@OptaAnalyst) September 14, 2025
“Se olharmos para os golos, são golos que conseguimos evitar. Essa foi a maior diferença. Sofremos golos em situações nas quais claramente podíamos ter feito melhor sobretudo no segundo. Começámos bem a segunda parte, estávamos a pressionar para chegar ao golo que reabria o jogo e até tivemos uma oportunidade de fazer o 2-1, que o [Bryan] Mbeumo podia ter marcado. Esses momentos caíram sempre para o adversário. E depois o terceiro golo… É difícil de descrever. Sofremos golos que podíamos evitar. Quando é só mérito do adversário, aceita-se, mas não podemos sofrer este tipo de golos”, comentou Ruben Amorim após a derrota com o City no Etihad Stadium, terreno onde tinha conseguido uma grande reviravolta em 2024/25.
Ruben Amorim’s win percentage is the worst of any permanent Manchester United manager since World War II ???? pic.twitter.com/dlcPGgDSPW
— Sky Sports Premier League (@SkySportsPL) September 15, 2025
“A frustração é sempre a mesma porque com o número de oportunidades que criamos temos de marcar. Se não marcamos, não abrimos o jogo e não conseguimos controlá-lo de forma diferente. Quando estamos a perder 2-0, sente-se que o golo pode aparecer mas se não voltamos a reabrir o jogo, é uma questão de tempo até sofrermos mais. Se subirmos mais jogadores, ficamos expostos em transição. É frustrante e há muito para trabalhar antes do próximo jogo. Isto não é registo que se deva ter no Manchester United. Há muitas coisas que não sabem que aconteceram nos últimos meses. Aceito isso, mas não vou mudar. Quando quiser mudar a minha filosofia, eu mudo. Caso contrário, se calhar, têm de mudar o treinador. Vou jogar com o meu estilo até entender que devo mudar”, acrescentou ainda na conferência depois do dérbi.
???? Rúben Amorim: “I will do everything I can for Man United. This is my message to the fans. I’m suffering more than them”.
❗️ I won’t change my philosophy. If they [INEOS] want it changed, you change the man”. pic.twitter.com/06JIhdVcur
— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) September 14, 2025
O cenário de uma possível viragem de rumo no United adensou-se esta segunda-feira mas tudo não passou de mais uma ameaça, à semelhança do que tinha acontecido a seguir à derrota com o Grimsby Town. Como assegura a Sky Sports, os dirigentes do clube não querem tomar decisões precipitadas como aconteceu no passado e olham para Ruben Amorim ainda numa ótica de mudança a médio/longo prazo no caminho que estava a ser levado em Old Trafford. No entanto, e apesar dessa confiança no perfil do treinador português, os resultados terão de começar a chegar com uma outra cadência – e é isso que ainda continua a faltar.
???? Rúben Amorim: “I will not change my phylosophy. I will continue with my ideas… if not, you have to chanfe change the man”.@BeanymanSports ???? pic.twitter.com/D544U90uXO
— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) September 14, 2025
“Foi uma derrota difícil mas espero que consigam dar a volta à situação. Recordo-me de estar aqui há quatro anos com o Ajax e vimos o jogo da Youth League. Amorim era treinador do Sporting e tive uma boa conversa com ele. Espero que consiga ter o apoio necessário da direção”, comentou esta noite Edwin van der Sar, ex-guarda-redes do Manchester United, à margem do Legens Charity Game que decorreu em Alvalade. “O Manchester United não está num bom momento há muito tempo. Quando Mourinho, Van Gaal, Solskjaer e David Moyes não conseguiram ter sucesso no United, isso mostra que não é só culpa dos treinadores. Há muita coisa que é preciso mudar e crescer para melhorar. Também precisa de paciência e de manter o treinador. As pessoas têm de perceber que vai ser um longo processo”, frisou o ex-avançado Michael Owen.
???? Rúben Amorim: “Sometimes I want to quit, sometimes I want to be here 20 years. I need to improve on that”.
“Every time we have one defeat like that, I am going to be like that. Sometimes I am going to say I hate my players, sometimes I am going to say I love my players”. pic.twitter.com/OIP2phOQS8
— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) August 29, 2025
Contudo, em Inglaterra, Ruben Amorim também não passa ao lado das críticas pelo momento atual. “Penso que haverá alguma pressão sobre o treinador e a sua inflexibilidade em relação ao sistema. Já vi o United perder este tipo de jogos e fiquei com raiva e frustrado. Agora, simplesmente não sinto nada, o que é ainda pior. Foi uma performance sem sentido. Na próxima semana, frente ao Chelsea, outra derrota e grandes questões começariam a ser feitas… O United está em 14.º e só houve quatro jogos. Não podemos chegar a outubro com o United em 14.º ou 15.º. O treinador estará em apuros. Têm de começar rapidamente a ganhar. Estou preocupado com o treinador e com o que vai acontecer nas próximas semanas. Não acho que seja altura de entrar em pânico mas já vimos este filme antes…”, disse o antigo capitão Gary Neville.
Roy Keane questioned Manchester United’s passion after losing 3-0 to Man City ???? pic.twitter.com/WC33CDGToh
— CBS Sports Golazo ⚽️ (@CBSSportsGolazo) September 14, 2025
“Apesar de todo o dinheiro gasto, continuam a ser uma equipa banalíssima, sem sinais de melhorias. Nenhum cartão amarelo. No clássico de Manchester normalmente está a chover e há faltas. Não deviam conseguir sair da cama por uma semana e nem um cartão amarelo houve! Tentem fazer uma falta. Tentem bater em alguém. O futebol é um jogo físico”, apontou outro antigo capitão, Roy Keane, também à Sky Sports. “O Harry [Maguire] deveria estar a jogar de início. Ouvi o Jimmy Floyd Hasselbaink a falar sobre como a Inglaterra sentiu a falta dele no Europeu porque é um líder. Fiquei sentado a pensar como é que ele não estava a jogar com os três defesas que estavam em campo. Deveria estar lá, há falta de liderança. No Etihad, pode perder-se o jogo mas não vi nenhuma entrada, ninguém a dizer ‘Não vou aceitar isto’. Quero ser o mais positivo e solidário possível com o treinador e os jogadores mas é muito difícil sentar-me aqui e dizer que estamos a ver uma progressão…”, reforçou outro ex-capitão, Wayne Rooney, em declarações à BBC.