Pergunta: Tenho dificuldade para dormir e já tentei coisas como limitar a luz azul e contar de trás para frente a partir de 100. Devo procurar um médico?

Ajustar a higiene do sono e tentar alguns truques na hora de dormir geralmente são boas ideias. Mas, às vezes, manter um horário fixo para dormir ou largar o celular não é suficiente.

Até 20% das pessoas nos Estados Unidos têm distúrbios crônicos do sono (de acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, 72% dos brasileiros sofrem com alterações no sono). No entanto, a maioria dos adultos nunca conversou sobre o assunto com um clínico geral. “Os médicos não perguntam o suficiente sobre isso, e as pessoas não acham que seja algo para procurar o médico”, diz Lawrence Epstein, especialista em sono no Brigham and Women’s Hospital, em Boston.

Embora os distúrbios do sono possam parecer óbvios, muitas vezes são mais sutis do que você imagina, e os especialistas recomendam ficar atento a certos sinais de alerta.

Problemas de sono são comuns entre a população em geral, mas pouca gente procura um médico para investigá-los Foto: Andrii Lysenko/Adobe Stock

Alguns motivos para procurar um médico por causa do sono

É normal ter uma noite ruim de sono de vez em quando, informa Philip Gehrman, diretor do laboratório de Sono, Neurobiologia e Psicopatologia da Universidade da Pensilvânia, especialmente se houver um fator claro de estresse, como uma grande prova ou um projeto de trabalho.

No entanto, especialistas dizem que há três principais motivos para procurar um médico — e algumas formas de diferenciar o que é normal do que é anormal.

  • Não consegue pegar no sono

Quando você está na cama, pode sentir a mente acelerada ou ter dificuldade para se acomodar. Esses podem ser sinais de insônia e síndrome das pernas inquietas, uma condição caracterizada por uma vontade incontrolável de mexer as pernas, explica Gehrman. Embora o estresse ou a anemia possam contribuir para ambas, muitas vezes não existe uma causa única para esses distúrbios.

Para receber um diagnóstico oficial, é preciso apresentar esses sintomas por pelo menos três meses. Mas você pode procurar ajuda antes disso, acrescenta Gehrman, especialmente se os sintomas estiverem piorando ou interferindo na sua vida.

Recorrer regularmente a álcool, cannabis, remédios ou até mesmo melatonina (sem recomendação médica) para adormecer também pode ser motivo de preocupação, alerta Dayna Johnson, epidemiologista da Escola de Saúde Pública Rollins, da Universidade Emory. Embora possam ajudar a adormecer rapidamente, essas estratégias prejudicam a qualidade do sono e podem mascarar um distúrbio subjacente.

  • Não consegue manter o sono

O sono não é um coma de oito horas, e é normal acordar algumas vezes, especialmente com o avanço da idade, destaca Brienne Miner, geriatra e especialista em sono na Yale Medicine. Mas, se esses despertares durarem mais de cinco a 10 minutos ou forem incômodos, isso pode indicar um distúrbio do sono ou outra condição médica, avisa Brienne.

Por exemplo, em uma pesquisa com adultos de 65 a 80 anos, problemas de bexiga, ansiedade e dor foram os três motivos mais comuns para dificuldades de sono, relata Brienne. Tratar essas condições muitas vezes melhora o descanso dos pacientes.

Alguns pacientes chegam a apresentar parassonias — comportamentos incomuns como andar, comer, gritar ou se debater durante o sono. Embora isso possa, às vezes, ser inofensivo, especialmente em crianças, pode atrapalhar o sono ou causar lesões, diz Pahnwat Taweesedt, especialista em sono no Stanford Health Care.

  • Não consegue se manter acordado durante o dia

É normal sentir um pouco de sono após o almoço, em um ambiente escuro ou em um sofá confortável, mas ter sonolência com frequência no trabalho, ao dirigir ou durante outras atividades importantes pode ser sinal de um problema sério, ressalta Epstein.

A apneia do sono, por exemplo, é uma condição em que o paciente para de respirar durante a noite. Você pode não se lembrar de roncar, engasgar ou até sufocar durante o sono, mas terá dores de cabeça pela manhã e sentirá cansaço ao longo do dia.

Em casos raros, a sonolência diurna pode ser sinal de narcolepsia, caracterizada por “ataques de sono”, em que a pessoa adormece de repente por alguns segundos ou minutos durante o dia. Esses pacientes também tendem a ter dificuldade para manter o sono à noite, comenta Brienne, embora os ataques de sono não estejam diretamente ligados a isso. Apesar de a narcolepsia soar dramática, nem sempre é óbvia: os pacientes esperam cerca de 10 a 15 anos até receberem um diagnóstico.

Como se preparar para a consulta

A maioria dos problemas de sono pode ser tratada pelo clínico geral ou com encaminhamento a um especialista em sono.

Durante a consulta, seja específico sobre seu problema: dificuldade para adormecer, para manter o sono ou sonolência diurna, orienta Taweesedt. Também considere manter um diário do sono por duas semanas antes, registrando os horários em que acorda e vai dormir, além de medicamentos, exercícios, consumo de álcool e cafeína. Mas não fique obcecado em monitorar o sono, já que isso pode piorar a situação.

Se possível, leve seu parceiro(a): ele pode ter notado sintomas que você não percebeu, observa Johnson. Dados de rastreadores de sono também podem ajudar, acrescenta Dayna, embora os dispositivos de consumo nem sempre sejam necessários.

Por fim, condições como obesidade, hipertensão, doença renal e Parkinson costumam estar associadas a distúrbios do sono, e muitos medicamentos prescritos impactam o sono, avisa Epstein. Portanto, pergunte ao médico sobre isso.

Embora seja útil, não é necessário ter tudo perfeitamente preparado antes de marcar a consulta. “Apenas vá”, recomenda Dayna. “Você não precisa anotar nada; não precisa fazer nada com antecedência.”

Este conteúdo foi publicado originalmente no The New York Times. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.