Ainda não dá para viver do café, apesar de beber dois cafés de cápsula por dia, tantos quantos o marido. Ao fim do mês são 120 cápsulas de alumínio, cujo destino era a reciclagem. Era, mas não é. Sandra percebeu que com aqueles “restos de alumínio era possível fazer coisas muito bonitas”. E assim criou a SandrArte, há dois anos.
Aos 51 anos, Sandra tinha um sonho: criar o seu próprio atelier e viver da sua arte. Não está sozinha no mercado — tem concorrência, mas é muito menos significativa do que noutras áreas do artesanato. “Esta é uma área que adoro e as pessoas não fazem ideias das coisas lindas que é possível fazer. Dá trabalho, mas resultam muito bem”, conta à New in Amadora.
Afinal, o que faz Sandra Baleizão? Aprendeu a moldar as cápsulas de alumínio — “em casa uso Nespresso, mas trabalho com outras marcas, desde que sejam em alumínio e há cápsulas lindas, versões especiais verdadeiramente únicas” — e foi construindo objetos únicos e personalizados.
“Primeiro, vi uns vídeos na Internet para perceber como se conseguia moldar o alumínio e, depois, assim que me senti segura, avancei.”
“Adorava dedicar-se às cápsulas a 100 por cento”
Sandra, que continua a trabalhar no Hospital de São José, no Gabinete de Contabilidade e Serviços Financeiros, já faz isto há quatro anos, mas só registou a marca há dois. Entretanto, começou a participar mais a sério em feiras e vender online as suas criações. “Claro que adorava dedicar-me a 100 por cento a isto, mas para não é possível, até porque em Portugal não se dá o devido valor ao artesanato”, lamenta.
“As pessoas gostam, ainda por cima se for uma coisa diferente, mas depois na hora de pagar, acham muito caro. Nós nunca pedimos o justo valor para o trabalho que fazemos, porque o cliente considera-o sempre muito elevado”, explica à NiA.
E apresenta um exemplo (que pode ver na galeria de fotos): “Os ramos de flores, que parecem verdadeiros, podem custar 20€. Acha caro? Eu não acho, quando um ramo de flores verdadeiro pode custar esse preço e até mais e ao fim de uma semana está no lixo”.
No início, a SandrArte fazia “só coisas mais básicas e pequeninas: flores, pulseiras, colares. Depois, passei para os castiçais, faço quadros, com cápsulas. São peças muito personalizáveis e muito dispendiosas e não posso estar a perder tempo com elas. Só as faço por encomenda.”
O Natal, afiança, é uma boa altura para o negócio. “Faço presépios por encomenda e anjinhos para pendurar nas árvores”, diz, acrescentando que o Natal de 2024 foi ótimo. “Espero que este ano seja, pelo menos, tão bom como o anterior.”
Quando sai do hospital, vai para casa e é lá que tem o seu “posto de trabalho”. “Vou às feiras e sou sempre a única artesã com trabalhos com cápsulas de cafés, o que também me diferencia das restantes artesãs.”
Sandra Baleizão reconhece que as feiras são uma excelente montra. “Muita gente não conhecia o meu trabalho, nem fazia ideia de que se conseguem fazer aquelas coisas com as cápsulas dos cafés que bebemos em casa. Ficam surpreendidos e acabam por comprar qualquer coisa. Os meus clientes conhecem-me sempre primeiro nas feiras, e ficam impressionados com a minúcia do meu trabalho”.
Ao contrário do que aconteceu com muita gente, a inspiração para criar os artigos da SandrArte não surgiu durante a pandemia. “Comecei antes. Bebemos muito café em casa e foi uma coisa que me ocorreu, um bocado por acaso. O meu marido apoiou-me logo, já sabe que sou um pouco maluca. Estamos casados há 25 anos, conhece bem a mulher que tem em casa”, conclui, entre risos.
Carregue na galeria para ver alguns dos trabalhos surpreendentes de Sandra.