Também a UNIR tem sido um grande problema para Gaia…
A UNIR foi um desastre, mas eu penso que é um problema global de conceptualização dos transportes urbanos que está errada. Os transportes urbanos da Área Metropolitana do Porto deveriam ter sido pensados na sua globalidade. Porventura ter havido até um concurso único para toda a mobilidade da área metropolitana, mesmo em termos de custos para os cidadãos e para os seus impostos. Com essa massa crítica de um milhão e meio de utilizadores é muito mais fácil negociar do que negociar município ou município.

Mas parte da culpa daquilo que se está a passar foi da Câmara ou não havia como prever que iria correr mal?
Foi muito da Câmara porque o atual presidente liderou muito esse processo na área metropolitana. Ele era o presidente da área metropolitana e, portanto, tinha esse duplo estatuto. Não quis enveredar por esse modelo de fazer uma negociação global que para mim era o que seria útil e em Gaia a UNIR os é pura e simplesmente um verdadeiro desastre.

Qual é que é o primeiro passo para reverter o problema?
Primeiro temos que ver o caderno de encargos da UNIR com o município, ver aquilo que está em incumprimento e se é suficientemente forte para poder, por exemplo, levar a uma a uma regressão total do contrato. Com ou sem a UNIR temos que pensar em alternativas muito mais modernas e muito mais eficazes. Hoje, no mundo, existem modelos que se adaptam muito à nossa realidade, como o modelo de Curitiba no Brasil. O nosso território é muito disperso e temos que definir equipamentos que são equipamentos chave, um deles é o metro, e temos que trazer o mais possível as pessoas a grandes estações do metro. E desses pontos temos que ter linhas diretas que funcionam de uma forma muito intensa, por exemplo das 7h00 às 10h00, num sentido, e à noite, das 17h00 às 20h00, no outro sentido. Os projetos tradicionais de mobilidade em Portugal não estão preparados para isso, não estão organizados dessa maneira.

Mas sem essa parceria com toda a Área Metropolitana do Porto, há forma de resolver?
Penso que é importante uma parceria com a cidade do Porto. É notícia quase todos os dias a questão da Via de Cintura Interna ser um bloqueio ao funcionamento de toda a Área Metropolitana do Porto e penso que Gaia e Porto têm que se juntar para encontrar soluções para os dois municípios que depois vão ter repercussão.

Já agora concorda com o seu colega de partido, Pedro Duarte, que quer portajar a VCI aos automóveis pesados?
Não, não concordo de todo. Não tem sentido.

Porque é que diz isso?
Isso que não ia resolver rigorosamente nada. Em primeiro lugar para conter o trânsito da VCI é preciso perceber para onde é que ele ia, se se ia atirar ao rio… Precisamos de novas travessias entre o Porto e Gaia, como tem Paris, como tem Frankfurt, com tem Budapeste. Uma continuação das ruas da cidade porque no fundo, Porto e Gaia são, no seu conjunto, duas cidades com realidades de gestão administrativa diversa, mas que têm muito em comum.

Tem alguma intenção de tornar gratuitos os passes de transporte em Gaia?
Devemos fazer contas e ver o que é justo. Um idoso de 70 anos que tem uma pensão de 10 mil euros do Banco de Portugal não precisa de passe. Sou muito social democrata, para poder ajudar os pobres não posso esbanjar com aqueles que felizmente são ricos — e não tenho nada contra os ricos, quantos mais ricos houver, melhor. Não pode ser algo de generalizado, tem que ser algo indexado aos próprios rendimentos das pessoas. Há um critério que se pode adotar:  todas as pessoas que tenham pensão mínima terem direito a um passe gratuito de transportes. Isso parece-me absolutamente justo e que esse valor possa ir até um bocadinho mais acima da pensão mínima.

E para os jovens?
Temos que ter também uma atitude parcimoniosa e de bom senso, embora neste momento já existam condições especiais para para estudantes e até para jovens trabalhadores. Mas temos que ter o mesmo critério que temos para os pensionistas.

Depende daquilo que recebem.
A não ser que o jovem trabalhador também receba 10 mil euros por mês de ordenado, o que não é muito vulgar.

Falava há pouco de Santo Ovídio, onde está previsto que passe o TGV. Está fechado, ao que tudo indica, que o TGV vai mesmo passar aqui em Gaia e que terá uma paragem aqui. Faz sentido Gaia ser uma paragem para o TGV e não só um ponto de passagem?
Acho que faz sentido, o que não faz sentido é haver duas estações a cinco quilómetros da outra. A estação de Gaia devia ser a estação Porto-Sul. Dois terços dos putativos utilizadores do TGV serão cidadãos de Gaia ou cidadãos da zona ocidental do Porto, de Matosinhos e Maia, que estão mais perto da Estação de Gaia do que de Campanhã. Não conheço nenhuma cidade em que o TGV pare de cinco em cinco quilómetros. Discordo disso, mas vinha vindimada, está vindimada, não vou discutir sequer o assunto. Há uma coisa que vou discutir, não concordo com a estação onde ela estava prevista e em Santo Ovídio não será. Para mim vai ser 300 metros abaixo, na fronteira de Santo Ovídio com Vilar de Paraíso, porque em Santo Ovídio ficava a cento e tal metros de profundidade, não tinha metro nem tinha previsto estacionamento, enquanto que na outra alternativa tem.

As últimas notícias dão conta da possível demolição até 135 casas. O que é que a Câmara pode fazer para travar isso?
É dizer que não aceita esse projeto.

Ainda tem essa possibilidade?
Claro que sim. Não vivemos na Coreia do Norte, não é chegar por aqui fora, com os bulldozers a deitar as casas das pessoas abaixo. Somos pessoas sensatas, podemos discutir, dialogar.

Estamos a passar agora no Parque da Cidade…
Fez ontem 20 anos que foi inaugurado o Parque da Cidade, que tem 12 hectares, onde fizemos um estádio municipal para para formação de jovens, onde temos dois centros de alto rendimento olímpico, onde há aqui ténis de mesa, onde temos um pavilhão municipal para cinco mil pessoas. Tudo isto foi feito, com uma escola incluída, dentro do parque.

Qual é a relevância de uma Câmara Municipal ter uma mão forte, no bom sentido, na questão do desporto e da juventude?
Em todo o mundo o foco da formação desportiva está no sistema educativo. Tenho filhos que estudaram em França e que tinham desporto e cultura dois dias por semana, obrigatoriamente. Os desporto dos nossos filhos é andar com aquelas malas às costas e passado um ano ou dois têm problemas de coluna, chegam a casa carregados de deveres para fazer em vez de brincarem com os pais e com os irmãos.

Devia haver uma reforma a sério no nosso sistema educativo?
Sem dúvida nenhuma e não percebo porque é que não há… é pegarem num avião e vão à Dinamarca, há uns low cost…

É copiar?
É copiar. Um grande Presidente da República estrangeiro, não posso dizer o nome porque posso ser mal interpretado, que conheci quando era presidente PSD, disse-me ‘Luís, sabe o que é difícil em governar? É fazer o óbvio’. Que nosso sistema educativo está completamente errado, que ensina o que não deve ensinar, que não ensina aquilo que devia ensinar, que ocupa as crianças até às 17h00, 18h00, que as carrega de deveres para casa, que as põe num inferno, as obriga a levantar às 07h00 ou às 06h30 da manhã, para chegarem com acessos difíceis às escolas… Dizer que isto é um sistema de ensino que funciona e que podemos estar muito satisfeitos com ele, só quem for cego.

As alterações previstas para a disciplina de Cidadania fazem sentido?
No sistema educativo japonês nos três primeiros anos de escolaridade não se ensina nada, ensina se cidadania, mas boa cidadania: respeito pela autoridade, educação, boas maneiras, saber comer à mesa. Acho que uma cadeira de cidadania faz sentido, mas com parcimónia, e que não seja com uma carga ideológica que esteja a tentar meter uma cassete na cabeça das crianças sempre no mesmo sentido.

Portanto, concorda que são precisas alterações?
Sim, são precisas alterações.