As curadoras da 11ª edição da Festa Litero Musical de São José dos Campos anunciaram na noite desta terça (16) que estão deixando o evento após a prefeitura da cidade determinar a exclusão da jornalista Milly Lacombe da programação do festival.
Em nota, elas afirmam que a decisão de sair da curadoria foi tomada com “muita indignação e revolta”.
“Após termos nos dedicado por um ano à pesquisa, à leitura e reuniões com um mergulho no tema ‘Eu sou porque nós somos’, fomos surpreendidas com a censura à presença de uma de nossas convidadas para a mesa de abertura. Justamente em uma edição que propusemos discutir a alteridade, a convivência com o outro e a importância do fazer coletivo, uma decisão arbitrária inviabiliza a nossa continuidade no projeto”, diz o texto.
Assinam o comunicado Alice Penna e Costa, Bianca Mantovani, Tania Rivitti e a assistente de curadoria Bruna Fernanda. Elas afirmam também que se sentiram desrespeitadas.
Por pressão de políticos de direita, o prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), decidiu cancelar a participação de Milly na festa, que será realizada neste final de semana na cidade.
Segundo ele, a motivação foram declarações dadas pela jornalista a um podcast em que ela estaria difundindo discurso de ódio contra a família tradicional. Em nota, ele disse também que a cultura de São José dos Campos não será “palco político-ideológico”.
Desde a semana passada, vereadores da cidade começaram uma campanha divulgando trechos das falas de Milly ao podcast Louva a Deusa pedindo que ela fosse desconvidada.
Nos cortes publicados nas redes, Milly afirma que a família brasileira, tradicional, branca, conservadora, é um “núcleo produtor de neuroses”, “é um horror” e é a “base do fascismo, falemos a verdade”.
À coluna, a jornalista diz que os cortes são “desonestos porque tiram de contexto uma manifestação por inclusão, amor e respeito”. “É triste saber que uma manifestação por respeito e inclusão dos jovens LGBT+ e da dignidade das mulheres no núcleo familiar possa ser ofensiva para tanta gente”, diz Milly.
Para Milly, pensamentos divergentes são parte do debate, “mas silenciamentos não”. “A liberdade de expressão foi publicamente cancelada por aqueles que ainda fingem defendê-la ardentemente”.
Ela acrescenta que a família “pode ser espaço de amor, mas também de insegurança para muitos de nós que não nos encaixamos, e uma sociedade madura saberia falar sobre isso”.
Veja a nota na íntegra:
“É com muita indignação e revolta que nós, curadoras da 11ª Festa Lítero Musical de São José dos Campos – FLIM, comunicamos a nossa retirada da curadoria da festa que estava prevista para iniciar nesta sexta-feira, 19 de setembro.
Após termos nos dedicado por um ano à pesquisa, à leitura e reuniões com um mergulho no tema “Eu sou porque nós somos”, fomos surpreendidas com a censura à presença de uma de nossas convidadas para a mesa de abertura. Justamente em uma edição que propusemos discutir a alteridade, a convivência com o outro e a importância do fazer coletivo, uma decisão arbitrária inviabiliza a nossa continuidade no projeto.
Assinamos, nos anos de 2023 e 2024, duas edições que trataram de temas como AMOR e TEMPO, levando para São José dos Campos discussões relevantes, sempre com muito respeito e cuidadosamente pensada.
Enquanto trabalhadoras da cultura que prezam pelo diálogo, pelo pensamento crítico e escuta ativa, nos sentimos desrespeitadas com essa decisão e decidimos, coletivamente, por encerrar nossa participação no festival.”
Alice Penna e Costa
Bianca Mantovani
Tania Rivitti
curadoras
Bruna Fernanda
assistente de curadoria”
com DIEGO ALEJANDRO, KARINA MATIAS e VICTÓRIA CÓCOLO
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