Chama-se O meu São Francisco e é uma obra póstuma do Papa Francisco, que será lançada nesta quinta-feira, 18 de setembro. O livro inclui uma carta do Papa Leão XIV, que o leu em primeira mão e sobre essa experiência partilha: “quase permite ouvir novamente a voz do Papa Francisco”.
Apresentado na semana passada em Assis, o livro retrata o profundo vínculo entre o Papa Francisco e o santo que viveu naquela cidade italiana, e de quem escolheu o nome. A publicação é fruto de uma conversa entre o Papa Francisco e o prefeito do Dicastério das Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, ocorrida ao longos dos últimos meses de 2024.
Na carta assinada por Leão XIV, o Papa agradece a Semeraro por esta publicação e destaca que Francisco não “assumiu” apenas esse nome, “mas também procurou identificar-se com ele para torná-lo o rosto da sua nova missão”. A missiva, datada de 22 de maio (um mês após o falecimento de Bergoglio), sublinha também que “ainda não desapareceu do nosso ânimo o efeito provocado” pela sua morte, tema que também é abordado no livro. Leão XIV cita a resposta do Papa argentino à pergunta sobre se tinha medo de morrer: “Quando se é idoso, percebe-se que não falta muito para o fim, e então torna-se também uma graça poder preparar-se para a morte, poder reler o próprio passado agradecendo ao Senhor por tudo o que nos deu”.
Para Parolin, um “testamento espiritual”
O livro inclui ainda um prefácio do secretário de Estado do vaticano, cardeal Pietro Parolin, onde este explica que “quando nos afeiçoamos a um santo é porque o descobrimos como amigo e fonte de inspiração” para “viver com alegria o Evangelho” e “foi assim que aconteceu com o Papa Francisco” em relação a São Francisco de Assis. Para o cardeal, a influência deste santo sobre Jorge Mario Bergoglio é visível “nas entrelinhas da sua existência, no seu comportamento, nas suas escolhas preferenciais, nos seus afetos e desejos, e também nos encontros e factos que ele viveu”.
Parolin destaca como, no livro, o Papa Francisco relembra vários momentos e experiências vividas ao longo da sua vida e “parece quase saborear novamente os traços abençoados que o exemplo de São Francisco deixou na sua alma, ajudando-o a ser um pouco como ele, tão grato ao Senhor e desejoso de descobri-Lo presente nos pobres, de amá-Lo naqueles que sofrem e estão sozinhos”.
Para o secretário de Estado do Vaticano, este “testemunho” obtido nos últimos meses de vida de Francisco é quase “um seu ‘testamento espiritual’ feito de memórias vivas e ações de graças”. E assinala que “o olhar luminoso e sereno” do Papa, nos últimos dias da sua vida, parece também “estar em sintonia” com a alegria e a gratidão a Deus que o santo de Assis expressou quando já estava perto do fim da sua própria vida.
A morte uma semana depois dos rascunhos prontos
A apresentação do livro, em Assis. Foto © Vatican Media
Durante a conferência de imprensa em Assis, o cardeal Semeraro reiterou que “o Papa Francisco interiorizou a figura do santo de Assis” e isso refletiu-se tanto no estilo com que conduziu o seu pontificado, quanto na maneira como enfrentou as situações. “A santidade de São Francisco pode ser uma chave interpretativa do ministério petrino” de Jorge Mario Bergoglio, afirmou. O cardeal referiu como prova disso mesmo as várias encíclicas por ele escritas e inspiradas em São Francisco de Assis, como a Laudato Si’ e a Fratelli tutti, mas também o compromisso com a paz, o diálogo com o Islão e outras religiões, e o cuidado da criação. Semeraro mencionou ainda a insistência do Papa Francisco em observar o mundo a partir das periferias, “dos descartados”, e em promover uma “Igreja em saída” como um comportamento ao “estilo franciscano”. O Papa “de certa forma mostrou a figura de Francisco de Assis como uma orientação para a Igreja de hoje”, concluiu o cardeal.
Por fim, em resposta à pergunta sobre se havia algum elemento do texto que lhe fosse particularmente querido, o cardeal afirmou que ainda o “comove” o fato de este falar sobre o envelhecimento e a preparação para a morte. E recordou que, em 2024, ano em que o livro foi escrito, não poderia imaginar que, no ano seguinte, uma semana depois de saber que os rascunhos estavam prontos, Francisco morreria. “No livro, ele também falou sobre isso: estar disposto a deixar e restabelecer as relações para viver em paz”.