Viena, Áustria – Pensar em comida faz parte da rotina de qualquer pessoa, seja ao planejar compras ou organizar a próxima refeição. No entanto, especialistas têm chamado atenção para um fenômeno conhecido como “ruído alimentar” ou food noise, que vai além desses movimentos naturais. O termo descreve um fluxo constante, obsessivo e intrusivo de pensamentos relacionados à alimentação.

Diferentemente da fome real, ele não está necessariamente ligado à necessidade de energia do corpo. Apesar de pouco conhecido, pesquisas apontam que o “ruído alimentar” é vivenciado pela maioria das pessoas com obesidade e pode ter impacto direto na saúde mental, desencadeando sentimentos como culpa, vergonha e ansiedade.

Além disso, a intensidade desses pensamentos pode atrapalhar a concentração em diferentes áreas da vida e dificultar os esforços de quem busca perder peso de forma saudável. Um estudo divulgado pela Novo Nordisk, nessa terça-feira (16/9), durante o congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD) 2025, em Viena, mostrou que pacientes em tratamento com Wegovy (semaglutida 2,4 mg) apresentaram redução significativa do chamado “ruído alimentar”, além de melhorias no bem-estar mental e no estilo de vida.

A pesquisa INFORM, realizada nos Estados Unidos com 550 pessoas, apontou que o número de participantes que relataram pensamentos constantes sobre comida ao longo do dia caiu 46 pontos percentuais após o início do tratamento. Antes do uso de Wegovy, 62% afirmavam ter esse tipo de pensamento, contra 16% durante o tratamento.

O estudo ainda mostrou que 60% dos entrevistados relataram impacto negativo do “ruído alimentar” em suas vidas antes do início da terapia. Esse percentual caiu para 20% após o uso do medicamento. Ainda de acordo com o levantamento, cerca de dois terços (64%) disseram ter registrado melhora na saúde mental, enquanto 76% relataram adotar um estilo de vida mais saudável e 80% afirmaram ter desenvolvido hábitos mais equilibrados.

“Uma coisa interessante que o estudo mostrou é que não só há uma redução no “ruído alimentar”, mas as pessoas também relatam que passaram a fazer escolhas mais saudáveis. Agora, na pesquisa, não perguntamos o que isso significa. Mas especularia que elas começaram a comer menos fast food, porque não têm aquela vontade de correr para a geladeira ou de pedir um delivery. Elas também podem cozinhar ou escolher algo mais saudável na prateleira do supermercado,” enfatiza Emil Larsen, vice-presidente Executivo de Operações Internacionais da Novo Nordisk. 

Qualidade de vida

Marília Fonseca, diretora da área médica da Novo Nordisk no Brasil, avalia o impacto do “ruído alimentar” na vida das pessoas. “Esses pensamentos constantes sobre comida podem prejudicar o desempenho no trabalho, no rendimento escolar, na atenção e até nas atividades cotidianas que exigem foco. Além disso, podem estar associados à ansiedade, estresse e até insônia. É como se a pessoa passasse grande parte do tempo ocupada com a próxima refeição, o que compromete não só a saúde mental, mas a qualidade de vida como um todo”, explica.

O Wegovy

No Brasil, Wegovy foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2023 e chegou às farmácias em agosto de 2024. O medicamento é indicado como complemento à dieta com restrição calórica e aumento da atividade física para adultos com obesidade (IMC ≥30 kg/m²) ou sobrepeso (IMC ≥27 kg/m²) associado a comorbidades. Também pode ser prescrito para adolescentes a partir de 12 anos com obesidade e peso superior a 60 kg.

A repórter viajou a convite da Novo Nordisk.