A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em abril deste ano, um novo remédio para o tratamento da insônia. Chamado de lemborexante, o produto foi registrado com o nome comercial Dayvigo e a expectativa dos médicos é que chegue ao mercado nacional nos próximos meses.

O novo medicamento e a eszopiclona, droga aprovada pela Anvisa em 2019, foram considerados os remédios mais eficazes para o tratamento do distúrbio em adultos em uma metanálise conduzida por pesquisadores de Oxford e publicada na revista The Lancet em 2022.

Para especialista, apesar dos indícios positivos, só será possível afirmar que o lemborexante tem menor risco de dependência daqui a alguns anos Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock

O estudo avaliou pesquisas sobre 36 medicamentos usados no combate à insônia, considerando a qualidade do sono dos participantes, os efeitos dos diferentes tratamentos, a presença de efeitos adversos e as consequências da interrupção da terapia. Juntos, os testes totalizavam 44 mil pessoas.

Como o remédio funciona?

Luciana Palombini, médica do sono e integrante da Academia Brasileira do Sono (ABS), explica que o lemborexante pertence a uma nova classe de medicamentos chamada de antagonistas da hipocretina ou orexina, um neurotransmissor envolvido na vigília e na regulação do estado de alerta. No organismo, o medicamento funciona como um bloqueador, diminuindo a ação da hipocretina.

Segundo Luciana, estudos iniciais sugerem que o medicamento tem menor risco de causar dependência, ao contrário das chamadas “drogas Z”, como o zolpidem e a zopiclona, que estão entre as mais consumidas no Brasil no tratamento da insônia.

As drogas Z agem no Gaba-A, um tipo de receptor para o neurotransmissor Gaba, principal inibidor do sistema nervoso central. Elas foram desenvolvidas para uso por curtos períodos e em baixa dosagem, mas algumas pessoas passaram a tomar essas medicações de forma recreativa.

“As drogas Z também atuam em receptores que ajudam a melhorar o bem-estar e o sentimento de estresse e, por conta disso, muitas pessoas estavam usando essas medicações ao longo do dia e não de noite, para dormir. Com isso, o risco de dependência cresce ainda mais”, comenta.

Pedro Genta, médico do sono e professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), no entanto, lembra que, quando as drogas Z surgiram, elas também tinham a promessa de ter um baixo risco de dependência.

Para ele, apesar dos indícios positivos, só será possível afirmar que o lemborexante tem menor risco de dependência daqui a alguns anos, quando o medicamento for usado de forma mais ampla.

Quais as contraindicações?

A bula informa que a dose recomendada é de 5 mg, administrada apenas uma vez por noite, alguns minutos antes de o paciente ir para a cama. A ingestão deve ocorrer pelo menos 7 horas antes do horário previsto para despertar e, a depender da resposta clínica e da tolerabilidade, a dose pode ser aumentadas para até 10 mg.

Para Genta, o uso não deve ser contínuo. “Quando há uma atividade no dia seguinte que gera certa ansiedade e pode precipitar uma noite de insônia mais intensa, (o paciente) pode usar a medicação de forma mais pontual, o que diminui o risco de dependência.”

As principais reações adversas associadas ao uso do medicamento, com incidência acima de 2% nos ensaios clínicos, são sonolência e fadiga. A paralisia do sono também foi identificada, mas com menor incidência.

O remédio é contraindicado para pacientes com narcolepsia, distúrbio do sono caracterizado por sonolência excessiva durante o dia, mesmo quando a pessoa dormiu bem à noite. Ele também não é recomendado para pacientes com insuficiência hepática grave, crianças e adolescentes.

Quanto vai custar?

Apesar de o lemborexante ter sido aprovado pela Anvisa, ele precisa ter o valor máximo de venda aprovado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), o que não ocorreu até o momento.

A decisão de quando ele será comercializado é da empresa detentora do registro, a farmacêutica japonesa Eisai, que ainda não divulgou a data de lançamento.

Medicamentos não são a primeira opção

O tratamento medicamentoso não é a primeira opção no combate à insônia. “A primeira abordagem, e isso é um consenso internacional, é a terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I)”, destaca Luciana.

“Quem apresenta queixas de insônia geralmente tem hábitos noturnos inadequados, como o uso excessivo de telas, ou um estilo de vida que mantém o problema. O tratamento comportamental busca justamente identificar esses comportamentos e ajustá-los junto com a rotina da pessoa”, adiciona.

Quando o tratamento sozinho não traz os resultados esperados, pode ser feita a prescrição de medicamentos. O ideal, porém, é que eles sejam usados de forma temporária, sempre com acompanhamento profissional e em conjunto com a TCC-I.