SkyExpert considera que há várias razões para a companhia alemã não ir até ao fim do processo de privatização, incluindo questões concorrenciais na Europa e EUA e a aposta na italiana ITA.

A consultora de aviação SkyExpert acredita que há “chances mínimas da Lufthansa apresentar uma proposta vinculativa pela TAP”.

Entre os riscos identificados estão os remédios que seriam impostos pelas autoridades da concorrência europeia e norte-americana sobre este negócio “que o tornariam inviável”.

“A Lufthansa já se retirou de processos semelhantes sem apresentar proposta como aconteceu recentemente com a Air Europa, mas obviamente ficará nesta corrida pela TAP até ao fim para perceber melhor e em detalhe que companhia é que os seus rivais estão a comprar”, disse em comunicado Pedro Castro, diretor da consultora portuguesa.

Em particular, a consultora aponta que a companhia alemã pretende antecipar para 2026 o aumento da participação na italiana ITA Airways. “É um sinal inequívoco de que a TAP não fará parte da estratégia de crescimento do grupo alemão, sendo que o plano germânico para a ITA Airways é justamente expandir para o Brasil e África – os mercados da TAP”.

Há outra questão a ponderar, segundo a consultora: a partir de janeiro, o grupo Lufthansa vai centralizar ainda mais todos os serviços comuns a todas as suas companhias em Frankfurt o que é “incompatível com o modelo acionista previsto para a TAP semi-pública e com a visão do Estado português, acionista maioritário, de manter o centro decisório em Lisboa”.

“Os 44,9% da TAP e a incerteza sobre uma aquisição total seriam um retrocesso no modelo que o grupo alemão vai seguir em 2026 com as suas companhias e que é um caminho que faz todo o sentido para a Lufthansa e suas sucursais”, segundo o analista.

Nos temas concorrenciais, a SkyExpert aponta que uma eventual consolidação entre as duas empresas irá ser o que “levantará mais obstáculos na Europa e na América do Norte”, face ao acordo entre a United e a Air Canada.

A consultora sublinha que na Europa, TAP e Lufthansa “seriam monopolistas nas rotas Lisboa-Bruxelas, Lisboa-Frankfurt e Lisboa Munique, e tenderiam a sê-lo nas ligações Lisboa-Zurique, Lisboa-Viena e Lisboa-Roma”: “isto implicaria uma maior cedência de slots em Lisboa e nos aeroportos de destino numa dimensão incompatível com o objetivo do Governo português de reforçar a operação da TAP no aeroporto da Portela”.

Face a outros grupos europeus, estes teriam “apenas uma rota europeia em situação monopolista”.

“Independentemente da situação de rotas específicas, qualquer consolidação implicará sempre concessões de slots na Portela, mas no caso da Lufthansa o cenário é pior”, esclarece Pedro Castro.

No outro lado do Atlântico, a consultora conclui que “tanto a administração Biden como a de Trump já demonstraram elevada sensibilidade ao acesso das transportadoras americanas a aeroportos congestionados”, como no caso recente da JetBlue que admite recorrer à justiça para contestar a falta de acesso a slots em Lisboa.

“A situação torna-se ainda mais complexa pelo facto da United e a Air Canada – parceiras transatlânticas da Lufthansa – serem as transportadoras norte-americanas com maior presença em Portugal”, com um total de 9 voos diários para até 5 aeroportos nacionais, face aos dois voos diários da Delta (em aliança com Air France-KLM) e o voo diário da American Airlines (em parceria com a IAG).

“O mesmo tipo de condicionamento que foi imposto à ITA, ao ser proibida de aderir à aliança transatlântica da Lufthansa, seria inevitavelmente replicado na TAP, mas com um grau ainda mais severo de cedência de slots específicos para determinadas rotas e com a TAP de fora desta aliança comercial sobre o Atlântico Norte, as dificuldades nas rotas do Atlântico Norte serão muitas”, alerta Pedro Castro.

Tendo em conta o peso e rentabilidade do Brasil e da África lusófona, a SkyExpert conclui que a TAP “representaria essencialmente um fardo para a Lufthansa: prejuízos financeiros, de ajuste organizacional e operacional com o resto das empresas e com a aliança Atlântica, para além dos potenciais impactos de reputação, de cotação em bolsa e de governança devido ao comportamento do acionista maioritário”.

Sobre o investimento recente da Lufthansa Technik em Portugal, o consultor afasta uma relação com o processo de privatização da TAP, pois tem investimentos semelhantes em Malta, Bulgária e Hungria, mas a Lufthansa não investiu no capital de companhias locais. “Esses investimentos continuam a fazer sentido mesmo se a TAP pertencer a outro grupo aeronáutico”.