Durante quase duas horas, que correspondem a um período de dois anos, há gritos, palavrões, confrontos, reflexões e angústias em palco, pela voz de dois homens: mestre e discípulo. São Mark Rothko, pintor consagrado a braços com um dilema, e Ken, jovem assistente e aspirante a pintor sem papas na língua. É à volta deles que gira Vermelho, espetáculo em estreia nesta quinta-feira, 18 de setembro, no Teatro Carlos Alberto (TeCA), no Porto, com João Reis na pele de Rothko e Daniel Silva como ajudante. Trata-se de uma adaptação de Red, do norte-americano John Logan, apresentado pela primeira vez em 2009, em Londres, depois na Broadway, e vencedor de seis prémios Tony, entre eles o de melhor peça teatral.

Essa que é a mais recente criação do Ensemble – Sociedade de Actores, com encenação de Carlos Pimenta, propõe-se “refletir sobre o lugar da arte na sociedade capitalista”, tendo por base uma história real. Em fins de 1950, Rothko recebeu uma encomenda do restaurante nova-iorquino Four Seasons, no edifício Seagram de Philip Johnson e Mies van der Rohe: conceber um conjunto de murais, a troco de uma quantia bem choruda. Assaltado pelas dúvidas, pelo desconforto de ver o seu trabalho exposto num espaço de índole comercial, onde não seria devidamente apreciado, acabaria por declinar o pedido. Eis o pano de fundo de Vermelho.

Num cenário despojado, com uma cadeira e pouco mais, vão sendo projetadas obras em construção. O objetivo é transportar-nos para o ateliê do artista sem o mostrar imerso em tintas e pincéis, antes a contemplar o trabalho em curso. E aí surge inquieto, imerso em cigarros e bebidas. O diálogo que estabelece com o ajudante, Ken, é intenso na forma como no conteúdo. Mal se nota o tempo a passar, tão eletrizantes se revelam as atuações de João Reis e Daniel Silva. Não raro, levantam as vozes, em acesa discussão. Mesmo quando o tom se suaviza, enchem a sala.