Dong Jun, ministro da Defesa da República Popular da China, abordou nesta quinta-feira vários temas internacionais, num discurso sobre segurança e geopolítica, que mereceu grande atenção da imprensa estatal chinesa, e que incluiu críticas indirectas aos Estados Unidos e reforço das reivindicações de Pequim sobre Taiwan ou o mar do Sul da China.
Na linha das intervenções de Xi Jinping, Presidente do gigante asiático, na última cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai e nas comemorações chinesas dos 80 anos do final da II Guerra Mundial, Dong disse que as relações internacionais estão a ser “ofuscadas pela mentalidade de Guerra Fria, pelo hegemonismo e pelo proteccionismo” e pelos países que escolhem a “confrontação” em vez do “diálogo” para resolver as suas divergências.
“As interferências militares externas, a procura de esferas de influência e a coerção de outros para que tomem partido vão conduzir a comunidade internacional ao caos”, denunciou o ministro na abertura do Fórum Xiangshan, em Pequim, dedicado a assuntos de segurança e defesa na região da Ásia-Pacífico, citado pelo South China Morning Post.
“Os países destes blocos vêem os outros como amigos ou inimigos Para manterem a legitimidade, têm de criar adversários e continuar a alimentar a divisão e a exportar o caos. Temos de permanecer altamente vigilantes e opor-nos a tais movimentos”, criticou, numa crítica velada aos EUA e à Administração Trump.
Dong Jun denunciou ainda os países que, segundo ele, se movem por uma “obsessão pela superioridade absoluta em termos de poderio militar”. “[Essa] abordagem vai levar a um mundo dividido [e] definido pela lei da selva e pela desordem”, atirou ainda.
O facto de China ter o maior Exército do mundo e estar a aumentar consecutivamente o investimento anual nas suas Forças Armadas praticamente desde que Xi chegou ao poder, em 2013, não parece entrar no âmbito destas críticas do ministro, que sublinhou a dimensão dissuasora do Exército da Libertação do Povo Chinês (ELP), descrevendo-o como uma força de “paz, estabilidade e progresso.”
Os críticos e opositores da China acusam, no entanto, Pequim de ter dois pesos e duas medidas, não só nesta matéria, mas principalmente tendo em conta que denuncia “interferências militares externas” e “esferas de influência” ao mesmo tempo que reforça todos os dias a sua parceria estratégica com a Rússia, de Vladimir Putin, e recusa condenar a invasão russa da Ucrânia.
Em mais uma crítica aos EUA, o ministro da Defesa denunciou também as “potências extra-regionais” que diz que estão a usar a defesa da “liberdade de navegação” para “provocações” no mar do Sul da China.
Citando “direitos históricos”, Pequim reclama a soberania de quase 3,5 milhões de quilómetros quadrados (quase 90%) daquele mar, ignorando as reivindicações territoriais das Filipinas, do Brunei, da Malásia ou do Vietname, e construindo infra-estruturas em zonas disputadas.
Dong falou ainda sobre Taiwan, a ilha governada de forma autónoma desde 1949 e democrática desde o final dos 1980, que é reivindicada pelo Governo da China comunista como uma província chinesa “ocupada”.
Na lógica da recusa chinesa em “renunciar à força” para cumprir esse “desígnio histórico”, o ministro assegurou que o ELP, enquanto “força defensora da reunificação nacional”, “nunca permitirá quaisquer tentativas separatistas de independência de Taiwan tenham sucesso”. “O regresso de Taiwan à China é parte integrante da ordem internacional do pós-guerra”, defendeu.