A Reserva Federal dos EUA decidiu nesta quarta-feira, como era consensualmente previsto pelos analistas, cortar a taxa de juro diretora do dólar em 25 pontos-base, para um intervalo entre 4% e 4,25%. É a primeira descida das taxas de juro desde dezembro do ano passado e surge após longos meses de pressão intensa por parte de Donald Trump, que tomou posse para um novo mandato como Presidente dos EUA em janeiro, para que as taxas de juro fossem reduzidas. E é provável que os próximos meses tragam mais descidas.
Tendo sido um corte de apenas 25 pontos-base, tipicamente a “dose mínima” quando um banco central baixa ou sobe as taxas de juro, a redução dos juros poderá ser, para Donald Trump, uma mudança demasiado pequena (e demasiado tardia) – o Presidente dos EUA voltou, nos últimos dias, a pedir uma “grande” descida dos juros. Stephen Miran, conselheiro de Trump que acaba de entrar no conselho, foi o único a querer um corte maior nas taxas de juro, de 50 pontos-base.
Mas Jay Powell e os restantes membros do comité da Reserva Federal dos EUA que decide sobre taxas de juro (excepto Miran) preferiram começar com um pequeno passo, embora seja também consensualmente previsto pelos analistas que o banco central deverá fazer mais cortes nos próximos meses. A Fed confirma isso mesmo, no comunicado divulgado nesta quarta-feira, sinalizando que pode haver mais 50 pontos-base de cortes até ao final do ano.
Com a inflação ainda a dar sinais de não estar controlada com toda a firmeza, o banco central optou, assim, por uma descida de pequena dimensão – até porque um corte maior, como de 50 pontos-base (meio ponto percentual), poderia surpreender os investidores e levá-los a recear que a Reserva Federal pudesse, de alguma forma, ter razões para ter um maior grau de preocupação com a economia do que aquele que é partilhado pela generalidade dos analistas.
Os últimos dados divulgados apontam para um crescimento mais moderado do emprego nos EUA, com um ritmo menor de criação de novos postos de trabalho, um sinal de que o mercado laboral estará a perder alguma dinâmica. Nesse contexto, dado o duplo mandato da Fed (controlar a inflação e zelar pelo mercado de trabalho), os membros do comité da Fed consideraram que era adequado um pequeno alívio monetário para evitar uma deterioração mais acentuada.
“Os riscos negativos no mercado de trabalho aumentaram“, confirma a Fed no comunicado divulgado nesta quarta-feira. Na habitual conferência de imprensa para explicar as razões da decisão do banco central, Jay Powell mostrou que a Fed está nesta fase mais preocupada com os riscos para o crescimento económico e para o mercado de trabalho do que para a inflação – embora as taxas de inflação, sobretudo nos bens (menos nos serviços), continua num nível elevado.
Por outro lado, o presidente da Fed salienta que um dos fatores por detrás da fraqueza no mercado de trabalho poderá estar relacionada com a menor imigração e uma menor taxa de participação no mercado laboral.
Powell disse que a Fed “fez bem” em esperar para perceber os impactos da política económica e comercial (tarifária) de Trump, mas nesta fase considerou que um corte das taxas de juro de 25 pontos-base. Apesar da dissidência do novo governador, Stephen Miran, que queria 50 pontos, Powell sublinhou que “não houve, de todo, um apoio generalizado no sentido de um corte de 50 pontos – nós já o fizemos, subidas ou descidas de 50 pontos, mas em momentos em que tínhamos evidência de que a política monetária estava desajustada e era preciso fazer um movimento maior”.
“Está muito enraizado na nossa cultura que nós fazemos o nosso trabalho de acordo com os dados que temos, as pessoas podem não acreditar mas não sentimos qualquer influência política, tomamos as nossas decisões como sempre tomámos”, afirmou Jay Powell, recusando fazer qualquer comentário acerca do caso judicial que está em curso relacionado com a demissão anunciada (mas não concretizada, para já) de uma das governadoras da Fed, Lisa Cook.
Esta descida das taxas de juro foi sinalizada por Jay Powell em agosto, no simpósio anual da Fed em Jackson Hole, Wyoming. Apesar de assinalar que o mercado de trabalho continua robusto e que a economia tem mostrado “resiliência”, Powell admitiu que os riscos de desaceleração estavam a aumentar. Ao mesmo tempo, alertou que as tarifas comerciais podem reavivar pressões inflacionistas, criando um cenário de estagflação que a Fed quer evitar.
Um “novo equilíbrio de riscos pode justificar uma mudança de rumo”, afirmou, numa mensagem que foi claramente entendido pelos analistas como um sinal de que a Reserva Federal estava a caminhar para uma – ou mais – descidas da taxa de juro.