Naquele que é o “dia zero” da Sword Health, unicórnio com ADN português, no seu primeiro escritório em Lisboa, Virgílio Bento declara apoio à recandidatura de Carlos Moedas às próximas eleições autárquicas. Sob o olhar atento do autarca, o empresário diz que o conhece “há muitíssimos anos” e que sempre viu o seu “compromisso com Lisboa, para tornar Lisboa uma capital internacional, mas sem se esquecer das pessoas”. Se mostra estar ao lado de Moedas (PSD) na capital, no Porto é mandatário da candidatura do antigo ministro socialista Manuel Pizarro.

“As pessoas perguntam: ‘Mas apoias o PS e o PSD?’ É-me indiferente os partidos. Os partidos não significam nada. O que significa são as pessoas. Eu apoio as pessoas“, justifica Virgílio Bento, que é fundador e CEO da Sword, explicando o facto de ter começado recentemente a posicionar-se publicamente em questões políticas com a necessidade de “ter um papel ativo contra o extremismo” que “está a subir ao poder”. Para as eleições autárquicas, o empresário vai às urnas no Porto. Por isso, votará em Pizarro. “Se estivesse em Lisboa, votava no Carlos Moedas”, acrescenta, provocando risos aos presentes na inauguração do novo escritório da empresa.

Desenhado para replicar o aspeto visual do escritório que a Sword Health tem no Porto há cinco anos, o espaço em Lisboa vai acomodar os cerca de 100 funcionários que até então trabalhavam em espaços partilhados e aqueles que entretanto se juntarem à equipa. A tecnológica, que atua na área da saúde, tem mais de mil trabalhadores, metade em Portugal, e mais de 100 vagas abertas, procurando reforçar as áreas de inteligência artificial, tecnologia, produto e operações. O investimento feito no espaço não é revelado pela tecnológica, com Virgílio Bento a dizer que não faz “a mínima ideia” do valor. “Foi mais caro do que eu queria, mas não sei quanto é que foi.”

Em declarações aos jornalistas, no final de uma inauguração que contou com a presença de Carlos Moedas e do Governo, na figura do secretário de Estado da Saúde, Francisco Rocha Gonçalves, Virgílio Bento revela que a família está “absolutamente contra” a sua associação à política e que isso tem “impacto” na sua “posição pública”, mas garante que a opinião das pessoas é “um bocado indiferente”. E rejeita que possa ter impacto na empresa que lidera: “Tem um grande custo a nível de exposição pública pessoal, mas a nível da Sword é completamente indiferente. A Sword tem zero receitas de Portugal. As nossas receitas são dos Estados Unidos. Nós estamos completamente impermeáveis a isso tudo.”

Questionado sobre a posição política que adotará no futuro, em eleições, como as legislativas, em que o perfil do candidato não assuma tanta relevância como as autárquicas, o empresário diz que “provavelmente” não apoia ninguém. “Mais uma vez, eu não apoio o PS, nem o PSD. Apoio o Manuel Pizarro e o Carlos Moedas. Nas eleições legislativas é diferente. Já estamos a eleger deputados e esses deputados votam. Aí, provavelmente, não apoio ninguém. Ou… não sei, não faço a mínima ideia. Mas esse modelo é diferente”, considera, em resposta ao Observador.

Virgílio Bento e Carlos Moedas conheceram-se “há muito tempo”, em Bruxelas, quando o autarca era Comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. “Encontrei no Virgílio uma pessoa incrível. Vínhamos os dois de uma pequena cidade, ele da Guarda, eu de Beja, e tínhamos passado uma vida com algumas dificuldades. Isso ligou-nos desde o princípio”, afirma Moedas, antes de elogiar a “energia enorme” do empreendedor. “Eu tenho muita honra de ter sido o comissário europeu que, no fundo, assinou o primeiro cheque de um milhão de euros para a Sword, um investimento que o Virgílio sempre agradeceu”, conta, acrescentando que estava presente na inauguração do escritório, em primeiro lugar, “como amigo” do CEO.

A Sword Health, que Moedas diz que “veio realmente mudar o paradigma” por ser uma fusão entre “dois mundos” (o físico, a fisioterapia, e o digital, software), é o 16.º unicórnio (estatuto que as empresas alcançam com uma avaliação de mil milhões de dólares) a ter escritório em Lisboa. “Eu passei quatro anos atrás dos unicórnios, para virem ter escritórios em Lisboa”, recorda o autarca, que, como é que comum nas intervenções públicas que faz sobre startups e inovação, lembra que este era um “sonho que não era muitas vezes percebido pelas pessoas”.

Antes de Carlos Moedas, também Virgílio Bento fez um discurso aos trabalhadores dizendo que o escritório em Lisboa representa um “compromisso com a cidade” e notando que a Sword Health quer “cada vez mais colaborar com o Sistema Nacional de Saúde e com o ecossistema em Portugal, para melhorar o acesso a cuidados de saúde”. “O problema de Portugal não é único, mas sim um problema global a nível de acesso a cuidados de saúde. Nós somos parte importante nessa solução. Obviamente, todo o impacto que temos nos Estados Unidos, gostávamos de ter em Portugal e noutros países”.

Foram palavras dirigidas ao secretário de Estado Francisco Rocha Gonçalves, que teve também oportunidade de fazer declarações, em que destacou o papel da digitalização na saúde e saudou a “história de sucesso da Sword Health”. “Parabéns, por alcançarem e prosperarem onde muitos outros tentaram, mas não conseguiram. Desejo-vos o melhor para o futuro e que continuem a oferecer soluções úteis para o mercado e, especialmente, para os pacientes.”

Na hora das despedidas, Virgílio Bento ofereceu a Francisco Rocha Gonçalves e a Carlos Moedas um livro com testemunhos de pacientes que a Sword Health tratou. “Obrigada pelo apoio, amigo, de coração”, disse o autarca minutos antes de deixar o novo escritório.