A candidatura presidencial de André Ventura vista à lupa, numa altura em que Miguel Sousa Tavares vê o presidente do Chega aproximar-se ainda mais ao presidente dos Estados Unidos

É André Ventura que tem os votos e não o Chega. Esse é o entendimento de Miguel Sousa Tavares, que analisou ao detalhe a candidatura presidencial do presidente do segundo maior partido do Parlamento.

Na sua rubrica semanal 5.ª Coluna, com lugar no Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), o comentador começou por ironizar que esta é a oitava candidatura consecutiva de André Ventura, o que mostra uma falta de quadros no partido.

Notando que o próprio André Ventura foi dizendo por várias vezes que não queria avançar com esta candidatura, Miguel Sousa Tavares viu partes “quase ridículas” no longo discurso.

“Houve partes francamente quase ridículas. Parecia estar a dizer ‘agarrem-me, senão vou ser Presidente. Mas eu não quero ser Presidente, quero ser primeiro-ministro. Eu nem devia estar aqui, devia estar outra pessoa, devia estar Pedro Passos Coelho, mas não consegui’. E só faltou dizer ‘como não há mais ninguém apresentável no Chega, cá estou eu pela oitava vez a dar a cara pelo partido’. De facto, não há mais ninguém, o que é verdadeiramente notável”, afirmou, sugerindo que os votos são mais em André Ventura do que no Chega.

Quanto às fundamentações políticas da candidatura, Miguel Sousa Tavares entende-as como “muito interessantes”, nomeadamente a promessa de defender aqueles que “sentem que a democracia lhes prometeu tudo e os traiu e para os que foram deixados de lado para que outros tomassem o lugar do privilégio e beneficiassem dos privilégios ilimitados de uma classe política corrupta e de um Estado corrupto”.

O comentador da TVI vê aí uma confusão deliberada entre democracia e bem-estar. “Tenta explicar que a democracia falhou porque não estavam a viver melhor”, nota, referindo que o futuro “não se avizinha risonho” nos próximos tempos.

Assim, André Ventura vê um Estado corrompido, o que é, na ótica de Miguel Sousa Tavares, como “mel na sopa para alguns ouvidos”, nomeadamente os que nem perguntam qual é o programa económico do Chega.

“Eu acho que André Ventura está a cavalgar todos os temas de Donald Trump, está a ficar o nosso Trumpzinho. De tal modo que já acha que tem o privilégio de dar lições de política interna a países estrangeiros”, continuou, falando sobre as críticas a Pedro Sánchez.

“Um homem que quer ser Presidente da República vai a um país estrangeiro defender a prisão do primeiro-ministro desse país? Se o rei de Espanha viesse cá pedir a prisão de Luís Montenegro por causa do caso Spinumviva, o que é que a gente diria”, rematou.