A resolução, apresentada pela dezena de membros não-permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, colheu 14 votos a favor e o veto isolado dos Estados Unidos – na condição de membro permanente do órgão, a superpotência bloqueou assim uma nova iniciativa para o calar das armas em território palestiniano.Recorde-se que, a 4 de junho, os Estados Unidos haviam vetado um projeto de resolução análogo.
O projeto barrado pela representação norte-americana enquadrava a imediata suspensão de obstáculos à entrada e distribuição de ajuda humanitária internacional na Faixa de Gaza.
O texto exigia igualmente um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente e a libertação incondicional e imediata de todos os reféns israelitas ainda sob custódia do Hamas e de outros movimentos palestinianos. Entregava ainda ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a missão de apresentar um relatório ao Conselho de Segurança, em 30 dias, relativo à implementação da resolução.
A discussão deste último projeto de resolução teve início no final de agosto, após a ONU ter declarado oficialmente um cenário de fome na Faixa de Gaza.
“A fome foi confirmada em Gaza. Não projetada, não declarada. Foi confirmada. Mães desesperadas são forçadas a ferver folhas para alimentar os seus filhos. Pais vasculham os escombros em busca de sustento. Pessoas são mortas enquanto tentam obter comida para sobreviver. Uma geração corre o risco de se perder não apenas na guerra, mas também na fome e desespero”, advogou, antes do momento da votação, a embaixadora dinamarquesa Christina Markus Lassen.
Lassen institu na ideia de que a resolução visava, tão-só, “aliviar o sofrimento e contribuir para o fim desta guerra abominável”.
“Um relatório calunioso”
Os representantes da Administração Trump cedo sinalizaram a intenção de vetar a resolução, invocando, como argumento, a falta de uma condenação expressa do Hamas.
“A oposição dos Estados Unidos a esta resolução não será nenhuma surpresa. Não condena o Hamas nem reconhece o direito de Israel se defender e legitima erradamente as falsas narrativas que beneficiam o Hamas, que infelizmente encontraram aceitação neste Conselho”, sustentou a representante norte-americana Morgan Ortagus, que criticou os demais membros do Conselho de Segurança por insistirem numa “ação performativa”.
Israel, continuou a diplomata norte-americana, “assume riscos claros” com os Estados Unidos para fazer chegar ajuda aos civis palestinianos.”Israel está protegido. Está imune. Imune não
pelo Direito internacional, mas pelo preconceito deste sistema
internacional. Israel mata todos os dias e nada acontece. Israel mata um
povo de fome, bombardeia hospitais, escolas, abrigos e nada acontece”,
reprovou o diplomata argelino Amar Bendjama, perante a posição
norte-americana.
Morgan Ortagus apontaria então baterias ao relatório que reforça o quadro de genocídio em curso na Faixa de Gaza: “Para sermos claros, consideramos este um relatório calunioso e desprovido de credibilidade. Este relatório apresenta mentiras e distorções em benefício do Hamas”.
Os autores do relatório, carregou, apresentam um “histórico de parcialidade”, o que “viola os próprios padrões das Nações Unidas”.
Para a Administração Trump, o relatório veio atestar uma “falência moral” do Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão que não conta com representação norte-americana.
“Já passou da hora de a Comissão de Inquérito ser eliminada e a sua caça às bruxas antissemita ser encerrada”, rematou.
O relatório em causa foi publicado na terça-feira por uma comissão internacional independente de investigação das Nações Unidos, encabeçada por Navi Pillay, antigo presidente do Tribunal Penal Internacional estabelecido na sequência do genocídio de Ruanda.
Por sua vez, o representante israelita nas Nações Unidas, Danny Danon, quis apontar que a resolução vetada pelos norte-americanas não estabelecia que “todos os atos de terrorismo são criminosos e injustos”, ou que a ofensiva levada a cabo a 7 de outubro de 2023 pelo Hamas deveria “ser condenada”.
O representante palestiniano Riyad Mansour descreveu o veto como “lamentável e doloroso”, dado que impede que o Conselho de Segurança cumpra o “seu papel diante das atrocidades” na Faixa de Gaza proteja a população “do genocídio”.
c/ AFP e Lusa