Alemães e italianos em parceria com Iscte vão testar fibra ótica multinúcleo no Metro de Lisboa. Iniciativa posiciona Europa na corrida global com EUA e Japão pela certificação da tecnologia.

O Iscte está a instalar o maior banco de testes terrestre de fibra ótica multinúcleo do mundo na Linha Amarela do Metro de Lisboa. A novidade, é avançada por Jorge Costa, vice-reitor do Iscte para a Investigação, ao Jornal Económico.

“Este banco de ensaios cria condições únicas para estudar e validar a nova tecnologia de fibras óticas em condições reais, numa escala e num contexto que não está montado em mais nenhum lugar do mundo”.

O banco de testes que o JE dá a conhecer em primeira mão nesta edição, terá impacto direto no posicionamento internacional de Portugal na área das comunicações óticas e no posicionamento da Europa em termos globais. Estamos numa corrida em que passa a haver três contendores: Estados Unidos, Japão e… Europa.

“O que nós conseguimos com este banco de ensaios é jogar trunfos únicos para que a solução europeia fique em condições favoráveis na estandardização mundial deste tipo de fibras, porque temos aqui condições de testes que os concorrentes americanos e japoneses ainda não têm”, explica Jorge Costa ao JE.

O ponto de partida das fibras é o edifício do Iscte na Avenida das Forças Armadas, onde fica localizado o laboratório de monitorização dos testes. Daí, as fibras seguirão para um respirador do metro junto ao campus do Iscte, o qual liga diretamente aos túneis do Metropolitano de Lisboa: será aí que as fibras começarão a ser estendidas entre Odivelas e o Largo do Rato.

Assim, a nova geração de fibras com quatro e sete núcleos óticos será testada em ambiente real – com vibração, variações de temperatura, humidade, ruído e movimento constante. Pela primeira, portanto, será possível analisar o desempenho da transmissão de dados através desta nova geração de fibra em condições reais, replicadas pelo ambiente adverso do metro.

As fibras a testar em Lisboa são concebidas e fabricadas pelo grupo alemão Heraeus Covantics, líder global em produtos de quartzo de alta pureza para a produção de fibra ótica. Os outros parceiros do projeto são a Telcabo, instaladora do cabo de fibra multinúcleo, e o grupo italiano Tratos Cavi, responsável pelo cabo que envolve as fibras multinúcleo.

Jorge Costa salienta ao JE a importância do banco de ensaios terrestre como catapulta para atrair investimentos em em tecnologias de comunicação, em Inteligência Artificial e em transformação digital.

“O Iscte e o país vão atrair investigadores de todas as partes e produção científica de alta qualidade, assim como investimento de operadoras globais como a norte-americana AT&T, a Deustche Telekom ou a Vodafone, que estão em fase de investimento para aumentar a capacidade das suas redes”. Tudo isto, acrescenta, significa empregos altamente qualificados para Lisboa. Na mesma linha, também gigantes como a Google ou a Meta virão até nós para testarem produtos novos adaptados ao aumento de capacidade proporcionado pelas fibras multinúcleo.

Sem contabilizar as fibras doadas pelos alemães, o projeto envolve 2,3 milhões de euros, dos quais 588 mil são fundos europeus do Programa Lisboa 2030. O restante é garantido pelo Iscte.

 

Testes de 728 quilómetros

O “test-bed” que o Iscte vai instalar terá um cabo com 74 fibras óticas multi-núcleo: 64 das quais com quatro núcleos e dez fibras com sete núcleos, totalizando 326 canais de transmissão de dados. Como as fibras serão ligadas entre si, atingirão os 728 quilómetros que representam 28 voltas completas ao longo de 26 Km de anel, uma vez que a Linha Amarela tem 13 Km entre as estações de Odivelas e do Largo do Rato.

 

Investimentos milionários

Atualmente, 99% da transmissão mundial de dados, cruzando continentes e oceanos, é feita em cabos com fibras óticas de um só núcleo. A Business Research avalia o investimento global na nova
geração de fibras multi-núcleo em 4,5 mil milhões de dólares em 2025, prevendo-se que atinja os 40 mil milhões em 2033. De acordo com os dados, estima-se uma taxa de crescimento média anual de 32,3% entre 2025 e 2033.