Unidade vale 450 milhões. Decisão final será tomada em dezembro. Já houve conversas com potenciais clientes, como marcas automóveis europeias ou fabricantes chineses de baterias.
A refinaria em Setúbal da Northvolt/Galp caiu e só dois projetos para refinar lítio continuam ativos em Portugal. Um deles é o LiftOne que promete refinar lítio, um mineral essencial para a transição energética, cuja procura vai disparar nos próximos anos com a vaga de carros elétricos e de baterias para armazenar eletricidade.
“Este é um investimento de cerca de 450 milhões de euros. Neste momento, estamos a prever tomar a decisão final de investimento [FID] em dezembro deste ano”, disse ao JE o diretor da área tecnológica da Lifthium, Bart Packer.
A unidade de produção de hidróxido de lítio vai ficar localizada em Estarreja, distrito de Aveiro, estando previstos a criação de 150 postos de trabalho.
E quais os potenciais clientes desta refinaria? Já houve conversas com várias companhias automóveis e de baterias. “Estamos a falar com todos. Temos uma grande lista, é muito extensa, incluindo a BMW e a Stellantis, até à CATL [produtora chinesa de baterias]”, afirmou, em declarações ao JE à margem da conferência da Fastmarkets que decorreu em Lisboa.
O projeto visa a produção de 28 mil toneladas por ano de hidróxido de lítio, essencial para fabricar baterias de lítio para equipar os carros elétricos.
Sobre o financiamento, disse que a empresa está “numa fase avançada da discussão com os bancos. Temos vindo a falar com vários bancos desde há dois anos, como o Santander e também o Banco Europeu de Investimento e alguns nacionais”. Além dos bancos, outra parte do financiamento vai ter origem em capital dos acionistas da Lifthium, o Grupo José de Mello e a Bondalti.
O norte-americano explicou que quanto mais longos os contratos de fornecimento, melhor será para obter financiamento.
“Quanto mais longos forem os contratos, melhor para nós, porque o financiamento está relacionado com a duração das receitas previstas. Se tivermos receitas para 10 anos, podemos pagar o financiamento em 10 anos. Se for de 3, pagamos em 3 anos. Quanto maior, melhor para nós”,
Questionado se os projetos mineiros de lítio previstos para Portugal (Boticas e Montalegre) são importantes para a refinaria, o responsável explicou que estes dois projetos tem por base a espumodena e o sulfato de lítio e que a refinaria de Estarreja vai focar-se no hidróxido de lítio sustentável, não estando previsto “acomodar sulfato de lítio de espumodena. Não estamos a trabalhar com eles”, disse em referência aos projetos da Savannah e da Lusorecursos (que também tem prevista uma refinaria).
A companhia diz que potenciais fornecedores de lítio para refinar poderão vir do Sudeste asiático, como a Malásia, ou da América do Sul como Argentina ou Chile.
Um dos temas do sector atualmente é o preço do lítio, que tem vindo a recuar nos mercados internacionais. Bart Packer disse que a Lifthium “consegue operar dentro da gama atual de preços”, mas “é óbvio que os números são melhores com os preços mais altos”.
A companhia quer produzir lítio verde, isto é, vai recorrer a processos de eletrólise, evitando o uso de reagentes químicos, que são usados normalmente na refinação, num processo com emissões poluentes baixas.
“Usamos eletricidade em vez de reagentes químicos para produzir lítio”, explicou. E também pretende usar matéria-prima proveniente das baterias em fim de ciclo de vida para produzir carbonato de lítio reciclado.
Antes, numa apresentação feita perante uma plateia de investidores, o diretor tecnológico da Lifthium revelou algumas das mais-valias para localizar o projeto em Portugal, incluindo custos energéticos muito mais baixos (30/40 euros/MWh, incluindo PPA verdes) face à Alemanha (250 euros/MWh) e ao Reino Unido (200 euros/MWh). Os custos laborais mais baixos face à média da União Europeia (-35%) e à Alemanha (-56%) também foram destacados.
Mas o sector vive um paradoxo frustrante: existe procura e esta vai disparar nos próximos anos, mas os preços do lítio teimam em não subir, com a Fastmarkets a prever que só subam a partir de 2030 (pois os mineiros chineses têm vindo a acumular stock). Até lá, é preciso ter os projetos de mineração, refinação e produção de baterias a funcionarem em pleno, mas os preços baixos estão a prejudicar o financiamento dos projetos que deveriam estar prontos até 2030.