É conhecida por Nonna Margherita, ou ainda a L’Ultima Regina, nas ruas de Scanno, a aldeia na região de Abruzzo, na Itália, com cerca de 1.600 habitantes. À porta da sua casa de pedra, na qual vive desde 1950, alguns turistas param e tiram fotografias — e há também os que arriscam entrar pela porta entreaberta, relata a CNN Travel. Margherita Ciarletta, de 94 anos, tornou-se uma atração turística nos últimos meses na localidade, tudo porque é a última a vestir diariamente os trajes típicos da cidade.
O facto chamou a atenção dos turistas. “Por ser a única a usar estas roupas, as pessoas procuram-me para tirar uma fotografia. Mas às vezes são muitos turistas, pode ser um pouco irritante”, diz Ciarletta ao jornal. Agora, as autoridades locais tentam que o traje seja reconhecido como um património cultural imaterial da UNESCO.
Trata-se de um vestido de lã preto com mangas longas e uma saia rodada sobreposta por um avental escuro, que pode ou não ter um padrão discreto floral. Ciarletta usa o mesmo estilo diariamente desde quando tinha 18 anos, variando entre tons de azul escuro e preto. “Sempre gostei deste vestido, orgulho-me de o usar”, afirma a mulher de 94 anos. “Esta é a minha roupa comum, de todos os dias”, diz ainda Ciarletta que, depois da morte recente das duas irmãs, é a única que continua a usar o traje todos os dias, um hábito que era comum entre as mulheres da cidade nos anos 1980, e do qual a Câmara Municipal de Scanno se orgulha no seu site.
Margherita Ciarletta nasceu em Scanno e nunca deixou a aldeia, que tinha mais de 4 mil residentes em 1920, mas viu a sua população diminuir para menos da metade. O traje típico usado pela mulher de 94 anos é o mesmo que gerações de mulheres usaram por séculos: um vestido destinado para o trabalho no campo e as tarefas domésticas.
Entretanto, há também um traje mais elaborado, usado em celebrações religiosas e para as missas de domingo. Neste caso, o vestido é bordado com dourados, coberto por um avental de linho branco com aplicações de renda, camisa branca bordada à mão e corpete. A cor e o tecido da saia rodada indica a classe e o status social de quem a veste. O traje fica completo com um chapéu cilíndrico usado apenas em dias especiais, como feriados.
Ao longo das décadas o traje tornou-se protagonista na obra de fotógrafos como Hilde Lotz-Bauer, Henri Cartier-Bresson, Ferdinando Scianna, Gianni Berengo Gardin, Mario Giacomelli e Renzo Tortelli. Diz-se que o vestido poderá ter origem oriental, ou ainda ser uma derivação das roupas usadas na região da Lombardia, no norte da Itália. Apesar de não se saber exatamente quando passou a ser usado na aldeia, os documentos mais antigos fazem referência a um traje típico para mulheres já no século XVI. Mas as peças eram bastante diferentes das usadas por Ciarletta, que veste a mesma combinação de mulheres que viveram há 75 anos.
Scanno, L’Aquila, Abruzzo, Italy, in 1951, photo Henri Cartier-Bresson. #architecture #archinerds pic.twitter.com/bxX5QVe3my
— Archinerds (@archinerds) April 29, 2025