A decisão do Ministério do Ensino Superior do Governo taliban foi enviada às universidades públicas e privadas afegãs no final de agosto.
O documento, divulgado pelo Independent Persian, considerava essas obras contrárias à lei islâmica, após uma avaliação do seu conteúdo ideológico, filosófico, cultural, religioso e científico feita por um painel de “estudiosos e especialistas religiosos”.
Proibição de livros escritos por mulheres
Entre as 679 obras proibidas estão 140 escritas por mulheres, nomeadamente o título “Segurança no Laboratório Químico”, avança a BBC. Um dos membros da comissão que analisa os livros confirmou à BBC afegã a probição de livros escritos por mulheres. “Todos os livros escritos por mulheres não podem ser ensinados”, afirmou.
Além desta medida, 18 disciplinas foram eliminadas dos currículos académicos por estarem “em conflito com os princípios da Sharia e a política do sistema”, entre as quais: direitos fundamentais, direitos humanos e democracia, globalização, boa governança, sistemas eleitorais, história das religiões, filosofia.
Seis das 18 disciplinas universitárias visadas são especificamente sobre as mulheres, incluindo Género e Desenvolvimento, O Papel das Mulheres na Comunicação ou a Sociologia das Mulheres. O ministério adiantou que outras 201 disciplinas estão sob revisão.
Meninas e mulheres privadas dos seus direitos
Zakia Adeli, ex-vice-ministra afegã da Justiça e
uma das autoras que viu os seus livros na lista de proibidos, contou à BBC não ter ficado surpreendida com a medida. “Dada a mentalidade e as políticas misóginas dos taliban, é natural que,
quando as próprias mulheres não têm permissão para estudar, as suas
opiniões, ideias e textos também sejam suprimidos”. “Considerando o que os taliban fizeram nos últimos quatro anos, não era
exagerado esperar que impusessem mudanças no currículo”, afirmou a antiga ministra afegã da Justiça.
O decreto do Governo taliban é o mais recente de uma série de restrições impostas pelo regime, desde que este voltou ao poder há quatro anos, e que tem afetado particularmente a vida de mulheres e meninas: atualmente estão proibidas de aceder ao ensino acima do 6.º ano, de trabalhar na maioria dos setores, inclusive ONG nacionais e internacionais, ou até mesmo de frequentar espaços públicos.
Além dos livros escritos por mulheres, a proibição parece ter visado livros de autores ou editores ocidentais e iranianos, estes últimos para “impedir a infiltração de conteúdo iraniano” no currículo académico afegão, de acordo com um membro do painel de revisão de livros citado pela BBC.
A decisão de proibir centenas de livros e materiais didáticos está a preocupar professores afegãos, uma vez que não existem conteúdos disponíveis para substituir o material proibido e preencher a lacuna.