A Nvidia revelou esta quinta-feira que vai investir cinco mil milhões de dólares, cerca de 4,2 mil milhões de euros, na Intel, poucas semanas depois de a Casa Branca ter fechado um acordo extraordinário para o Governo dos EUA assumir uma participação massiva na empresa fabricante de chips, que está a atravessar dificuldades.
Esta participação vai fazer com que a Nvidia passe imediatamente a ser uma das maiores accionistas da Intel, ficando com cerca de 4% (ou mais) da empresa depois da emissão de novas acções para concluir o acordo.
O apoio da Nvidia representa uma nova oportunidade para a Intel depois de anos de esforços fracassados para recuperar de uma situação financeira difícil, e já desencadeou um aumento de 30% nas acções da fabricante de chips no pré-mercado bolsista.
A empresa — que já foi a porta-estandarte da indústria de chips, alegando mesmo ter colocado o “silício” no Vale do Silício — nomeou um novo CEO, Lip-Bu Tan, em Março. Tan foi duramente criticado por várias autoridades norte-americanas, incluindo Donald Trump, que pediu que renunciasse ao cargo por causa da sua ligação à China. Estas críticas levaram à convocatória em tempo recorde de uma reunião em Washington, que terminou com um acordo incomum: a Intel acordou dar ao Governo uma participação de 10% na empresa.
O acordo entre a Intel e a Nvidia inclui uma parceria para desenvolveram em conjunto chips para PCs e data centers, mas não envolverá o negócio de produção sob contrato da Intel, conhecido como “fundição” na indústria, que fabrica chips para a Nvidia. A maioria dos analistas acredita que, para este negócio da Intel sobreviver, a empresa precisaria de conquistar um grande cliente, como a Nvidia, Apple, Qualcomm ou Broadcom.
A Nvidia, cujos chips estão a impulsionar o crescimento global da inteligência artificial, disse em comunicado que pagaria 23,28 dólares por cada acção ordinária da Intel, um valor ligeiramente abaixo dos 24,90 dólares, o preço com que as acções da Intel fecharam na quarta-feira. É, no entanto, um valor mais alto por acção do que o que o Governo dos EUA pagou por uma participação extraordinária de 10% na Intel no mês passado (20,47 dólares por acção).
“É um reflexo da busca da Nvidia por diversificar os investimentos nos EUA e também ganhar alguns pontos junto do Governo americano”, disse Chris Beauchamp, analista-chefe de mercado do IG Group em Londres. “Não muda o problema que a Nvidia enfrenta com a China, mas mantém o favor do Governo dos EUA.”
O pacto agora anunciado representa um risco para a TSMC de Taiwan, que actualmente fabrica os principais processadores da Nvidia, um negócio que a empresa mais valiosa do mundo pode um dia estender à Intel. Os negócios da AMD, que compete com a Intel no fornecimento de chips para data centers, também podem estar em risco. As acções da Nvidia subiram mais de 3%. As da AMD caíram quase 4%, enquanto as acções da TSMC listadas nos EUA recuaram 2%.
O acordo vem contribuir para a crescente reserva de capital que a Intel acumulou semanas depois de anunciar um investimento de 2 mil milhões de dólares da Softbank (cerca de 1,6 mil milhões de euros) e receber 5,7 mil milhões (4,8 mil milhões de euros) do Governo dos EUA.
David Zinsner, director financeiro da Intel, disse aos investidores numa conferência do Deutsche Bank no mês passado que a empresa estava numa “boa posição de caixa” e não precisaria de muito mais capital até existir uma procura significativa por 14A, um processo de fabrico de última geração em que a empresa esperava “investir fortemente”.
O CEO da empresa, Lip-Bu Tan, prometeu tornar as operações da Intel enxutas e aumentar a capacidade da fábrica apenas quando existir procura correspondente.
Chips com comunicações mais rápidas
Segundo o acordo anunciado esta quinta-feira, a Intel planeia projectar processadores personalizados para data centers que a Nvidia integrará com os chips de IA, conhecidos como GPUs. Outra tecnologia da Nvidia permitirá que os chips Intel e Nvidia se comuniquem em velocidades mais altas do que anteriormente.
Links rápidos são um diferencial importante no mercado de IA, porque vários chips têm de ser interligados para actuar como um só para conseguirem processar grandes quantidades de dados.
Actualmente, os servidores de IA mais vendidos da Nvidia com estes links rápidos estão disponíveis apenas utilizando os chips da própria Nvidia, mas o acordo colocará a Intel em pé de igualdade, que terá agora a hipóteses de lucrar com cada servidor Nvidia.
Os chips combinados Nvidia-Intel podem representar um grande desafio competitivo para a AMD, que está a desenvolver os seus próprios servidores de IA, e para a Broadcom, que também possui tecnologia de conexão chip a chip e ajuda empresas como o Google a desenvolver processadores de inteligência artificial.
“Qualquer coisa que a NVIDIA decida endossar apenas por associação fará com que as acções da Intel pareçam atraentes porque implica que a Nvidia vê valor na Intel”, disse Peter Andersen, fundador da Andersen Capital Management em Boston.
Para os mercados de consumo, a Nvidia vai fornecer um chip gráfico personalizado que a Intel pode empacotar com os seus processadores centrais de PC com os mesmos links rápidos, que serão uma vantagem sobre rivais como a AMD.