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Pagaria para ir ao casamento de um desconhecido? Um novo serviço está a crescer na Europa com precisamente essa proposta. Já houve ‘casório’ no Porto com convidados desconhecidos.

Muitos queixam-se do excesso de convites de casamento — até porque já vêm com IBAN — mas há quem esteja disposto a pagar para ir ver atar o nó.

Para a noiva alemã Jennifer Reinfrank, de 48 anos, receber dinheiro em troca de mais uns convidados não é nada estúpido: veio mesmo a calhar.

Entre os 100 convidados da sua festa, havia muitas amigas heterossexuais solteiras e poucos homens disponíveis para animar a pista de dança. A solução veio do site francês Invitin: a lista de convidados fechou com cinco desconhecidos dispostos a pagar para participar na celebração.

“Antes da festa, recebi o perfil dos candidatos e acabei por aprovar todos. Vieram um casal e três homens solteiros”, contou a alemã à BBC. A festa realizou-se em Agosto, nos arredores de Paris. Em troca de 180 euros, cada convidado teve direito a assistir a toda a cerimónia e a usufruir dos aperitivos, bebidas e comidas.

“Cumprimentámo-nos no início do evento, mas não passámos muito tempo com eles, já que o nosso foco era estar com a família e os amigos. Todos foram muito simpáticos e educados. O casal até nos ofereceu um cartão e uma garrafa de champanhe”, recorda a alemã.

Como surgiu a ideia

A inspiração para o site surgiu de uma conversa informal. Ao alugar a sua casa no sul de França para convidados que iam participar num casamento, Kátia Lekarski ouviu da filha a pergunta que lhe despertou uma ideia: porque é que nós não podemos participar nessas festas também?

Foi assim que a empreendedora francesa decidiu criar uma plataforma que liga casais — com interesses que vão desde variar o perfil dos convidados a angariar algum dinheiro extra para cobrir parte dos custos da celebração — a pessoas que querem pagar para viver a experiência de participar na festa de um desconhecido.

“Os casamentos são festas bonitas e muito emocionantes. As pessoas produzem-se para o evento e os locais onde as celebrações são feitas costumam ser muito agradáveis. Achei que juntar noivos que desejam algum dinheiro para ajudar a pagar os custos da festa com pessoas que adorariam ir a um casamento era uma ótima ideia”, justifica a francesa à BBC.

Já houve ‘casório’ no Porto com convidados desconhecidos

A startup foi lançada em abril e já conta com mais de dois mil utilizadores, incluindo anfitriões e possíveis candidatos a convidados. Até agora, já foram realizados seis casamentos com convidados do Invitin, em França, Espanha, Rússia e até Portugal.

A portuguesa Marta Fernandes ficou a saber do site através de um grupo online e resolveu experimentar — por ter vivido muitos anos no estrangeiro, diz gostar de conhecer pessoas novas. Há poucas semanas, participou numa festa no Porto.

“Nunca tinha visto uma coisa destas, ir a uma festa onde os noivos não conhecem quem está a ir. No início até pensei que talvez não tivessem convidados suficientes e por isso precisavam de mais pessoas, mas percebi rapidamente o conceito”, explica a optometrista de 36 anos.

Marta e um amigo, da Costa do Marfim, pagaram 25 euros por pessoa para o cocktail e a missa — mas ao chegarem à festa, foram convidados a ficar pela noite toda.

“A experiência foi muito boa. Levei uma lembrança, apresentei-me aos noivos e, como algumas pessoas acabaram por desmarcar em cima da hora, eles disseram que podíamos ficar para a festa toda”, recorda a portuguesa, que se mostra aberta a ir a outros casamentos desta forma.

Marta conta que falou com várias pessoas e até aproveitou para fazer algum networking (interação social com fins profissionais) durante a festa. “Entreguei vários cartões da minha óptica. O mais engraçado era quando as pessoas queriam saber se eu era amiga do noivo ou da noiva”, relembra, entre risos.

Como funciona

Quem disponibiliza bilhetes para o seu casamento pode escolher a idade e o perfil dos convidados. Também é necessário explicar onde será a cerimónia, como vai ser a festa, qual o código de vestuário, o valor do bilhete e a que comidas e bebidas os convidados pagantes terão direito.

Já os “candidatos”, além de terem de responder a algumas perguntas sobre idade, sexo e profissão, têm as suas redes sociais verificadas pelo site. Só depois disso o perfil é aprovado.

O Invitin é responsável por fazer o match (combinação entre perfis compatíveis) entre os interessados, e fica com 15% do valor pago pelas pessoas que vão às festas. É gerado um contrato em que os convidados se comprometem a chegar a horas, a respeitar o código de vestuário e a manter um bom comportamento — sem exagerar no consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo.

Pessoas de qualquer país podem usar o site, que está disponível apenas em francês e inglês. “Esta também é uma forma diferente de viajar e conhecer outras pessoas e tradições, literalmente uma imersão noutras culturas”, defende a empreendedora.

Atualmente, quatro pessoas trabalham na startup, que pretende ampliar os idiomas disponíveis e lançar uma aplicação — por isso, o projeto está à procura de investidores.

Uma das primeiras noivas a usar o serviço, Jennifer Reinfrank aprovou a experiência.

“O nosso evento foi muito divertido. Tanto eu como o meu marido gostámos da experiência de contar com esses convidados extra. Vi que os homens solteiros que vieram conversaram bastante com as minhas amigas, mas não sabemos se houve algum match de verdade nessa noite. Se aconteceu algo mais depois, também não ficámos a saber”, brinca.


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