Pesquisa brasileira com reconhecimento internacional desenvolve técnica para detectar câncer em crianças em menos de 24 horas. Foto: Freepik
Talita Cristina 20/09/2025 06:11 5 min
Um novo método desenvolvido por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) promete transformar o diagnóstico de tumores sólidos em crianças, acelerando o tratamento e aumentando as chances de cura. A técnica foi criada no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), com base na citometria de fluxo, já utilizada para diagnosticar tumores hematológicos, como os da medula óssea e do sangue.
Até então, o processo tradicional para identificar tumores sólidos envolvia várias etapas que podiam levar até quinze dias. Com a nova abordagem, os resultados podem ser obtidos em apenas 24 horas, o que permite decisões médicas mais rápidas e eficazes.
Segundo uma das responsáveis pela pesquisa, a hematologista Elaine Sobral da Costa, isso representa uma mudança no tratamento de crianças com suspeita de câncer. “Na hematologia, diagnosticamos a leucemia no mesmo dia do exame e já começamos o tratamento. Mas, nos tumores sólidos, o caminho é bem mais longo. Essa nova técnica encurta esse trajeto de forma significativa”, explicou a especialista.
Redução de incertezas e alívio para famílias
Além de agilizar o diagnóstico, o exame tem outra função vital: diminuir a angústia das famílias. Em muitos casos, a incerteza sobre o que a criança está enfrentando gera um sofrimento ainda maior. Para a médica Cristiane de Sá Ferreira Facio, que também participa do projeto, há um impacto direto no bem-estar emocional das famílias atendidas.
Equipe que atua no Laboratório de Citometria de Fluxo. Foto: Reprodução/ Moisés Pimentel (SGCOM/UFRJ)
“Se o paciente está com suspeita de tumor e conseguimos dizer rapidamente que não é câncer, já tiramos a espada da cabeça da mãe. Ela consegue dormir”, resumiu a médica. A técnica está sendo aplicada em hospitais públicos que integram o SUS, como o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o Hospital Federal da Lagoa e o Hospital dos Servidores do Estado.
Ainda assim, por se tratar de um procedimento em fase de pesquisa, a metodologia não é oficialmente reconhecida pela OMS como suficiente para iniciar tratamentos por conta própria. O ideal, segundo os pesquisadores, é que ela sirva de apoio à patologia e que, no futuro, possa ser usada como base para decisões médicas imediatas.
Pesquisa com reconhecimento internacional
A UFRJ é a única instituição fora da Europa que integra o consórcio EuroFlow, responsável pela padronização e desenvolvimento de exames de citometria de fluxo para diferentes tipos de câncer. Essa parceria garante o envio de reagentes essenciais à realização dos testes, viabilizando a continuidade do trabalho no Brasil.
A equipe responsável pela pesquisa é formada por oito profissionais altamente qualificados, entre doutores, mestrandos e pós-doutorandos. Eles atuam no Laboratório de Citometria de Fluxo, criado com apoio da FAPERJ e do CNPq. Com os avanços, a coordenadora do projeto já planeja a criação de uma rede nacional de diagnóstico de tumores pediátricos, que integre diferentes centros de atendimento infantil pelo país.
Mesmo ainda enfrentando obstáculos, como a falta de reconhecimento oficial do método e a dependência de insumos internacionais, os pesquisadores acreditam no potencial transformador da técnica. A esperança é que, em breve, o exame esteja integrado ao protocolo oficial de diagnóstico, permitindo que o tratamento comece no mesmo dia da descoberta do câncer.
Referências da notícia
Vanessa Almeida da Silva. 20 de agosto, 2025. Pesquisadores da UFRJ desenvolvem técnica que acelera diagnósticos de câncer infantil. Conexão UFRJ.