Assim reza a sinopse de Black Rabbit: “Quando o proprietário de um hotspot na cidade de Nova York permite que o problemático irmão volte à sua vida, ele abre a porta para perigos crescentes que ameaçam derrubar tudo o que ele construiu”. A primeira impressão é a de um tipo impecável e bem sucedido a quem calhou na lotaria genealógica um irmão que é um merdas. Há muito boa gente aí que se pode relacionar e a identificação é sempre um bom chamariz. Mas não sejamos inocentes, o verdadeiro isco da nova mini-série da Netflix está no cartaz: Jude Law (A.I., Closer, Sherlock Holmes…) e Jason Bateman (Arrested Development, Juno, Chefes Intragáveis).

E qual foi a minha primeira impressão de Black Rabbit quando vi estas tão reconhecíveis carinhas no trailer, perguntou um total de zero pessoas? A bem dizer, isto não é totalmente verdade. O editor desta publicação pediu as minhas impressões sobre a mini-série, é de presumir que isso inclui não só a última, como a primeira. Mas voltemos ao que interessa, o primeiro impacto. Dois A listers, no que ao sistema de castas hollywoodesco diz respeito, protagonizam este thriller com 8 capítulos. E acredito que os criadores Zach Baylin and Kate Susman tenham usado esta cartada sem dó, nem piedade, até conseguirem a assinatura no papel timbrado da Netflix e não os julgo por isso.

A minha segunda impressão? Entradas contundentes à parte, o Jude Law, aqui no papel de Jake Friedken, continua devastadoramente bonito, como disse Anthony Minghella, o falecido realizador de O Talentoso Mr. Ripley, filme que projetou decisivamente a sua carreira e que o estampou na retina e num ou outro sonho maroto de muita boa gente da minha geração. Já o Jason Bateman, que faz o irmão mais velho Vince Friedken, está a mandar uns ares de Eddie Vedder no pico da cena grunge o que, não querendo ser repetitiva e já sendo, é também um género que fez muitas vontades de adolescentes da minha mocidade.

[o trailer de “Black Rabbit”:]

Ao longo da série, tudo isto faz mais sentido, até porque Jake e Vince tiveram uma banda na juventude, os Black Rabbit (que vem a ser o nome do restaurante, o cenário pivot da trama). E num flashback, vemos um excerto do videoclip da banda em que Law, que era o vocalista, está de cabelo mais comprido, óculos de sol redondos com uma armação branca e uma camisa de flanela à pescador. Consequentemente, sim, está a cara chapadinha de Cobain. Só que enquanto Jake deixou as Levi’s rasgadas e passou a usar fatos “à Nick Cave” como diz o irmão, Vince é aquele colega de secundária que vemos passados 20 anos e “está na mesma!” e isso não é um elogio, porque era suposto o cortex pré-frontal já estar desenvolvido e as decisões de vida que o levaram a não passar da cepa torta demonstram o contrário. Péssimas decisões é, aliás, a palavra-chave desta série. E a pergunta-chave, que conto responder no final desta resenha, é: ter duas caras carregadinhas de créditos (dos bons) no IMDB é suficiente para fazer uma boa série ou terei eu, à semelhança dos irmãos Friedken, tomado uma má decisão?

A história arranca com uma noite de festa no espaço gerido por Jake. Um restaurante-barra-bar-barra-discoteca-barra-o meu inferno pessoal, porque prefiro uma boa ementa a um “conceito inovador” e também me inclino mais para garrafas de champagne que jorrem efetivamente champagne, e não foguetes e faíscas. Um restaurante fancy, cheia de VIPs, “gente bonita” e droga a rodos. O deboche, peço desculpa, o evento é interrompido por um assalto e antes que se perceba em quantos hectolitros se vai contabilizar o banho de sangue, voltamos um mês atrás na linha temporal e ao longo da série vamos descobrir como é que chegámos aqui.