Cerca das 15h30, várias centenas de pessoas perfilavam-se já no Marquês de Pombal. De entre os manifestantes, erguiam-se cartazes com palavras de ordem como “35 horas para todos”, ou “não ao pacote laboral”.

A marcha contaria com personalidades da esquerda parlamentar, desde logo do PCP, do Bloco de Esquerda e do Livre, nomeadamente o secretário-geral dos comunistas, Paulo Raimundo, a ex-coordenadora bloquista e candidata presidencial Catarina Martins e a deputada Patrícia Gonçalves, do partido de Rui Tavares. Também o candidato do PCP a Belém, António Filipe, marcou presença. A manifestação deste sábado decorreu sob o mote Mais Salários e direitos – Outro rumo é possível!, contando com trabalhadores dos distritos de Leiria, Castelo Branco, Santarém, Lisboa, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Algarve.

Ouvido pela RTP, durante o desfile na Avenida da Liberdade, o secretário-geral da CGTP afirmou que “os trabalhadores estão fartos de estarem sempre sujeitos a um conjunto de circunstâncias que lhes penalizam a vida”.

“A questão central, neste momento, é informar os trabalhadores, discutir com os trabalhadores e trazê-los à rua para lutar”, vincou Tiago Oliveira.

A Intersindical – que durante a manhã promovera já uma primeira ação de protesto no Porto – protagoniza no atual momento um “grande momento de luta no sentido de derrotar a intenção do Governo”, nas palavras do dirigente da Intersindical. Trata-se, segundo Tiago Oliveira, de “um profundo ataque aos direitos dos trabalhadores”.Na mais recente reunião da Concertação Social, a 10 de setembro, o Governo prometeu apresentar uma nova versão do anteprojeto de revisão da legislação laboral “com evoluções” em matéria de família e parentalidade. Isso mesmo foi adiantado pela UGT e pela Confederação Empresarial de Portugal.

Questionado sobre o aparente recuo do Governo em parte das medidas, Tiago Oliveira sublinhou que o que o poder executivo fez “foi apresentar um conjunto de mais de 100 medidas”.

“Há uma coisa que os trabalhadores nunca nos perdoariam. Os trabalhadores nunca perdoariam à CGTP que se invertesse uma ou outra medida num pacote de mais de 100 e que as restantes 98 medidas fossem penalizadoras para os trabalhadores”, frisou.

“É um ajuste de contas”

A jornada nacional de luta deste sábado culminou com uma intervenção do secretário-geral da Intersindical perante os manifestantes. Tiago Oliveira repetiu as críticas ao que descreveu como “um dos maiores ataques feitos aos trabalhadores”.

”Estamos aqui hoje na Avenida da Liberdade e muitos milhares estiveram também de manhã no Porto, respondendo a este apelo da CGTP de virmos para a rua, de virmos lutar, rejeitar e exigir ao Governo a retirada do pacote laboral, um dos maiores ataques feito aos trabalhadores. Estamos aqui a exigir que sejam revogadas as normas gravosas que já hoje marcam a legislação laboral e não a tornar ainda pior”, acentuou.

“Confrontámos o Governo com os problemas dos trabalhadores, com a precariedade – 1,3 milhões de trabalhadores com vínculos precários, 54 por cento dos jovens com vínculos precários -, confrontámos o Governo sobre a desregulação cada vez maior dos horários de trabalho – 1,9 milhões de trabalhadores são já hoje vítimas de horários de trabalho desregulados -, confrontámos o Governo sobre os salários – a necessidade de aumentar significativamente os salários, o poder de compra”, enumerou.Em resolução, a CGTP propõe-se avançar “com toda a
determinação no desenvolvimento de todas as formas de luta necessárias,
com todos os que queiram convergir, com a unidade na ação a partir dos
locais de trabalho, para derrotar o pacote laboral, valorizar o trabalho
e os trabalhadores, por uma sociedade mais justa, ancorada nos valores
de Abril e na Constituição da República Portuguesa”.

“Confrontámos o Governo com a contratação coletiva, a necessidade de revogar as matérias que já hoje existem na legislação laboral em vigor e que atacam a contratação coletiva, como a caducidade, e a necessidade de reintroduzir plenamente o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador. Confrontámos o Governo com a liberdade sindical e os bloqueios constantes que existem à intervenção dos sindicatos nas empresas e locais de trabalho, o acesso dos trabalhadores à informação, o ataque à democracia que este caminho nos conduz. Confrontámos o Governo com o aumento do custo de vida, nos bens de primeira necessidade, na habitação, na energia. Confrontámos o Governo com a fiscalidade e afirmamos que sim, é preciso rever os escalões e as tabelas do IRS mas de forma a permitir que quem tem menos tenha uma vida melhor e não no sentido de favorecer os mesmos de sempre”, prosseguiu o secretário-geral da CGTP.

“Sabem qual foi a resposta? Não nos revemos nas vossas posições. É isto que temos”, enfatizou Tiago Oliveira, para acrescentar que “as mais de 100 matérias que este Governo do PSD e do CDS apresentam de revisão das leis do trabalho têm objetivos profundos. É um ajuste de contas”.



c/ Lusa