A fotografia principal deste artigo mostra a vista aérea do icebergue A23a no sul do Oceano Atlâtico, perto das ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, a 24 de novembro de 2024 (MOD/Getty Images)
O maior icebergue do mundo está a “fragmentar-se rapidamente” em vários “pedaços muito grandes”, afirmaram cientistas do British Antarctic Survey (BAS).
Se antes pesava quase um 1,1 biliões de toneladas, abrangendo uma área de 3.672 quilómetros quadrados – um pouco maior do que Rhode Island -, o icebergue A23a tem sido acompanhado de perto pelos cientistas desde que se separou da plataforma de gelo Filchner-Ronne, na Antártida, em 1986.
O A23a tem sido o detentor do título de “maior icebergue atual” em vários momentos desde a década de 1980. Foi, ocasionalmente, ultrapassado por icebergues maiores, mas com uma vida útil mais curta, incluindo o A68 em 2017 ou o A76 em 2021.
Andrew Meijers, oceanógrafo da BAS, disse à CNN por e-mail o seguinte: “O icebergue está a fragmentar-se rapidamente, a perder pedaços muito grandes, que foram considerados grandes icebergues pelo centro dos EUA que os rastreia”.
Este “megaberg” encolheu agora para cerca de 1.700 quilómetros quadrados, segundo Meijers. É equivalente ao tamanho da Grande Londres.
A água quente e a chegada da primavera no hemisfério sul significam que o icebergue irá, provavelmente, fragmentar-se em pedaços menores, dizem os especialistas (Rob Suisted/Reuters)
O A23a permaneceu encalhado no fundo do mar de Weddell, na Antártida, por mais de 30 anos – muito provavelmente até encolher o suficiente para se soltar do fundo do mar.
Foi então, em 2020, levado pelas correntes oceânicas, antes de ficar preso novamente numa coluna de Taylor — que é nome dado a um vórtice giratório de água causado pelas correntes oceânicas que atingem uma montanha subaquática. Assim ficou até dezembro passado, quando se relatou que estava novamente em movimento. Em março de 2025, encalhou numa plataforma continental. Em maio, voltou a flutuar de novo.
Meijers explica as circunstâncias que levaram à quebra do icebergue. “Tem seguido uma forte corrente, conhecida como Frente da Corrente Circumpolar Antártica Meridional, no sentido contrário ao sentido horário, à volta da Geórgia do Sul, desde que começou a flutuar livremente em maio, uma vez que tinha estado encalhado na plataforma continental durante alguns meses”.
“É provável que esta corrente acabe por levar o icebergue e os seus pedaços para nordeste — ainda como parte do corredor de icebergues”.
O investigador concretiza que que o A23a está “a seguir um destino semelhante” ao de outros “megabergs”, como o A68 em 2021 ou o A76 em 2023, que também se desintegraram à volta da Geórgia do Sul, um território britânico ultramarino no sul do Oceano Atlântico. Contudo este icebergue permaneceu inteiro mais tempo do que qualquer um dos outros.
A desintegração significa que o título de maior icebergue do mundo pertence agora ao D15a, que mede cerca de 3.000 quilómetros quadrados. De acordo com Meijers, está “bastante estático na costa antártica, perto da base australiana de Davis”.
O A23a segura ainda o título de segundo maior icebergue do mundo. Contudo, Meijers avisa que tal deverá “mudar rapidamente”, uma vez que irá continuar a “fragmentar-se nas próximas semanas”. A temperatura mais quente da água e o início da primavera no hemisfério sul significam que, muito provavelmente, se irá partir em “icebergues pequenos demais para serem monitorizados”, argumenta.
O desprendimento de icebergues é um processo natural. Não tem havido “megabergs” suficientes para que os cientistas saibam se eles este fenómeno está a aumentar à medida que o mundo aquece, diz Meijers. O que fica claro, no entanto, é que as plataformas de gelo perderam biliões de toneladas de gelo à custa do aumento da formação e do derretimento de icebergues nas últimas décadas, em grande parte devido ao aquecimento da água do oceano e às mudanças nas correntes oceânicas, acrescenta o especialista.
As alterações climáticas causadas pelo ser humano estão a provocar mudanças preocupantes na Antártida, o que pode levar a um catastrófico aumento do nível do mar.
Os cientistas a bordo do navio de pesquisa polar RRS Sir David Attenborough, da BAS, visitaram o A23a enquanto este icebergue estava encalhado na plataforma da Geórgia do Sul. As amostras recolhidas foram enviadas recentemente para análise no Reino Unido, segundo um porta-voz da BAS em declarações à CNN.
“O facto de ter ficado encalhado e a enorme libertação de água doce fria terão tido um grande impacto nos organismos do fundo do mar e nas águas circundantes”, junta a mesma fonte. E acrescenta: “É importante compreender esses impactos, uma vez que os grandes icebergues se podem tornar um aspeto mais comum na Geórgia do Sul, como resultado do aquecimento global”.
*Laura Paddisoncontribuiu para este artigo