O colesterol é uma substância gordurosa fundamental para o organismo, presente na produção de hormônios e na formação das células. Ele é dividido entre o LDL (mau colesterol), que pode se acumular nas artérias, e o HDL (bom colesterol), responsável por “limpar” o excesso e levá-lo de volta ao fígado. Quando há desequilíbrio, especialmente com níveis elevados de LDL, aumenta-se o risco de doenças cardiovasculares.

Para a endocrinologista pediátrica Naiara Viudes, a combinação de alimentação inadequada e sedentarismo têm potencializado o problema. “Mais de um quarto das crianças e dos adolescentes brasileiros já apresentam colesterol alto, segundo pesquisa da UFMG de 2023. O dado preocupa, porque um em cada cinco tem alteração no LDL”, afirma. 

A nutróloga Esthela Oliveira reforça que o ambiente familiar é decisivo. “O combo de ultraprocessados, açúcar em excesso, pouca fibra e sedentarismo é a receita perfeita para alterar o colesterol desde cedo. É preciso planejar a rotina alimentar da criança, evitando estoques de alimentos industrializados em casa.”

Além da alimentação e do estilo de vida, alterações hormonais e metabólicas podem influenciar os níveis de colesterol em crianças e adolescentes. Condições como hipotireoidismo, diabetes e disfunções endócrinas afetam o metabolismo das gorduras, aumentando o LDL e reduzindo o HDL.

“Doenças hormonais, como hipotireoidismo ou alterações na função das glândulas, podem causar desequilíbrio lipídico, mesmo em crianças que têm alimentação adequada. Por isso, é fundamental que qualquer alteração no colesterol seja avaliada por um endocrinologista pediátrico, para identificar causas genéticas ou hormonais e definir o tratamento mais seguro”, explica Naiara.

Dados nacionais

  • Pesquisa da UFMG (2023) com 62.530 voluntários de 2 a 19 anos revelou que 27,4% tinham colesterol alto, sendo que 19,2% apresentaram alteração no LDL.

  • A Sociedade Brasileira de Pediatria estima que 35 milhões de pessoas no mundo convivam com a hipercolesterolemia familiar, condição genética que pode se manifestar já na infância.

 Principais causas

  • Fatores genéticos (hipercolesterolemia familiar).

  • Alimentação rica em ultraprocessados, frituras, gorduras saturadas e açúcar.

  • Falta de fibras, frutas e vegetais no dia a dia.

  • Sedentarismo, excesso de tempo de tela e sobrepeso.

  • Doenças associadas, como hipotireoidismo e doença renal crônica.

 Como controlar

  • Incentivar consumo de alimentos in natura e reduzir ultraprocessados.

  • Substituir carboidratos simples (açúcar, doces) por integrais.

  • Atividade física diária.

  • Limitar o tempo de tela a uma a duas horas por dia.

 Doenças que pode desenvolver

  • Aterosclerose precoce: depósito de gordura nas artérias, que pode começar ainda na infância.

  • Diabetes tipo 2: associado ao sobrepeso e à resistência insulínica.

  • Hipertensão arterial: risco aumentado já em adolescentes.

  • Doenças cardiovasculares: como infarto e AVC na vida adulta.

 Efeitos a longo prazo

  • Progressão silenciosa de lesões nas artérias desde os 10 anos.

  • Maior risco de morte súbita em adultos jovens com histórico familiar.

  • Impacto no rendimento escolar e no desenvolvimento físico, por fadiga e alterações metabólicas.

 Prevenção

  • Criar ambiente doméstico com opções saudáveis e práticas (frutas lavadas, castanhas porcionadas, iogurte natural).

  • Escolas devem oferecer cardápios balanceados e incentivar esportes.

  • Campanhas públicas devem esclarecer rótulos de alimentos e fiscalizar produtos ultraprocessados.

 

Palavra do especialista 

Com que frequência as crianças e os adolescentes devem fazer exames de colesterol e quais os fatores que determinam essa necessidade?

A recomendação atual é que todas as crianças façam pelo menos uma dosagem de colesterol entre 9 e 11 anos, mesmo sem fatores de risco. No entanto, em casos de histórico familiar de colesterol elevado, obesidade ou doenças cardíacas precoces, essa avaliação deve começar antes, a partir dos 2 anos de idade. Quanto mais cedo o acompanhamento, maiores as chances de prevenção.

Quais sinais os pais devem observar no dia a dia que podem indicar a necessidade de investigar alterações no colesterol da criança?

Ganho de peso excessivo, acúmulo de gordura abdominal e cansaço fora do comum são sinais de alerta. O histórico familiar também é decisivo: se houver colesterol alto ou doenças cardíacas precoces, é preciso investigar mais cedo.

Que tipo de alimentação e rotina de exercícios são mais indicados para prevenir o colesterol alto em crianças e adolescentes?

A alimentação deve ser equilibrada, com frutas, verduras, legumes, cereais integrais e proteínas magras. É essencial reduzir ultraprocessados e frituras. Já a atividade física deve estar presente todos os dias, pelo menos 60 minutos de movimento — seja esporte, seja brincadeira ou caminhada.

Patrícia Consorte é pediatra e médica intensivista, fundadora da da Clínica Consorte. 

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Júlia Sirqueira

Cursando Jornalismo no Centro Universitário IESB, estagiária na Revista do Correio, fã de boas histórias, arte, cultura pop, rock e universo geek.