Mais de um século depois, Vila Viçosa revisita o legado da soberana através de uma exposição inédita no Paço Ducal
A Fundação da Casa de Bragança inaugurou no Paço Ducal de Vila Viçosa a exposição «Amélia de Orléans e de Bragança. O Espólio da Rainha». A mostra reúne cerca de cem peças, entre pinturas, aguarelas, objetos pessoais, fotografias e os dois mantos régios usados pela última rainha de Portugal.
A iniciativa assinala os 160 anos do nascimento de Amélia de Bragança e resulta de um trabalho de investigação e conservação do espólio guardado no Museu-Biblioteca da Fundação da Casa de Bragança (MBCB).
A última dona da Casa Ducal
Para João de Azevedo, presidente do Conselho de Administração da Fundação da Casa de Bragança, a exposição representa mais do que uma evocação histórica. «A Dona Amélia foi a última rainha de Portugal e a última dona desta casa onde estamos hoje», recorda.
O responsável sublinha a ligação da rainha a Portugal e ao património entregue à Fundação: «Ela esteve conivente, no bom sentido da palavra, com a decisão de D. Manuel II delegar todo este património à sua pátria bem amada».
Nascida em 1865, no exílio, em Twickenham, no Reino Unido, Amélia era neta do último rei de França, Luís Filipe I, e filha do conde de Paris. Casou com Carlos de Bragança em 1886 e tornou-se rainha de Portugal três anos depois.
Um espólio em estudo e preservação
A mostra resulta de um processo de inventário e conservação iniciado em 2024. Segundo Ana Saraiva, diretora do Museu-Biblioteca da Fundação da Casa de Bragança, «em setembro do ano passado lançámo-nos numa campanha sistemática de estudo e conservação do denominado espólio da Rainha».
O trabalho envolveu a conferência, digitalização, limpeza e conservação preventiva de mais de mil peças. «Neste universo encontramos mais de 400 desenhos assinados por Amélia», acrescenta a responsável.
A exposição não pretende reconstituir a biografia da rainha, mas propor um diálogo entre visitante e objeto. «Não se propõe contar aqui a história da vida da Rainha, mas sim suscitar o encontro entre visitante e objeto», explica Ana Saraiva.
Arte, cultura e filantropia
O percurso expositivo distribui-se por cinco salas, apresentando diferentes facetas da rainha. A primeira sala oferece uma leitura de síntese da sua memória biográfica. A segunda destaca a sua ação como criadora e mecenas, incluindo o manto régio oferecido ao Santuário de Fátima.
Segue-se um espaço dedicado à fotografia, uma das suas paixões. Outra sala mostra a dimensão íntima e social de Amélia de Bragança, enquanto mãe e filantropa.
«Foi uma mulher que teve uma vida, por um lado feliz, mas por outro lado triste, e que importa realçar como mãe, mulher e também como rainha, com a dedicação que teve às artes, à assistência social e à cultura», afirma João de Azevedo.
Vila Viçosa na memória da rainha
A exposição termina com a evocação da ligação de Amélia a Vila Viçosa, através de registos de memória oral recolhidos junto de descendentes de habitantes que com ela conviveram.
Para Ana Saraiva, esta dimensão é essencial: «Este museu não está aqui por acaso. Este museu está em Vila Viçosa e não pode ser uma ilha em Vila Viçosa».
A ligação afetiva da rainha à vila alentejana, onde passou longas estadias, é recordada em objetos, testemunhos e memórias preservadas no acervo.
Um legado vivo
Mais do que celebrar os 160 anos do nascimento de Amélia de Bragança, a Fundação da Casa de Bragança pretende estimular novos estudos sobre o espólio. «Este exercício suscitou várias questões que vale a pena interpelar. Deverá prosseguir um trabalho de inventário, catalogação e estudo aprofundado desta coleção», refere Ana Saraiva.
A exposição ficará patente no Paço Ducal de Vila Viçosa até 30 de agosto de 2026, propondo-se como um convite ao conhecimento da última rainha de Portugal e ao seu legado cultural, artístico e social.